Nova versão da base nacional curricular, que deverá ser referência em escolas públicas e privadas do país, antecipa alfabetização em um ano. Medidas serão implementadas até 2019. Entenda.
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O Ministério da Educação apresentou nesta quinta-feira (06/04) a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma referência para o que deve ser ensinado nas escolas públicas e privadas do país. A nova versão prevê que todos os alunos sejam alfabetizados até o 2º ano do ensino fundamental – mais cedo do que a meta atual, que era até o 3º ano.
"Estamos alinhando o Brasil a outros países e ao próprio setor privado do país. Não queremos que a criança da escola pública não tenha o mesmo direito hoje da criança que está na escola privada", afirma Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do Ministério da Educação, que presidiu o comitê responsável pela finalização da base.
Quais são as principais mudanças?
As crianças de todo o país deverão ter acesso desde cedo a conteúdos de português e matemática. Até o 2º ano do ensino fundamental, geralmente aos sete anos de idade, os estudantes deverão ser capazes de ler e escrever. Além disso, aprenderão conteúdos de estatística e probabilidade desde o 1º ano do ensino fundamental.
O que se espera do ensino infantil?
A BNCC estabelece que na educação infantil, que vai até os cinco anos de idade, seja desenvolvida a "oralidade e escrita". O conteúdo começa a ser introduzido aos poucos. Até um ano e seis meses, as creches deverão garantir, por exemplo, que as crianças reconheçam quando são chamadas pelo nome ou demonstrem interesse ao ouvir a leitura de poemas e a apresentação de músicas.
E no ensino fundamental?
No 2º ano do ensino fundamental, quando a criança tem sete anos, as escolas deverão garantir que os estudantes saibam escrever bilhetes e cartas, nos meios impresso e digital – mensagens por e-mail e em redes sociais. Elas deverão ler, com autonomia e fluência, textos curtos, com nível adequado, silenciosamente e em voz alta.
A matemática também deverá estar presente na formação desde cedo. A partir dos seis anos, no 1º ano do ensino fundamental, os estudantes deverão ter acesso a conteúdos de probabilidade e estatística. Até o segundo ano, saberão, por exemplo, coletar, classificar e representar dados em tabelas simples e em gráficos de colunas, além de classificar eventos cotidianos como pouco ou muito prováveis, improváveis e impossíveis.
Como se dará a implementação?
A expectativa do Ministério da Educação é que a BNCC chegue às salas de aula efetivamente a partir de 2019, pois é necessário um longo caminho para a implementação, que envolve a formação de professores, aquisição de livros didáticos e mudanças nas avaliações nacionais feitas pela própria pasta.
O MEC entregou a versão final da BNCC ao Conselho Nacional de Educação (CNE), que, após analisá-lo, via elaborar um parecer e um projeto de resolução e a BNCC volta para o MEC para homologação. Só depois que ele passará a vigorar oficialmente, e estados e municípios deverão elaborar seus próprios currículos.
A base apresentada nesta quinta-feira se refere ao ensino infantil (creche e pré-escola) e ao ensino fundamental (1º ao 9º ano). A parte relativa ao ensino médio ainda está em elaboração e deverá ser apresentada nos próximos meses.
FC/abr/ots
Quem faz a educação funcionar
Histórias de persistência, dedicação e trabalho dos que fazem parte das escolas públicas que, apesar das dificuldades, estão entre as mais destacadas do país.
Foto: DW/N. Pontes
Campeão olímpico
Quando estava no 7º ano, Antônio Wesley de Brito Vieira ganhou sua primeira medalha numa Olimpíada de Matemática. Hoje, aos 19 anos, está no 2º ano do curso de Matemática na Universidade Federal do Piauí e, por causa dos prêmios que acumulou na escola, recebe uma bolsa que ajuda a pagar os custos. Ele quer ser professor e, sempre que pode, retorna à Augustinho Brandão, onde fez o ensino médio.
