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PolíticaSíria

O que os sírios na Alemanha planejam para seu futuro?

16 de dezembro de 2024

Após a queda de Assad, refugiados sírios na Alemanha vivem entre a euforia com o fim do regime e o medo de serem deportados. A DW falou com alguns deles sobre suas alegrias, temores e esperanças.

Anas Modamani mostra em seu celular sua selfie com ex-chanceler Angela Merkel
Anas Modamani ficou conhecido após tirar selfie com ex-chanceler Angela MerkelFoto: Ebrahim Noroozi/AP Photo/picture alliance

Milhares de sírios saíram às ruas da Alemanha em celebração, tão logo souberam da queda do regime brutal que governou a Síria por décadas sob a liderança de Bashar al-Assad e, antes dele, de seu pai, Hafez al-Assad.

Contudo, após as forças rebeldes tomarem a capital, Damasco, muitos dos sírios exilados na Alemanha se perguntam o que virá a seguir para a Síria, assim como para eles próprios e suas famílias.

Anas Modamani: "Ficarei na Alemanha"

Ele tinha 17 anos quando fugiu da guerra civil na Síria e do medo de ser convocado para o exército de Assad, indo parar em Berlim.

A selfie que Anas Modamani tirou com a então chanceler alemã Angela Merkel, em 2015, viralizou como um símbolo da decisão do governo de permitir que centenas de milhares de migrantes entrassem na Alemanha naquele ano.

Ele contou á DW que durante o tempo em que esteve na Alemanha, nunca perdeu a esperança de que um dia a Síria estaria livre de Assad.

"Meu Deus, finalmente acabou. Mal consegui dormir. Assisto ao noticiário sem parar", afirmou, ao descrever sua reação ao saber da queda de Assad.

Modamani está confiante que a situação na Síria vai melhorar e que o país voltará ao normal, mas não pretende retornar à sua terra natal. "Vou ficar na Alemanha", disse. "Construí minha vida aqui nos últimos dez anos."

Ele é uma das 214 mil pessoas de origem síria na Alemanha que possuem passaporte alemão. Modamani estudou comunicação empresarial em Berlim e agora trabalha como jornalista freelancer, inclusive para a DW.

Ao olhar para sua fotografia com Merkel, ele reflete sobre a forma calorosa com que os refugiados sírios foram recebidos naquela época. "Quando você dizia que era da Síria as pessoas sorriam. Hoje em dia, muitas vezes sinto que não somos mais bem-vindos."

O fato de os políticos alemães começarem a debater sobre possíveis deportações logo após a queda de Assad é algo que deixou muitos migrantes sírios assustados.

Kefah Ali Deeb: "Devemos reconstruir nosso país"

A síria Kefah Ali Deeb fugiu para a Alemanha em 2014 depois de ser presa quatro vezes por protestar contra o governo. Em 2011, os protestos pró-democracia que exigiam o fim das práticas autoritárias do regime de Assad levaram à formação de milícias de oposição e deram início a uma guerra civil.

Mas a autora, ativista e artista de 42 anos diz que, para ela, uma coisa é certa: ela quer retornar à sua terra natal o mais rápido possível.

"No momento, é isso que estou planejando com meu marido", contou Ali Deeb à DW. "Porque, mesmo depois de dez anos, aqui ainda não é o meu lar. Eu estive sempre deprimida."

Kefah Ali Deeb quer voltar à Síria e participar da reconstrução do paísFoto: UNHCR/David Morgan

"Ainda não conseguimos obter nenhuma informação sobre nossos entes queridos que estão presos há dez, 12 ou 14 anos. Não sabemos nada, se sobreviveram ou se Assad os matou." Ali Deeb espera que a história amplamente documentada de tortura e execuções sumárias da Síria seja logo examinada.

"É a única maneira de haver justiça real; para liberar nossa raiva e nossa tristeza. Eu adoraria fazer parte disso", disse. "É muito difícil [começar] novamente do nada. Mas, ainda assim, é o nosso país, é o nosso lar. Temos que fazer algo para reconstruí-lo."

