O que dizem jornais europeus antes da eleição no Brasil
6 de outubro de 2018
Publicações destacam ascensão de Bolsonaro, comparando-o a Trump e descrevendo-o como misógino, racista e homofóbico. Neste domingo está em jogo muito mais que esquerda e direita, escrevem: a democracia está em risco.
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Tagesschau (Alemanha) – O Brasil dança à beira do abismo
O populista de direita Jair Bolsonaro, o "Trump do Brasil", não é o candidato dos sonhos dos mercados financeiros. Mas eles temem ainda mais uma vitória da esquerda. Certamente não se pode descrever Bolsonaro como um filantropo, mas ele é visto como o candidato mais favorável ao mercado e é mais aclamado por economistas que Haddad. Confia-se mais nele que no adversário para implementar reformas. Os mercados globais também podem gostar da escolha de Bolsonaro.
Ele pode até ser mais favorável ao mercado, mas não é favorável à democracia: "Não aceito resultado das eleições diferente da minha eleição”, afirmou o candidato recentemente. Para ele, uma vitória de Haddad seria uma prova de que o PT fraudou as eleições. Alguns observadores já temem uma intervenção militar nesse caso.
Süddeutsche Zeitung (Alemanha) – O preso e o paciente
Nas eleições deste domingo está em jogo muito mais que esquerda e direita: se o extremista Jair Bolsonaro vencer, a democracia estará em risco.
Até agora assim foram as eleições: o homem que liderou as pesquisas por meses foi preso. Então, o homem que aparece em segundo lugar nas pesquisas foi gravemente ferido por um esfaqueador. Mas o preso e o paciente não se deixaram abater. Um deles, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escolheu um substituto e coordena cada passo a partir de sua cela. O outro, Jair Bolsonaro, prosseguiu com sua companha via Twitter a partir da UTI.
Bolsonaro recebeu apoio à sua campanha de todos os lados, indo muito além de seu habitual eleitorado radical. Seu racismo, sua homofobia e sua misoginia? Parece que os mercados não se importam com isso.
Mas também os brasileiros mais pobres, moradores das favelas, querem votar nele, porque as ali influentes igrejas evangélicas apoiam Bolsonaro. Parece que uma proibição do aborto e do casamento gay é mais importante nesse meio que um aumento do salário mínimo.
The Guardian – Medo de retorno à ditadura
A maior democracia da América Latina terá o que alguns consideram ser as mais críticas eleições de sua história neste domingo. A perspectiva de Bolsonaro – que elogiou a ditadura e classificou gays de anormais, mulheres de vagabundas, e refugiados de "a escória do mundo" – horroriza brasileiros progressistas e membros da comunidade LGBT.
Mas milhões de apoiadores de Bolsonaro, que incluem muitos cristãos evangélicos, comemoram sua ascensão impulsionada pelas redes sociais. Eles o exaltam como um cruzado anti-establishment que vai restaurar valores familiares conservadores e enfrentar a corrupção, o comunismo e o aumento da criminalidade.
El Mundo – O sprint de Jair Bolsonaro
Aceleração na reta final da campanha brasileira para o líder da ultradireita. O antigo capitão do Exército Bolsonaro saiu fortalecido das pesquisas justamente quando se pensava que sua imagem poderia sofrer mais desgaste.
No último fim de semana, as principais cidades do Brasil e várias capitais do mundo foram palco de manifestações contra ele. Organizadas por mulheres, as marcas do movimento #elenão pretendiam atacar o candidato do Partido Social Liberal (PSL) destacando suas ideias machistas, homofóbicas e racistas, mas isso não teve impacto sobre seus eleitores, muito pelo contrário. Quanto mais ataques recebe, mais ele cresce nas pesquisas, assim como aconteceu com a campanha de Donald Trump nos Estados Unidos, alertam cientistas políticos.
O PT atribui parte da freada de Haddad à chuva de fake news que inunda os celulares de brasileiros há dias. A internet é o terreno em que Bolsonaro se move mais confortavelmente, e as circunstâncias ajudaram sua campanha. Internado por quase três semanas e fora dos debates de televisão, onde todos acreditavam poder desgastá-lo, Bolsonaro se concentrou em difundir sua mensagem nas redes sociais.
La Repubblica – Por que o Trump brasileiro pode vencer
O ex-capitão Bolsonaro não é considerado um monstro. É o messias. Uma aura mística, quase fatalista, o envolve. Ele vem para salvar o grande Brasil. É o clássico homem forte de direita, populista, soberanista. É amado pelo jovens e pelos muito jovens e também por muitas mulheres. É apoiado pelos militares. É um Trump brasileiro. Diz coisas diretas, claras, as quais se quer ouvir. São soluções drásticas, mas são soluções.
Quando se fala de Lula, só se veem caretas e gestos de desprezo aqui no Rio. Mas é claro que entre a grande massa de pobres, "o chefe" ele ainda faz muito sucesso. Mas o chefe está na prisão, não participa. Está fora da corrida. Há vontade de ordem. E Jair Bolsonaro a capta, a entende e a interpreta.
Liberátion - Racista, homofóbico, misógino e pró-ditadura
O Brasil vive no domingo o primeiro turno de eleições presidenciais polarizadas como nunca, com um candidato de extrema direita, pela primeira vez, na condição de favorito: Jair Bolsonaro, um apologista da ditadura militar que seduziu grande parte do eleitorado. Um personagem que apareceu no cenário político brasileiro sem ser levado muito a sério, antes de assistirmos assustados à sua ascensão. Além de atacar negros e homossexuais, Bolsonaro multiplica há décadas declarações contra as mulheres. Analistas não descartam sua eleição em primeiro turno.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.