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Adeus à euforia do mercado da maconha na América do Norte?

Sabrina Kessler ca
17 de dezembro de 2019

Balancetes desanimadores, queda das ações, investidores decepcionados: em meio a leis restritivas, pressão sobre o mercado de cânabis faz muitos duvidarem do futuro norte-americano dos negócios com a erva.

Homem fuma por trás de nuvem de fumaça
Mercado de cannabis levará algum tempo para se recuperar, prevê analistaFoto: picture-alliance/AP Images/R. Vogel

Nos últimos anos, quem aplicou seu dinheiro em ações de empresas norte-americanas que produzem ou comercializem maconha sentiu-se muitas vezes como um caçador de ouro. Os lucros de alguns depósitos cresceram vários milhares por cento, sobretudo para quem investiu cedo. Por exemplo, quem, em 2013, comprou cerca de mil dólares canadenses em ações da então relativamente desconhecida produtora de marijuana Canopy Growth, estaria hoje 2,2 milhões de dólares mais rico, pois o título aumentou 290.000% nestes seis anos.

Muitos especialistas tinham certeza de estar diante de algo gigantesco. Animados pela onda da maconha, alguns avaliavam em 200 bilhões de dólares o valor desse mercado, nos dez anos seguintes. As vendas de produtos de cânabis deveriam ultrapassar a receita com refrigerantes, predisse a empresa de investimentos americana Cowen – isso, embora até hoje a erva esteja proibida em muitos lugares.

No entanto pouco restou do antigo boom. A bolha da maconha estourou e fez muito barulho, perdendo pelo menos 35 bilhões de dólares em valor desde março último. A produtora canadense Aurora Cannabis foi duramente atingida, suas ações caíram 60% nos últimos meses. Pouco resta da euforia de 2018, quando algumas ações cresceram 400% em apenas um mês.

E depois dos meses magros, vem a sangria: os balancetes trimestrais publicados recentemente ilustram quanto o mercado da cânabis está sob pressão. A Canopy Growth, maior produtora mundial da erva, por exemplo, ficou mais uma vez abaixo das expectativas, analistas de Wall Street consideram "perturbadoras" suas perdas de quase 375 milhões de dólares.

Os números das concorrentes são um pouco melhores, mas não muito mais otimistas: a Tilray e a MedMen perderam nos últimos três meses 50 milhões e 25 milhões de dólares, respectivamente. A MedMen teve que demitir um quinto de seus funcionários. "O último capital do setor foi definido pelo crescimento a todo custo", disse seu presidente, Adam Bierman, à agência de notícias Bloomberg. "Agora estamos deixando esse capital, e a transição é brutal e rápida."

Acima de tudo, a euforia dos fãs de cânabis está sendo ofuscada por problemas de licenciamento. Como a maconha ainda é comercializada principalmente como droga ilegal, seu potencial permanece limitado. Apenas um quinto de todos os estados americanos, por exemplo, permite que ela seja consumida de forma recreativa, para além de fins medicinais.

Os maiores obstáculos partem da Costa Leste dos Estados Unidos, incluindo Nova York, Nova Jersey e Connecticut, onde as leis pelo uso não medicinal legal da maconha até agora têm sido rejeitadas, e especialistas do setor não acreditam que isso vá mudar em breve.

Maconha produzida industrialmente no CanadáFoto: DW/N. Martin

Estoques ociosos, preços altos e mercado negro

"Uma nuvem paira sobre todo o setor", diz Keith Stroup, que conhece muito bem o mercado. Ele fundou em 1970 a Organização Nacional para a Reforma das Leis da Marijuana (NORML), associação sem fins lucrativos que faz campanhas pelo uso legal da cânabis.

Ninguém sabe realmente se e quando o Judiciário dos EUA se ocupará dos estados individuais e de suas leis, comentou Stroup à emissora CNN, em 2018. Segundo o advogado, "só quando 20 estados legalizarem integralmente o uso da maconha, teremos poder suficiente para convencer o governo".

Os analistas também estão preocupados com os grandes estoques ociosos. O mercado de marijuana já está completamente saturado, especialmente nos Estados Unidos, mas também no Canadá, onde a erva está disponível legalmente em todo o país desde meados de 2018.

Contudo, apenas 10% da cânabis produzida foi vendida até agora, informa o governo canadense. Quase 400 toneladas do produto se encontram armazenadas sem utilização. E a situação nos Estados Unidos é ainda mais dramática: atualmente, apenas o estado de Oregon, no oeste, está estocando 450 toneladas.

As más vendas da maconha também se devem às enormes taxas. Alguns estados cobram até 45% de impostos sobre a venda legal do produto. Muitos não podem e não querem pagar o alto preço, preferindo comprar no mercado negro.

"Por que alguém gastaria 20 dólares em maconha, quando se pode comprar a mesma quantidade por dois dólares?", argumenta Alan Valdes, sócio da Silverbear Capital. Após investir no mercado da marijuana, oito anos atrás, ele tem participação em algumas empresas do setor, mas acredita que o mercado só ganhará impulso quando os impostos diminuírem e a legalização avançar.

Refrigerante de marijuana: empresas procuram diversificar para enfrentar crise do mercadoFoto: picture-alliance/NurPhoto/B.Zwarzel

Trabalho de lobby

Os produtores de maconha querem acelerar o processo de legalização. Os lobistas gastaram quase 4 milhões de dólares, apenas nos primeiros nove meses de 2019, para tentar ganhar o apoio do governo americano para o produto no sentido de cortar impostos. "Investimos muitos recursos para levar o Congresso a fazer mudanças significativas durante esta legislatura", disse ao jornal Financial Times Steve Fox, um dos maiores paladinos da maconha e consultor estratégico da Cannabis Trade Federation.

Um primeiro êxito parcial veio em setembro, com a aprovação da Lei Bancária de Execução Segura e Justa (SAFE) pela Câmara dos Representantes dos EUA, com grande maioria. Agora os bancos, que corriam o risco de ser processados por fazer negócios com empresas de marijuana, não precisam mais ter medo de represálias. Esse afrouxamento elevou momentaneamente os preços das ações dos fornecedores da erva. Poucos dias depois, porém, o valor de muitos títulos voltou a despencar.

O setor quer agora diversificar para sobreviver, principalmente a Canopy Growth, a mais valiosa de todos os conglomerados de cânabis. Junto com o rapper canadense Drake, ela pretende montar uma "empresa de wellness", destinada a fabricar principalmente produtos para o consumo de maconha.

Além disso, numa antiga fábrica da produtora de chocolates Hershey's serão produzidas guloseimas de maconha, estando também planejadas bebidas com cânabis. A canadense Canopy Growth tem uma vantagem decisiva: um de seus principais acionistas é a Constellation Brands, maior fornecedora de bebidas alcoólicas dos EUA e maior produtora de vinhos do mundo. Seu diretor financeiro, David Klein, será o novo diretor-executivo da Canopy Growth em 2020.

O investidor Valdes acredita que serão necessários alguns meses até o mercado crescer novamente, e prevê bons tempos após a eleição presidencial americana, 2020 – desde que Donald Trump se reeleja. Segundo Valdes, o atual presidente tem se mantido na retaguarda por a maconha ser uma questão delicada, mas "Trump é um homem de negócios, se ele puder arrecadar impostos com a maconha, vai arrecadar".

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