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O que atrai investidores ao leste da Alemanha

Hardy Graupner
15 de julho de 2022

Fábricas da Tesla e da Intel são dois exemplos de grandes projetos na região, que deverá receber também a primeira fábrica de conversão de lítio da Europa.

Fred Mahro
Prefeito de Guben, Fred Mahro, aponta para onde será construída fábrica para produção de hidróxido de lítioFoto: Hardy Graupner/DW

De uma janela no segundo andar da prefeitura, o prefeito Fred Mahro tem vista para os espaços verdes no centro de Guben. A cidade do leste da Alemanha, localizada a cerca de 100 quilômetros de Berlim e perto da fronteira com a Polônia, não aparece com muita frequência nas manchetes. Mas, agora, diz Mahro, Guben representa a capacidade crescente do estado de Brandemburgo de atrair investimentos cruciais de indústrias da Alemanha e do exterior orientadas para o futuro.

A empresa teuto-canadense Rock Tech Lithium está planejando construir em Guben o primeiro conversor de lítio da Europa, o que seria um elemento fundamental para as ambições de eletromobilidade da região. Se tudo correr conforme o planejado, a empresa produziria 24 mil toneladas métricas de hidróxido de lítio ao ano – um ingrediente crucial para baterias e suficiente para equipar meio milhão de veículos elétricos com baterias de íons de lítio.

Mudança completa de foco

Como a maioria das áreas da antiga Alemanha Oriental, que esteve sob o regime comunista até 1989, Guben teve que se reinventar quase completamente após a reunificação alemã em 1990. Naquela época, a maioria de suas antigas indústrias se desfez e a população da cidade encolheu pela metade. O processo de reestruturação nunca parou, e quando os legisladores alemães decidiram em 2020 acabar completamente com a exploração de carvão, a área de mineração de linhito a céu aberto em volta de Guben ficou novamente em choque.

"Quando começou o debate sobre um possível fim da exploração de linhito na região, há cerca de cinco anos, nos reunimos na prefeitura e discutimos o que seria necessário para criar empregos alternativos", disse Fred Mahro à DW. "Ficou claro que precisávamos atrair novos negócios e que eles precisariam de locais adequados, por isso não perdemos tempo e obtivemos permissão das autoridades para construir novas plantas em nosso enorme parque industrial."

A Rock Tech Lithium está investindo cerca de 470 milhões de euros em sua futura planta em Guben. Um atrativo foi o fato de as bases já estarem preparadas. A empresa não tinha dúvidas de que queria uma localização na Europa para seu conversor, já que o continente assume a liderança em eletromobilidade e aspira aumentar sua autossuficiência em indústrias críticas.

Fábrica da Intel em Nagdeburg deve ficar pronta em 2027Foto: Intel Corporation

Isso é especialmente importante agora que a União Europeia está a caminho de proibir a venda de veículos com motor a combustão a partir de 2035. Com essas grandes mudanças chegando, a empresa teuto-canadense pode contar com uma demanda crescente por baterias para veículos elétricos nos próximos anos.

"Procuramos em toda a Europa um local de produção adequado, mas no final priorizamos Guben, pois nosso foco não é apenas produzir hidróxido de lítio, mas também a sustentabilidade", disse o CEO da empresa, Markus Brügmann, à DW. "Guben já havia se desenvolvido como um local industrial e possui uma conexão ferroviária que nos permitirá evitar o transporte com caminhões."

O elo faltante na cadeia de valores

O empresário acrescentou que a localização estado de Brandemburgo tornou-se quase obrigatória, considerando as últimas atividades industriais na área ao redor de Berlim. "Basta olhar para o que está acontecendo em Brandemburgo em termos de importância da bateria elétrica e cadeia de suprimentos. Estamos apenas fechando uma lacuna", explicou Brügmann.

"Você tem tudo aqui, desde a produção de carros elétricos até a fabricação de baterias, mas ainda não tem a produção de hidróxido de lítio, é aí que entramos. Então, estrategicamente, estamos no lugar certo em Guben com clientes em potencial por perto."

Com as negociações sobre seu investimento em Guben em andamento, a Rock Tech Lithium não quer divulgar quem podem ser seus futuros clientes. Basta dizer que Brandemburgo também abriga uma montadora da Tesla e uma grande fábrica da BASF onde serão produzidos materiais ativos de cátodo, que também são necessários para baterias de íons de lítio.

Brügmann diz que já em 2030 cerca de metade dos materiais a serem usados ​​pela sua empresa em Guben serão provenientes de baterias recicladas.

"Não há dúvida de que a grande mudança para a eletromobilidade ajudou as recentes atividades de investimento no leste da Alemanha", disse Claus Doll, gerente de projetos do Instituto Fraunhofer para Pesquisa de Sistemas e Inovação (Fraunhofer ISI), à DW. "Se a Alemanha continuasse a impulsionar a tecnologia de motores de combustão, teria sido muito mais difícil para eles garantir uma fatia maior do bolo, mas agora as estruturas tradicionais estão sendo desmanteladas à medida que novas tecnologias que não existiam antes estão avançando".

