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O que está em jogo nas eleições de meio mandato nos EUA

7 de novembro de 2022

Eleitores americanos decidirão quais partidos vão controlar a Câmara e o Senado. Temas como aborto e economia terão forte influência sobre as decisões, mas esta votação tem alcance muito mais amplo.

Americano usando chapéu de cowboy vota em local de votacão em ambiente rural
Americanos vão às urnas em meio a abismo entre liberais e conservadores nos EUAFoto: Mario Tama/Getty Images

Em 2014, o comparecimento às urnas nas eleições legislativas de meio mandato dos Estados Unidos atingiu baixa recorde: menos de 42% dos aptos a participar compareceram. A votação ocorre no período intermediário entre as eleições presidenciais, sendo escolhidos os novos membros de toda a Câmara dos Representantes, um terço das cadeiras do Senado e vários governos estaduais.

Há quatro anos, durante a presidência de Donald Trump, o comparecimento nas assim chamadas midterms aumentou para 53,4%, segundo o Censo americano.

Brandon Conradis, editor do portal de notícias políticas The Hill e ex-redator da DW, acredita que, assim como em 2018, muitos eleitores comparecerão às urnas pela primeira vez nestas eleições de 8 de novembro.

"Vemos através dos dados da votação antecipada que o comparecimento será significativamente maior do que costuma ser numa eleição de meio de mandato. Acho que é um indicador das preocupações sobre onde o país se encontra neste momento."

País dividido ao meio

Os Estados Unidos de 2022 são um país altamente polarizado. As reações à derrubada de Roe v. Wade pela Suprema Corte – a decisão histórica de 1973 que garantia o direito constitucional ao aborto em todo o país – foi um sinal claro do abismo que separa a esquerda e a direita.

Os liberais ficaram horrorizados com o que viam como um direito fundamental sendo-lhes arrancado. Os conservadores se sentiram fortalecidos e comemoraram a decisão como uma grande vitória.

Essa forte polarização poderá ser o motor do comparecimento às urnas, uma vez que ambos os lados estão ansiosos para evitar que o outro avance sequer uma polegada (ou assento no Congresso) na corrida pelo poder.

Os eleitores democratas nos estados onde as posições de liderança serão eleitas este ano querem assegurar que não seja um governador republicano a decidir se as mulheres podem ou não ter acesso ao aborto legal.

Já os republicanos, com medo de uma recessão, culpam o presidente Joe Biden pelos atuais problemas econômicos e esperam que os políticos conservadores provoquem alguma mudança.

"Inflação, questões econômicas e crimes são [fatores] realmente importantes agora para os eleitores conservadores, para os republicanos. São temas fundamentais, que são objeto de discussão para seus candidatos", afirmou à DW Laura Merrifield Wilson, professora adjunta de ciência política da Universidade de Indianápolis. "Para os democratas, o aborto toma a maior parte do ar e do oxigênio na sala."

Wilson acrescenta que os eleitores democratas também se preocupam que, após a derrubada de Roe v. Wade, a Suprema Corte possa avançar sobre outras questões sociais e possivelmente restringir de maneira semelhante os direitos dos homossexuais.

Decisão da suprema corte de reverter direito constitucional ao aborto foi sinal claro do abismo que separa esquerda e direita nos EUAFoto: Caitlin Ochs/REUTERS

Trumpistas com forte presença entre republicanos

Se os democratas perderem o controle sobre uma ou ambas as casas do Congresso, isso tornará a segunda metade do mandato de Biden bem mais complicada do que a primeira. Aprovar legislações sem maioria no Congresso será bem mais difícil.

Mas há uma questão além do habitual "quem conquistará a Câmara e/ou o Senado?" que faz torna a presente eleição diferente de "qualquer uma das velhas", como afirma Wilson: vários candidatos republicanos a posições que vão de líderes estaduais a representantes no Congresso apoiam abertamente a alegação de Donald Trump (agora rigorosamente refutada) de que a eleição de 2020 teria sido "roubada", e que ele teria ganho se os resultados não tivessem sido fraudados.

Uma dessas negacionistas da eleição é Kari Lake, uma eloquente apoiadora de Trump, que concorre ao governo do estado do Arizona. "Infelizmente, tivemos uma eleição roubada, e temos atualmente um presidente ilegítimo sentado na Casa Branca", disse à emissora pública PBS durante a campanha das primárias republicanas, em junho de 2022.

Kari Lake, candidata republicana ao governo do Arizona, não reconhece vitória de Biden sobre Trump em 2020Foto: Mario Tama/Getty Images/AFP

O candidato republicano a secretário de Estado do Arizona, Mark Finchem, afirmou que não certificaria a vitória de Biden no estado, onde o democrata ganhou por pouco de Trump, o que foi confirmado mais tarde na recontagem dos votos.

No sistema eleitoral americano, são principalmente os governos estaduais os responsáveis por organizar o processo de apuração e certificação dos resultados das eleições,

Impacto na eleição presidencial de 2024

A newsletter apartidária de política The Cook Political Report, com Amy Walter, que analisa as eleições nos EUA, classificou a corrida para o governo do Arizona como um "cara ou coroa", pouco antes da votação.

"[Lake] pode muito bem sair vencedora, e isso poderá ter impacto real nas eleições de 2024", afirmou Jessica Taylor, editora para o Senado e os governos estaduais do The Cook Political Report.

"Se, como esperamos, o ex-presidente Trump tentar se eleger novamente, e se tiver amigos em alguns dos swing states [estados que definem eleições] que estejam propensos a reverter os resultados ou trabalhar para que a legislatura estadual o faça, as coisas podem terminar de modo diferente do que em 2020."

Vários candidatos que não reconhecem como legítimo o atual governo americano estão concorrendo a posições de liderança. Conradis acredita que este é um fator contribui para a apreensão em torno da votação. Ele também ressalta que o país nunca teve tantos candidatos negando abertamente que o que o atual ocupante da Casa Branca tenha chegado lá de modo justo e limpo.

"A sensação é de um momento sem precedentes na história americana", conclui o editor do The Hill.

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