Parcela de brasileiros com mais de 70 anos aptos a votar cresceu 24% em relação a 2018 e representa hoje quase um décimo do eleitorado. A DW ouviu idosos sobre suas motivações.
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De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 14,9 milhões de eleitores com mais de 70 anos de idade estão aptos a votar nas eleições de 2022. O número representa um crescimento de quase 24% em relação a 2018, quando eram cerca de 12 milhões.
Apesar de o voto acima dos 70 anos ser facultativo, este grupo representa 9,52% do total de cerca de 156,5 milhões de eleitores.
Como fator fator que impulsionou o maior envolvimento de idosos no processo eleitoral deste ano, o TSE aponta a campanha "Todo voto importa", lançada em junho pelo tribunal com o objetivo de despertar o compromisso com a democracia entre eleitores que já não são mais obrigados a ir às urnas.
Outro fator que pode ter contribuído para uma maior participação de idosos nas eleições é o fato de, a partir deste ano, a votação servir como prova de vida para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para que aposentados continuem recebendo o benefício.
"Não quero deixar que os outros decidam por mim"
A DW ouviu três idosos acima dos 70 anos sobre o que os motivou a ir às urnas neste ano. Todos dizem que se sentem respeitados ao exercer o direito ao voto.
"Enquanto a gente tem saúde e condições, acho que temos que ir votar sim. Para mim, é um dia de festa. Hoje em dia vou com meu filho, mas nunca deixei de votar desde os meus 18 ano", diz Gilvanete Barreto, de 84 anos. Para votar, ela tem de se deslocar com familiares do Recife, onde vive, para Olinda, seu município eleitoral.
Para Inês de Sousa, de 80 anos, cada voto faz diferença. "Eu tenho meus candidatos, gente que me representa e que eu quero que sejam eleitos, então quero fazer a minha parte", afirma a eleitora de Teresina, no Piauí.
Ela confirmou presença no segundo turno e diz que já decidiu em quem votará para presidente. "Eu recebo vídeos de candidatos e peço para minha filha abrir. Tenho prazer em acompanhar meus candidatos pela televisão e quero respeito nas minhas escolhas políticas."
Morador do pequeno município de Mae D'água, no interior da Paraíba, Luiz Gonzaga Firmino, de 70 anos, também afirma fazer questão de exercer o direito ao voto. "Não quero deixar que os outros usem a minha cidadania e decidam quem será meu governante ou algoz por mim."
A história das eleições presidenciais no Brasil
A história das eleições presidenciais no Brasil
Foto: Adriano Machado/REUTERS/Nelson Almeida/AFP
1989: a primeira eleição direta da redemocratização
Os brasileiros voltaram a escolher diretamente um presidente depois de 27 anos. Um total de 22 candidatos se apresentou – até hoje um recorde. O pleito foi marcado por debates na TV e acusações de manipulação jornalística. Fernando Collor, filiado a um partido nanico, largou na frente ao se apresentar como “caçador de marajás”. No final, Collor derrotou o líder sindical Lula (PT) no 2° turno.
Foto: Radiobras/Roosewelt Pinheiro
1994: o início da era tucana
No início de 94, o pleito tinha um favorito: Lula. No entanto, alguns meses antes da eleição foi lançado o Plano Real, bem-sucedido em conter a inflação. A popularidade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos autores do plano, disparou. Lula, que havia criticado o real, afundou nas pesquisas. FHC acabou vencendo a eleição ainda no 1° turno. Era o início de oito anos de hegemonia do PSDB.
Foto: Acervo FHC
1998: a reeleição entra em cena
Em 1997, foi aprovada a emenda da reeleição– com denúncias de compra de votos –, abrindo caminho para FHC disputar mais um mandato. Mais uma vez seu adversário foi Lula, que indicou Leonel Brizola, seu antigo rival na esquerda, como vice. Durante a campanha, o governo omitiu que o real estava sobrevalorizado. FHC foi eleito no 1° turno. Depois da posse, o real sofreu uma desvalorização recorde.
Foto: Acervo FHC/Secretaria de Imprensa
2002: o início da hegemonia petista
Lula chegou à eleição com uma nova imagem: se comprometeu a apoiar o plano real, nomeou um empresário como vice e recorreu a marqueteiros. A estratégia para acalmar o mercado deu certo. Ciro Gomes chegou a despontar em segundo lugar, mas afundou após uma série de declarações que repercutiram mal. No final, Lula derrotou o candidato do governo FHC, José Serra, no segundo turno, com 61% dos votos.
Foto: Agência Brasil/M. Casal Jr.
2006: escândalos não impedem reeleição de Lula
Lula se candidatou novamente após a eclosão do escândalo do Mensalão. Parecia destinado a vencer no 1° turno, mas a prisão de assessores do PT na reta final abalou sua campanha. No 2° turno, os petistas contra-atacaram. Rotularam o tucano Geraldo Alckmin de privatista e de ser contra o Bolsa Família. Alckmin acabou recebendo menos votos no 2° turno do que na primeira rodada, e Lula foi reeleito.
Foto: Instituto Lula/R. Stuckert
2010: a primeira presidente mulher
Com alto índice de popularidade, Lula apresentou Dilma Rousseff como candidata à sucessão. Os tucanos voltaram a lançar José Serra, e a ex-ministra Marina Silva disputou pela primeira vez. A campanha de Serra tentou encurralar Dilma ao acusá-la de ser favorável ao aborto. No final, pesou a popularidade de Lula, e a petista ganhou no 2° turno, se tornando a primeira mulher a chegar à Presidência.
Foto: Agência Brasil/W. Dias
2014: a campanha mais cara e acirrada
Nova polarização entre PSDB e PT: Dilma disputou um novo mandato com Aécio Neves. Após a morte de Eduardo Campos (PSB), Marina Silva entrou na corrida, mas desabou nas pesquisas após ataques do PT. Dilma foi reeleita com apenas 3,28 pontos percentuais a mais que Aécio no 2° turno. A petista e o tucano gastaram R$ 570 milhões - com muitas doações de empresas acusadas de corrupção na Lava Jato.
Foto: Reuters/R. Moraes
2018: polarização entre PT e Bolsonaro
Após uma campanha que acirrou ânimos e dividiu o país, Jair Bolsonaro (PSL) foi eleito com 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). A vitória do ex-capitão defensor do regime militar marcou a volta da extrema direita brasileira ao poder e representou um fracasso para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesse pleito estava preso por corrupção e impedido de se candidatar.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
2022: inédita disputa entre presidente e ex-presidente
Os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas são o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recuperou os direitos políticos. Bolsonaro ampliou benefícios sociais às vésperas da campanha e vem questionando o sistema eleitoral. Já Lula busca aliança ampla contra extrema direita e capitalizar sua experiência anterior no governo.