Vantagem do leste é o espaço

O que ajudou as autoridades no leste da Alemanha é que os estados predominantemente rurais e menos densamente povoados, como Brandemburgo e Saxônia-Anhalt, oferecem melhores oportunidades de investimento em áreas verdes do que as tradicionais regiões industriais no oeste e sudoeste da Alemanha.

"Uma grande vantagem que o leste da Alemanha tem é que não falta espaço para grandes projetos, um espaço que é muito mais difícil encontrar no oeste da Alemanha", disse Doll. "E há um profundo interesse em novas tecnologias e na indústria em geral. As comunidades de lá também oferecem muitos incentivos para atrair negócios e projetos, que muitas vezes são implementados mais rapidamente no leste devido a menos burocracia e uma abordagem mais prática. "

A disponibilidade de amplos espaços para novos projetos acabou sendo uma grande vantagem, seja para a enorme fábrica de carros elétricos da Tesla em Grünheide, Brandemburgo, ou para o plano da fabricante de chips Intel de construir várias fábricas de semicondutores por 17 bilhões de euros em Magdeburg, no estado de Saxônia-Anhalt .

Unidade da Tesla em Grünheide Foto: Patrick Pleul/dpa/picture alliance

"O espaço pode não ser relevante para todos os projetos, mas certamente é para os grandes, como os investimentos da Tesla e da Intel, quando estamos falando de pelo menos 100 hectares cada", concorda Robert Hermann, co-CEO da agência Germany Trade & Invest. "Essas grandes áreas disponíveis são definitivamente mais fáceis de encontrar no leste da Alemanha", disse ele à DW.

Investimentos em produção e não em pesquisa

Uma grande parte dos investimentos no leste da Alemanha tem sido destinada à produção e não tanto à inovação ou pesquisa e desenvolvimento (P&D), onde podem ser encontrados empregos com salários mais altos. "Pesquisa e desenvolvimento estão ocorrendo principalmente nos tradicionais centros ocidentais da indústria automobilística alemã", disse Claus Doll. "Mas há esperança de que os novos locais de produção no leste da Alemanha atraiam gradualmente mais grupos de pesquisa. Precisamos de uma melhor tecnologia de armazenamento para energias renováveis, e muitas pesquisas sobre isso já estão em andamento no leste do país."

A Germany Trade & Invest, responsável por comercializar a Alemanha como um local de negócios e atrair empresas, concorda que uma mudança para mais P&D no leste da Alemanha já está em andamento. "Os grandes projetos de investimento de empresas como CATL [maior produtor de baterias de íons de lítio da China] na Turíngia, Rock Tech Lithium em Brandemburgo ou Intel na Saxônia-Anhalt, todas no leste da Alemanha, sem dúvida contribuirão para atrair mais P&D e inovação para a região", argumentou Robert Hermann, do GTAI. "A Tesla, por exemplo, já anunciou que parte de sua pesquisa sobre células de bateria acontecerá em Brandemburgo e Berlim."

Dilema energético é um desmancha-prazeres?

Não importa qual empresa se instale no leste da Alemanha, ela precisará de um fornecimento constante de energia para a produção. "As energias renováveis ​​cobrem cerca de 95% das necessidades de eletricidade do leste da Alemanha, e isso é crucial para muitos investidores", disse Hermann. "Muitas vezes, isso influencia a decisão de onde investir, pois se quer produzir de forma sustentável e sinalizar essa sustentabilidade para os clientes".

Embora grande parte da eletricidade do leste da Alemanha venha de fontes renováveis, às vezes pode não ser confiável. Muitas indústrias precisam de fontes adicionais de energia, como petróleo ou gás, para operar suas instalações. A guerra da Rússia na Ucrânia e as sanções ocidentais que se seguiram mudaram tudo, com suprimentos da Rússia não mais garantidos e famílias e empresas alemãs se preparando para uma crise de energia nos meses de inverno. Isso certamente também preocupa o prefeito de Guben.

"Os investidores podem ficar com receio devido aos problemas de energia à frente", admitiu Fred Mahro. "A questão é quando seremos capazes de passar quase inteiramente sem gás. Isso é algo que não posso imaginar agora para muitas indústrias, incluindo as de Guben". O executivo-chefe está confiante de será encontrada uma solução. "Não vemos isso como o fim de nenhum investimento aqui", enfatizou Markus Brügmann.

"Esperamos que haja alternativas de outras fontes; também temos um plano para usar hidrogênio que pode eventualmente substituir o gás natural, mas no começo precisaremos de gás natural, gás natural liquefeito e estamos confiantes em garantir o quantidade de GNL que precisaremos a partir de 2024, quando a produção está programada para começar."

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