Após anúncio da Meta, o que muda no Instagram e Facebook?
Fábio Corrêa
16 de janeiro de 2025
Com o encerramento da checagem independente, empresa vai adotar recurso de "notas da comunidade". Entenda como funciona modelo já utilizado no X.
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A comunidade de usuários de redes sociais foi pega de surpresa com o anúncio da Meta de que vai relaxar medidas tomadas contra a circulação de conteúdos suspeitos no Instagram, Facebook e Threads. Em vídeo, Mark Zuckerberg disse ter decidido encerrar o programa independente de verificação de fatos porque os moderadores de conteúdo são "tendenciosos demais".
Em substituição a esse modelo, o presidente da gigante tecnológica vai adotar o modelo de notas da comunidade. A função de marcar postagens com comentários de usuários selecionados é utilizada desde 2021 pelo X, que chegou a ser suspenso no Brasil pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, em 2024.
Zuckerberg até citou a rede social de Elon Musk em seu pronunciamento, sugerindo a existência de "tribunais secretos" na América Latina que obrigariam as empresas a removerem conteúdos.
"Vamos trabalhar com o presidente [Donald] Trump para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura", disse o proprietário do Instagram e do Facebook. Sua empresa Meta também controla o WhatsApp, mas o aplicativo não tem moderação de conteúdo por usar criptografia nas trocas de mensagens.
Até agora, pouco se sabe sobre como a Meta vai lidar com fake news daqui para frente. De acordo com a empresa, as notas da comunidade devem ser implementadas nos próximos meses nos Estados Unidos. Para o Brasil, ainda não há data para o recurso entrar em vigor, declarou a empresa americana à Advocacia-Geral da União (AGU), que pediu esclarecimentos sobre as novas políticas da gigante tecnológica no país.
Atualmente a Meta identifica temas como drogas, exploração infantil, terrorismo e fraudes como de "maior gravidade". O fim da moderação independente valerá para as postagens consideradas de "menor gravidade" – ou seja, as denunciadas pelos usuários. No entanto, essa classificação deverá sofrer mudanças.
Um dia após o anúncio de Zuckerberg, a Meta atualizou as diretrizes sobre o que considera discurso de ódio, possibilitando a circulação de opiniões que, por exemplo, associem orientação sexual e gênero a doenças mentais. À AGU, a empresa se disse "comprometida em respeitar os direitos humanos" e a "liberdade de expressão".
O que vai mudar na prática?
O modelo de checagem de informações independente começou a ser utilizado pela Meta em 2016, na esteira da primeira eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos EUA. Os moderadores, parte de uma rede de 80 veículos e agências de jornalismo associados à Aliança Internacional de Checagem de Fatos, do Instituto Poynter, auxiliavam as plataformas da Meta a identificarem conteúdos suspeitos.
A seleção das postagens potencialmente falaciosas podia ser feita pelos checadores independentes ou pela própria Meta, que lhes enviava material viral suspeito de desinformação.
Os moderadores verificavam os dados ou imagens apurando as fontes primárias para garantir que os dados utilizados eram factualmente corretos. Identificada uma violação, os checadores informavam a Meta. Esta podia então reduzir o alcance, exibir um rótulo informativo ou suspender a postagem. Esse tipo de contato entre organizações independentes e a administração das plataformas não vai mais existir para as postagens de "menor gravidade".
Se o modelo utilizado seguir o exemplo do X, o conteúdo suspeito vai receber, abaixo da publicação, um acréscimo em forma de texto escrito por usuários. Na plataforma de Elon Musk, essas informações indicam "sensacionalismo", "falta de comprovação" e inserem contexto ou correções ao material. A postagem, porém, pode ser clicada da mesma forma que as demais, sem ter nenhum "carimbo". Além disso, por ficar no fim do texto, as notas são as últimas informações a serem lidas pelo usuário.
No X, o recurso funciona assim: alguns usuários mais atuantes se oferecem e são selecionados para integrar o grupo que pode acrescentar as observações. Depois disso, elas são avaliadas por outros usuários do grupo autorizado. Se bem aceitas, as notas podem ser incluídas.
Mas isso não garante que o rodapé informativo vai aparecer no post. O modelo do X prega a imparcialidade total dos comentários, e para isso é necessário que eles sejam reconhecidos como positivos por contas de visões políticas opostas, cujas orientações ideológicas são analisadas por um algoritmo que varre as postagens dos colaboradores. De acordo com o nível de concordância entre esses usuários – o que, em posts políticos, é ainda mais complicado –, a plataforma decide se a nota tem muita, pouca ou nenhuma visibilidade para o resto dos internautas.
