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FilmeCoreia do Sul

O que faz da Coreia do Sul uma potência do cinema

Philipp Jedicke
12 de fevereiro de 2023

Desde a virada do milênio, tigre asiático se destaca na esfera cinematográfica, atraindo até mesmo as gigantes do streaming. Uso inovador e altamente criativo de narrativa, câmera e edição são alguns dos pontos-chave.

Mulher de vestido passa por um tapete vermelho. Muitas pessoas sentadas observam
No Festival de Cinema de Busan de 2019, 27% dos filmes coreanos foram dirigidos por mulheresFoto: Zuma Wire/IMAGO

Antes da virada do milênio, não era possível prever que a Coreia do Sul um dia se tornaria uma nação cultural influente. Depois de décadas como colônia japonesa, da Guerra da Coreia e de sucessivos governos militares, as verdadeiras reformas democráticas só aconteceram em 1987.

Desde então, a antiga "Terra da Calma Matinal", tornou-se um importante protagonista econômico, com marcas de âmbito global como Samsung, Hyundai e LG crescendo na velocidade da luz.

Até alguns anos atrás, no entanto, o Ocidente não associava culturalmente à Coreia do Sul a muito mais do que K-Popna música, taekwondo nas artes marciais e kimchi na culinária.

Para os fãs do cinema, era um pouco diferente: desde a virada do milênio, produções como a "trilogia da vingança" de Park Chan-wook (Mr. Vingança, Oldboy, Lady Vingança), e Primavera, verão, outono, inverno... e primavera, de Kim Ki-duk, tiveram grande repercussão.

Nesse ínterim, os filmes e séries coreanos se tornaram parte integrante da indústria global de entretenimento. O Festival de Busan é considerado o principal do cinema asiático. E, com 1,7 bilhão de dólares em receita, a Coreia do Sul é o quinto maior mercado de cinema mundial.

O entretenimento coreano é consumido dos Estados Unidos à África –  passando, claro, pelo Brasil. Há conteúdos para todos os gostos: do terror à ação, do drama à comédia românticas.

A Hallyu, como se chama a onda sul-coreana na cultura pop, varreu o mundo. Em referência à americana Hollywood, a indiana Bollywood e a nigeriana Nollywood, a indústria cinematográfica da Coreia do Sul já é apelidada de Hallyuwood.

Entre sonho e realidade: o estilo do filme "Oldboy" (2003)Foto: Mary Evans/IMAGO

Rompendo fronteiras cinematográficas

E a tendência é crescente: os principais estúdios dos EUA abriram sucursais no país asiático para coproduzir filmes coreanos. Além disso, as sequências americanas de filmes coreanos são populares, e os gigantes do streaming Netflix e Disney+ também competem pelo domínio desse mercado emergente.

A Netflix quer dar continuidade ao grande sucesso mundial Round 6 ainda em 2023, e está cada vez mais interessada em filmes e séries sul-coreanas. A produção da Netflix Kill Boksoon e outros filmes da Coreia do Sul também estrearão na Berlinale 2023 . E nos cinemas europeus, o mais recente trabalho do diretor sul-coreano Park Chan-wook, Decisão de partir, está causando furor.

"Parasita" venceu o Oscar 2019Foto: Yonhap/picture alliance

Claro, nem todas as produções da Coreia do Sul são "grande cinema". Elas também podem ser desinteressantes ou completamente superficiais, mas há uma linha em comum: o uso inovador e altamente criativo de narrativa, câmera e edição.

Apesar do sucesso comercial de suas obras, os diretores nacionais parecem pouco dispostos a concessões em seus padrões artísticos. Pensar fora da caixa parece ser a regra, não a exceção. Imagens como a da personagem Oh Dae-su, de Oldboy, comendo um polvo vivo ou atacando seus oponentes com um martelo, no estilo da estética dos videogames, são inusitadas e ficam gravadas na memória.

Relação com a história coreana recente

A vontade transgressora e o poder criativo do cinema coreano certamente também têm relação com a história recente do país.

Muitos dos grandes mestres do cinema coreano cresceram durante o período de resistência civil ao governo militar. Eles assistiram e discutiram secretamente filmes proibidos em seus cineclubes universitários. A separação em relação à Coreia do Norte, ainda sob regime ditatorial, e o rápido triunfo do turbocapitalismo também contribuíram para sua visão crítica do mundo. As maquinações das grandes corporações, o fosso crescente entre ricos e pobres: tudo isso dá muito material para os cineastas.

E a Coreia do Sul é um país onde importa ser moderno e inovador: cenas culturais criativas e cosmopolitas estão prosperando não apenas na capital, Seul, mas em todas as metrópoles. Quem quer se destacar artisticamente, precisa criar algo realmente especial.

Série "Round 6", da Netflix, alcançou sucesso mundialFoto: Yonhap/picture alliance

Poucas mulheres

O Estado também contribui com uma alta contribuição para a produção nacional. Quem já esteve na Coreia do Sul sabe que o cinema não é celebrado apenas em privado, mas também publicamente: uma rotatória no centro da cidade de Jeonju, conhecida por seu festival internacional de cinema, é adornada pela estátua de um cinegrafista – e isso durante todo o ano, não apenas na época dos festivais.

Os próximos anos mostrarão como a indústria cinematográfica da Coreia do Sul se desenvolverá. Uma de suas maiores fraquezas é ainda ser muito dominada por homens. Nos últimos anos, houve apenas pequenos avanços: no Festival de Cinema de Busan de 2019, 27% dos filmes coreanos foram dirigidos por mulheres – um salto quântico em comparação aos anos anteriores. Mas, em termos de emancipação, a indústria cinematográfica nacional ainda tem muito a fazer, para o país conseguir acompanhar a concorrência ocidental.

Agora que os filmes e séries coreanos se tornaram badalados e parte do mainstream, Hallyuwood pode enfrentar o mesmo destino de seus predecessores: estagnação criativa ou crises financeiras. Mas assim como Hollywood está constantemente se renovando, o cinema sul-coreano com sua jovem mas forte tradição cinematográfica também conseguirá se manter relevante no futuro. Afinal, não faltam histórias da "Terra da Calma Matinal" para contar.        

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