Foto: DW/N. Pontes
Sala dos professores
No intervalo, os professores da escola Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves, Piauí, se encontram. A diretora Aurilene Vieira (de blusa rosa) divide a mesa com ex-alunos, que se tornaram professores. A profissão é disputada na cidade. Cursos de graduação semipresenciais ajudaram na formação desta nova geração. Ainda assim, todos se deslocam para cidades maiores para concluir os estudos.
Foto: DW/N. Pontes
Hora extra em casa
O professor de matemática Antônio Amaral foi o primeiro a inscrever os alunos da escola Augustinho Brandão numa Olimpíada de Matemática. Para tirar a dúvida dos competidores, ele instalou uma lousa nos fundos de sua casa, onde recebe os estudantes depois das aulas, nos fins de semana e feriado. Os filhos de Amaral, Sávio e Saulo, gêmeos de 14 anos, também são medalhistas e bons de cálculo.
Foto: DW/N. Pontes
O vigia que é doutorando
No portão da escola, Tarcísio Vieira de Brito não perde um minuto sequer. Quando não precisa liberar a entrada ou saída de alunos e funcionários, o vigia se concentra nos estudos. Ele concluiu o ensino médio aos 22 anos, estudou Biomedicina, fez mestrado e cursa agora um doutorado. Obstinado, ele diz que só larga o posto de vigia quando passar num concurso de professor de universidade pública.
Foto: DW/N. Pontes
Professora e ex-zeladora
A professora Flávia, como é chamada na escola Antônio Custódio, em Sobral, também é conhecida como a maga da alfabetização. A relação dela com a escola é longa: aos 18 anos, trabalhava como substituta da zeladora – que era sua avó – fazendo serviços gerais. Hoje, aos 25 anos, Flávia é formada em Pedagogia, fez curso técnico em Saneamento Básico e trabalha como professora efetiva.
Foto: DW/N. Pontes
Ex-secretária na sala de aula
Faz dois anos que Socorro Mesquista, 54 anos, começou a sua vida como professora. Antes, ela trabalhava como secretária da escola Antônio Custódio desde 2010, mas resolveu estudar Pedagogia para viver a rotina dentro da sala de aula. Professora de Matemática, ela planeja um curso de especialização para 2017.
Foto: DW/N. Pontes
Futuro empresário
Aos 14 anos, Wendel Manfrini de Andrade Mendes já sabe qual será sua profissão: quer ser empresário. Dono de várias medalhas em Olimpíadas de Matemática, o aluno do 9º ano do ensino fundamental da escola Dorilene Arruda Aragão, em Sobral, é disputado por escolas particulares por seu excelente desempenho. Ana Lívia, de 7 anos, diz que quer seguir o mesmo caminho que o irmão mais velho.
Foto: DW/N. Pontes
Salas de aulas para todos
Reunir todos os alunos num único prédio foi a primeira vitória da escola Francisca Josué, em Deputado Irapuan Pinheiro, Ceará. Nas salas de aula, blocos vazados garantem uma maior ventilação, já que a temperatura na região pode ultrapassar os 40˚C. No Ideb, a escola obteve 8,2. Alunos e professores ainda comemoram o bom resultado.
Foto: DW/N. Pontes
Leitura divertida
No intervalo da aula, diversos livros ficam à espera dos alunos do ensino fundamental 1 da escola Francisca Josué. A escola implantou um programa de incentivo à leitura em que, a cada semana, um estudante leva uma maleta de livros para casa. No dia da devolução, sempre às quintas-feiras, os pais comparecem e trazem ilustrações, que ajudam o filho a contar a história em voz alta para toda a turma.
Foto: DW/N. Pontes
Disputa no campo
A disputa pela bola é acirrada no intervalo. Todos vestem o mesmo uniforme, mas os integrantes dos dois times sabem diferenciar seus jogadores. Eles disputam uma partida de futebol num campo sem linhas, onde as traves não estão alinhadas. O campo improvisado não impede que as crianças corram atrás da vitória. A torcida animada vibrava a cada gol, sem fazer diferença entre os times.