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O que dizem os novos documentos sobre a morte de Kennedy

27 de outubro de 2017

Arquivos sobre assassinato do ex-presidente mencionam trama para matar Fidel Castro, alerta do FBI para risco à vida de Lee Harvey Oswald e suspeitas do Kremlin de uma conspiração de "ultradireita" nos EUA.

USA JFK Dokumente - John F. Kennedy
Foto: REUTERS

O governo dos Estados Unidos divulgou milhares de documentos secretos relacionados à morte do ex-presidente John F. Kennedy nesta quinta-feira (26/10), oferecendo novos elementos sobre as circunstâncias que cercam um dos crimes mais controversos da história.

Apesar de muitos dos 2.891 registros divulgados pelo Arquivo Nacional serem material bruto e não corroborado, eles provavelmente deverão dar novo fôlego às persistentes teorias da conspiração em torno do assassinato de Kennedy em Dallas, no estado do Texas, em 22 de novembro de 1963.

Leia também:EUA mantêm sigilo de parte de arquivos sobre morte de Kennedy

Um plano audacioso da CIA para recrutar a máfia para matar o ditador cubano, Fidel Castro, o alerta do FBI à polícia texana sobre uma ameaça de morte ao assassino de Kennedy e o temor do Kremlin de que houvesse uma conspiração de "ultradireita" nos EUA são alguns dos destaques.

A coleção completa possui 3,1 mil documentos, e alguns arquivos foram retidos para revisão por motivos de segurança nacional.

Um documento datado de 1975 detalha como, nos primeiros dias da presidência de Kennedy, a CIA ofereceu 150 mil dólares ao mafioso ítalo-americano Sam Giancana para organizar o assassinato de Fidel. Em troca, Giancana pediu a ajuda da CIA para colocar um dispositivo de escuta no quarto de sua amante, uma dançarina de Las Vegas que ele pensava que estivesse tendo um caso.

Outras ideias possíveis para eliminar o líder comunista – tido como um apaixonado por mergulho – incluíam contaminar seu macacão de mergulho com bactérias causadoras de doenças ou armadilhar uma concha com uma bomba. O plano foi descartado quando se concluiu que "não havia, na área do Caribe, conchas grandes o suficiente para conter uma quantidade satisfatória de explosivos".

Outro documento incluiu a transcrição de uma conversa de 24 de novembro de 1963 com o então diretor do FBI J. Edgar Hoover, que relata que a agência federal informou a polícia texana sobre uma ameaça à vida do assassino de Kennedy, Lee Harvey Oswald, na noite anterior ao assassinato de Oswald.

Embora muitas teorias ao longo dos anos tenham mencionado laços de Oswald com agentes cubanos ou soviéticos, um memorando do FBI em 1963 indica que a morte de Kennedy gerou preocupação na então União Soviética. De acordo com uma fonte, "funcionários do Partido Comunista da URSS acreditavam que havia uma conspiração bem organizada por parte da 'ultradireita' dos EUA para executar um 'golpe'". Os soviéticos temiam que o assassinato fosse usado como pretexto para "encerrar as negociações com a União Soviética, atacar Cuba e depois espalhar a guerra".

Um outro arquivo diz que um jornal regional britânico, o Cambridge News, recebeu uma ligação anônima minutos antes de Kennedy ser assassinado. O memorando do então vice-diretor da CIA, James Angleton, diz que a pessoa que fez a ligação disse que "o repórter do Cambridge News deveria ligar para a embaixada americana em Londres por causa de um grande acontecimento e então desligou."

Um memorando da CIA, também tornado público, sugere que Oswald falou com um agente da KGB na embaixada da Rússia na Cidade do México, em 28 de setembro de 1963. Segundo o documento, ele falou com Valeriy Vladimirovich Kostikov, um conhecido espião russo que trabalhava que trabalhava num setor responsável por assassinato e sabotagem. Depois, Oswald ligou para a embaixada e perguntou, em russo, se havia "algo de novo sobre o telegrama para Washington".

A Comissão Warren, que investigou o assassinato do carismático ex-presidente, de 46 anos, determinou que Oswald, um ex-fuzileiro naval, agiu sozinho.

Trump não liberou tudo

Os arquivos liberados nesta quinta-feira são amplos em número e também em assuntos, abrangendo desde memorandos de diretores do FBI até entrevistas com pessoas de Dallas que procuraram a polícia para relatar o que testemunharam naquele dia único na história americana.

Ex-fuzileiro da Marinha Lee Harvey Oswald entre dois policiais de Dallas, em 22 de novembro de 1963 Foto: Reuters/Dallas Police Department/Dallas Municipal Archives/University of North Texas

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que concordou em reter alguns documentos para uma revisão mais aprofundada devido à resistência das agências de inteligência. "Não tenho escolha – hoje – senão aceitar essas revisões em vez de permitir um dano potencialmente irreversível à segurança da nossa nação", disse. Trump deu às agências seis meses – até 26 de abril de 2018 – para argumentar por que os documentos restantes não devem ser divulgados.

A CIA e o FBI podem estar bloqueando a liberação de certos documentos para acobertar seus próprios erros, argumentou Larry Sabato, professor de política na Universidade da Virgínia e autor do livro The Kennedy Half Century. "Eles tinham todas as indicações de que Oswald era um desajustado e um sociopata", afirmou. Mas nenhuma das agências informou o Serviço Secreto, encarregado da proteção do presidente.

Oswald desertou para a União Soviética em 1959, mas retornou aos estados Unidos em 1962. Dois dias depois de matar Kennedy, ele foi morto por um dono de boate, Jack Ruby, quando estava sendo transferido da prisão municipal de Dallas.

Os 2.891 documentos aprovados para a divulgação, em conformidade com um ato do Congresso americano de 1992, estão no site do Arquivo Nacional (National Archives), em forma completa e sem edições.

PV/efe/afp/ap

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