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PolíticaIndonésia

O que está em jogo na cúpula do G20 em Bali

Ashutosh Pandey
14 de novembro de 2022

Encontro anual ocorre sob o signo da guerra na Ucrânia e em meio ao aumento das tensões entre Ocidente e Rússia e China. Putin e Bolsonaro devem ficar de fora da reunião na Indonésia.

Logomarca do encontro do G20 com as bandeiras dos países
Encontro anual do G20 ocorre em Bali, na IndonésiaFoto: Willy Kurniawan/REUTERS

Líderes estão chegando à ilha indonésia de Bali nesta semana para a reunião anual das nações do chamado Grupo dos 20 (G20), que reúne as 19 principais economias do mundo e a União Europeia (UE).

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, estão entre os 17 líderes estatais que deverão participar da cúpula, entre 15 e 16 de novembro. Uma ausência notável é a do presidente russo, Vladimir Putin.

A delegação brasileira na Indonésia será chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, informou o Itamaraty. A comitiva também inclui o secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos e dois servidores da Coordenação-Geral de G20, ligada ao ministério. Não foi informado se o presidente Jair Bolsonaro participará da cúpula.

Encontro sob o signo da guerra

Tendo como pano de fundo a guerra na Ucrânia e as subsequentes sanções ocidentais à Rússia, que não apenas alimentaram os temores de uma recessão global, mas também aprofundaram as divisões existentes entre membros do G20, as expectativas em relação à cúpula são tímidas.

"O verdadeiro desafio deste G20 não é tanto um resultado particular ou um acordo sobre qualquer questão, porque eu não acho que eles chegarão a qualquer consenso como G20, mas se o grupo pode continuar funcionando", afirma Josh Lipsky, diretor sênior do Centro de Geoeconomia do Atlantic Council.

O G20 foi fundado em 1999 como um grupo de ministros das Finanças. Durante a crise financeira de 2008/2009 se transformou num grupo de líderes estatais para lidar com crises econômicas e desacelerações econômicas. Neste ano, seu membros enfrentaram dificuldades na busca de consensos sobre questões prementes, como a recuperação pós-pandemia e a atual crise energética e alimentar, em meio a profundas fissuras envolvendo a guerra na Ucrânia e as sanções impostas contra a Rússia.

"Se o grupo não pode se unir e funcionar neste momento de dificuldades econômicas reais para as economias avançadas, mercados emergentes e países de baixa renda, então isso coloca fundamentalmente sua eficácia em questão", diz Lipsky. "Esse é o desafio para o G20: provar que ainda é adequado ao propósito dessas reuniões."

Ausência de Putin

Mesmo com a sombra de Putin pairando sobre a reunião deste ano, o presidente russo anunciou que não participará pessoalmente do encontro. Em agosto, após visitar Moscou, o presidente indonésio Joko Widodo, no momento presidente do G20, havia confirmado que o líder russo estaria presente.

Especialistas em relações internacionais acreditavam que Putin usaria a cúpula para mostrar ao seu eleitorado doméstico que ele continua sendo um líder forte, para criar uma barreira entre os apoiadores ocidentais da Ucrânia e mostrar que ele não está isolado internacionalmente.

Alguns analistas dizem agora que Putin não quer se sentar à mesa de reuniões para receber lições de outros líderes mundiais, algo que ele teve que suportar nas cúpulas do G20 em 2014 e 2015, após a anexação da Crimeia pela Rússia.

"Putin provavelmente ficou constrangido pela recente declaração de Xi e do [chanceler federal alemão Olaf] Scholz sobre o uso de armas nucleares. Sem o apoio de Xi, ele não terá outra nação defendendo sua posição", diz James Carouso, conselheiro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA. "Além disso, ele seria alvo de críticas por destruir a infraestrutura civil da Ucrânia, o que é um crime de guerra."

A ausência de Putin poupa a cúpula de um grande desvio de atenção e a ajuda a se concentrar em questões econômicas.

"Eu sei que Jokowi [o presidente indonésio] realmente queria que todos os líderes participassem. Mas, dada a situação, este é um resultado melhor para ele, porque a reunião pode funcionar melhor sem Putin do que com ele presente", avalia Lipsky.

Encontro entre Biden e Xi

Com Putin ausente, o primeiro encontro cara a cara do presidente dos EUA, Joe Biden, com Xi Jinping, da China, ocorrido nesta segunda-feira (14/11), à margem da cúpula do G20, está entre os principais destaques do encontro de Bali, em meio a tensões crescentes por causa de Taiwan e questões comerciais entre as duas principais economias do mundo.

"Reabrir esse canal de comunicação direto frente a frente é realmente importante", observou Lipsky.

O encontro foi marcado por discordância sobre pretensões chinesas sobre Taiwan. Xi disse a Biden que a ilha autogovernada é "a primeira linha vermelha que não pode ser atravessada nas relações China-EUA". O democrata americano rebateu que se opõe a qualquer mudança no país insular, indicando repetidamente que Washington está pronto a defendê-la por meios militares.

Quanto à invasão russa da Ucrânia, Xi e Biden "reiteraram seu consenso de que uma guerra nuclear não deve ser nunca travada, e não tem como se ganhar, e frisaram sua oposição ao uso ou ameaça de uso de armas nucleares na Ucrânia", informou o comunicado da Presidência americana.

Comunicado final fraco?

A Indonésia teve uma presidência nada invejável do G20 após a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando se formaram subgrupos entre o Grupo dos 20: de um lado, o do G7 mais Austrália e Coreia do Sul, que apoiou a Ucrânia; do outro, o de países não alinhados, como Índia e África do Sul, que adotou uma postura relativamente neutra entre o Ocidente, a Rússia e a China.

Jacarta tem enfrentado dificuldades para conseguir que o grupo produza um comunicado formal sobre as questões prioritárias de sua presidência, como transição energética e clima, por causa das "diferenças entre os países". Até mesmo conseguir que os membros concordem em questões como segurança alimentar e energética tem sido um desafio.

"Quando a terra treme sob seus pés e você consegue ficar no mesmo lugar, isso é uma grande conquista", diz à DW Manjeet Kripalani, diretor executivo do think tank Gateway House, com sede em Mumbai. "Talvez o G20 não tenha visto muito progresso, mas já é uma conquista [de parte da Indonésia] poder se manter firme nas atuais circunstâncias geopolíticas."

Neste momento, encontrar aspectos comuns para um comunicado conjunto está se mostrando ardiloso.

"É difícil prever como serão as negociações, mas é muito provável que tópicos delicados sejam abordados", disseram fontes do governo alemão. "Não é apenas a situação geopolítica que está dificultando as coisas, mas também em termos de segurança alimentar e preços de energia existem diferentes avaliações sobre a causa da crise e como tudo deve ser formulado."

O que indica o sucesso de uma cúpula?

No entanto, Shinta Kamdani, presidente do Business 20 – o fórum de diálogo empresarial do G20 – adverte que não se deve julgar o sucesso da cúpula por ela ter um comunicado final unificado ou não. Isso prejudicaria o rico intercâmbio que vem ocorrendo sobre saúde, energia, crise da dívida e outras questões durante reuniões bilaterais e eventos paralelos, afirma.

"O que precisamos ver não é se há ou não uma declaração final, mas quais questões foram acordadas por todos os países. Precisamos reconhecer que esse processo aconteceu", diz o empresário indonésio à DW.

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