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Novo modelo da Meta vai funcionar?
A grande questão é como será implementada essa função nas redes sociais da Meta – Instagram, Facebook e Threads. No exemplo do X, são poucas as informações disponíveis sobre quem efetivamente trabalha para incluir as notas da comunidade.
"Há coisas que não estão claras: quantas pessoas deverão opinar sobre uma postagem para que vire uma nota, por exemplo. Existem pormenores que não estão claros", lembra Iná Jost, coordenadora de pesquisa do InternetLab, organização voltada para o estudo dos direitos humanos na internet.
Segundo ela, mesmo ainda envolta em dúvidas, a mudança representa um retrocesso. "Me parece voltar algumas casas numa política dos últimos anos de melhora dos sistemas de moderação de conteúdo. Não era perfeito, mas foi se ajustando de acordo com certas demandas. Um bom exemplo era a política de desinformação sobre saúde, que veio depois da pandemia: teve demanda e comprometimento da empresa com isso", aponta Jost.
A pesquisadora diz não ser contra as notas da comunidade, mas reforça que elas precisam estar aliadas a outros processos de checagem. De fato, um levantamento feito pela empresa de dados Lagom Data a pedido da Agência Lupa indicou que, entre março e dezembro de 2023, foram aceitas 8% das 6,8 mil sugestões de notas indicadas pela comunidade de falantes do português na plataforma.
Além de um aceno trumpista, Zuckerberg pode estar enxergando nesse movimento uma oportunidade de negócios, explica o diretor-executivo do Instituto de Tecnologia & Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro, Fabro Steibel. Segundo ele, há uma demanda explícita de atores políticos de direita pela circulação de conteúdo desenfreada e com discursos que até então eram barrados pelas redes sociais da Meta – mas não por concorrentes como o X.
"Estão vindo muito mais Bolsonaros e Trumps do que Bidens e Lulas. Acho que estão apostando nisso, que essas pessoas precisam não de uma plataforma, mas de todas, para espalhar a mensagem. Não é mais questão de conteúdo, é o conjunto de atos, é a viralização", conclui Stiebel.
O mês de janeiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: MATTHEW HINTON/AFP
David Lynch, diretor de "Cidade dos sonhos", morre aos 78 anos
Conhecido por produções como "Cidade dos Sonhos", "Twin Peaks" e obras surrealistas, o renomado diretor americano acumulou quatro indicações ao Oscar durante sua carreira. Causa da morte não foi divulgada. Em 2024, ele afirmou que foi diagnosticado com enfisema pulmonar. (16/01)
Hamas e Israel chegam a acordo para encerrar conflito em Gaza
Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo para encerrar o conflito na Faixa de Gaza após 15 meses de combates, segundo informaram mediadores nesta quarta-feira. O texto prevê troca de reféns por prisioneiros e a retirada de militares israelenses. População foi às ruas em Gaza e em Israel para comemorar a decisão. (15/01)
Foto: Abdel Kareem Hana/AP/picture alliance
Procurador diz que havia evidências para condenar Trump
Em relatório tornado público, o procurador especial Jack Smith afirma que havia evidências suficientes para condenação do presidente eleito dos EUA por tentar anular o resultado da eleição de 2020. Parte do documento foi enviado ao Congresso pelo Departamento de Justiça – não sem que antes Trump tentasse impedir que isso acontecesse. Republicano reagiu tachando Smith de "perturbado". (14/01)
Foto: Jacquelyn Martin/AP Photo/picture alliance
Lula sanciona lei que proíbe uso de celular nas escolas
Lei restringe uso de aparelhos eletrônicos portáteis, sobretudo telefones celulares, nas salas de aula de escolas públicas e privadas em todo o país. Há exceções para uso pedagógico, sob supervisão dos professores, ou em casos excepcionais de acessibilidade ou necessidade de saúde. Medida ainda será regulamentada por decreto a tempo de entrar em vigor no início do ano letivo, em fevereiro. (13/01)
Sobe para 16 número de mortos em incêndios em Los Angeles
O número de mortos nos incêndios florestais que atingem a região de Los Angeles aumentou para 16, enquanto as equipes lutam para conter as chamas antes da chegada prevista de novas rajadas de ventos fortes capazes, potencialmente, de empurrar o fogo em direção a outras regiões da cidade. (12/01)
Foto: Jae C. Hong/AP Photo/picture alliance
Milhares protestam contra convenção da ultradireita na Alemanha
Mais de 10 mil pessoas participam de uma manifestação em uma pequena cidade do leste alemão contra a convenção nacional do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A convenção é parte da campanha do partido para as eleições federais de 23 de fevereiro, convocada após o colapso do governo de coalizão do chanceler federal, Olaf Scholz. (11/01)
Foto: EHL Media/IMAGO
Trump é sentenciado e será 1º presidente condenado dos EUA
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi sentenciado por sua condenação criminal decorrente do pagamento em dinheiro para silenciar uma atriz pornô. A penalidade, porém, não inclui multa, prisão ou liberdade condicional. O juiz aplicou ao republicano uma sentença de "dispensa incondicional", que reconhece a culpa do réu, mas não impõe uma pena específica. (10/01)
Foto: Brendan McDermid-Pool/Getty Images
"Sinceramente, estou morrendo", diz ex-presidente do Uruguai José Mujica
Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer em seu esôfago se espalhou para o fígado e que a progressão da doença não pode mais ser interrompida. "Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta", disse. "O que eu peço é que me deixem em paz. O guerreiro tem direito ao descanso." (09/01)
Foto: Santiago Mazzarovich/AFP
Incêndios deixam rastro de destruição na Califórnia
Incêndios florestais de enormes proporções atingiram a Califórnia e deixaram ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. No condado de Los Angeles, cerca de 180 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por ordem das autoridades, com as chamas consumindo uma área de 117 quilômetros quadrados. (08/01)
Foto: Ringo Chiu/REUTERS
Morre o extremista francês Jean-Marie Le Pen
Líder histórico da extrema direita francesa e pai da ultradireitista Marine Le Pen morreu aos 96 anos. Ele foi um dos fundadores do partido Frente Nacional, renomeado em 2018 para Reunião Nacional. Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. (07/01)
Congresso dos EUA certifica vitória eleitoral de Trump
O Congresso dos EUA certificou Donald Trump como vencedor da eleição de 2024. A cerimônia aconteceu sem interrupções – em contraste à violência de 6 de janeiro de 2021, quando, com pelo menos aquiescência de Trump, uma multidão invadiu o Capitólio para impedir certificação de Joe Biden. Os legisladores se reuniram sob forte segurança para cumprir a data exigida pela lei eleitoral. (06/01)
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Neve traz caos à Europa e aos Estados Unidos
Após um fim de ano com temperaturas relativamente amenas, nevou no Reino Unido e em outras partes da Europa. Pistas congeladas geraram transtorno nas estradas e levaram ao cancelamento de voos e fechamento de aeroportos, inclusive na Alemanha. Nos Estados Unidos, algumas áreas devem ter a pior nevasca da década. (05/01)
Foto: Danny Lawson/PA Wire/dpa/picture alliance
Trens de longa distância operados pela alemã Deutsche Bahn batem recorde de atraso
Em 2024, 37,5% dos trens de longa distância registraram atraso superior a seis minutos – a maior taxa em 21 anos. Empresa atribuiu piora no desempenho à "infraestrutura ultrapassada e sobrecarregada", obras na rede ferroviária, aumento do tráfego, falta de mão de obra e eventos climáticos extremos, mas disse trabalhar em um plano de ação para melhorar sua pontualidade. (04/01)
Foto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance
Milhares de alemães assinam petição contra uso de fogos de artifício
Mais de 270 mil alemães assinaram uma petição online pedindo a proibição de fogos de artifício particulares em todo o país, após um Ano Novo marcado por cinco mortes e dezenas de feridos pelo uso incorreto dos fogos. Em várias cidades, equipes de emergência foram atingidas pelos explosivos. Em Berlim, um policial ficou gravemente ferido e precisou ser operado. (03/01)
Foto: Christian Mang/REUTERS
Multidão protesta contra prisão de presidente afastado da Coreia do Sul
Uma centena de pessoas se reuniram em Seul para protestar contra o mandado de prisão imposto ao presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, acusado de insurreição. Apoiadores se posicionaram em frente à residência de Yoon, que se propôs a "lutar até o fim". Agentes já se posicionam no local para cumprir a ordem judicial. (02/01)
Foto: Philip Fong/AFP
Homem atropela multidão em Nova Orleans e deixa 10 mortos
Ataque ocorreu na Bourbon Street, uma rua turística com bares e clubes noturnos. Condutor do veículo morreu em confronto com policiais e FBI investiga "ato de terrorismo". Suspeito, um cidadão americano do Texas, carregava bandeira do Estado Islâmico. (01/01)