Ali Deeb parece estar em minoria com seu desejo de retornar à Síria. Pesquisas com migrantes sírios na Alemanha revelam que a maioria deles pretende permanecer no país.

Ali: "Quero me integrar"

Ali, que não quer revelar seu sobrenome, está entre os que pretendem ficar na Alemanha. A DW o encontrou em um abrigo para migrantes em Bonn, no oeste da Alemanha, onde 540 refugiados estão vivendo atualmente, incluindo 145 sírios.

Ali, que é natural de Damasco, vê como positiva a queda do regime de Assad. Mas, embora esteja na Alemanha há pouco mais de um ano e mal fale alemão, ele quer ficar no país. "Quero me integrar", afirmou.

Mas, será que os recém-chegados também terão a chance de construir uma nova vida na Alemanha? Somente em 2024, o Escritório Alemão de Migração e Refugiados recebeu 72 mil novos pedidos de asilo de sírios.

Após a queda de Assad, no entanto, Berlim suspendeu o processamento dos pedidos.

Man Achorr: "Tudo foi destruído"

Por ora, o sírio Man Achorr não consegue imaginar voltar à sua terra natal. Há apenas dois meses, o homem de 47 anos decidiu se dedicar ao trabalho autônomo e abriu um pequeno supermercado em Bonn.

Em seu mercado, latas de tomate e homus, sacos de triguilho e farinha de grão-de-bico estão empilhados em seis corredores. Ele também vende vegetais frescos e pão árabe. Ele contou que cerca de metade de seus clientes são árabes, e disse que qualquer um que sentir falta da culinária síria poderá encontrar a mistura certa de temperos em sua loja.

Man Achorr prefere aguardar para ver como a situação se desenrolará antes de voltar à SíriaFoto: Peter Hille/DW

Achorr é de Ghuta, perto de Damasco. Há sete anos, ele e seu irmão fugiram para a Alemanha via Egito. "Meus quatro filhos estudam aqui e falam alemão fluentemente", afirmou. Ele se diz feliz que Assad, que fugiu para a Rússia, não esteja mais no poder. "Espero que a guerra tenha acabado para sempre."

Ele, porém disse que, no curso da guerra civil, "tudo foi destruído" em sua cidade natal, que há muito era um refúgio para milícias islâmicas radicais. Ele espera visitar seus pais na Síria, mas não imediatamente.

"Devagar, devagar", disse. Ele quer primeiro esperar para ver como a situação se desenvolve.

Tareq Alaows: "Alemanha deve ajudar a Síria"

Ainda não é possível haver qualquer garantia de que a paz e a liberdade prevalecerão na Síria. Por isso, Tareq Alaows avalia que as discussões sobre a deportação de sírios na Alemanha não passam de "estratégia eleitoreira às custas dos refugiados".

Alaows, que deixou a Síria rumo à Alemanha em 2015, se tornou um ativista da organização de direitos humanos e de acolhimento aos refugiados Pro Asyl. Ele esperava se tornar membro do Bundestag (Parlamento) em 2021, ao se candidatar pelos Verdes, mas acabou retirando sua candidatura após receber ameaças.

Ele avalia que deportar pessoas de volta para a Síria nas circunstâncias atuais não é algo permitido pelas leis do país. "Para a repatriação, não basta dizer que os pedidos de asilo não serão aprovados; é necessário determinar se os sírios podem ter garantias de um retorno seguro. Ninguém pode garantir isso agora."

Tareq Alaows diz que debate sobre deportação de sírios é meramente eleitoreiroFoto: Rainer Keuenhof/picture alliance

Ele conta que recebeu centenas de mensagens de pessoas da comunidade síria se dizendo preocupadas. Elas temem a deportação, embora vivam na Alemanha há anos.

Alaows espera que os políticos alemães se concentrem a partir de agora em ajudar a reconstruir a Síria. Para ele, a Alemanha poderia assumir um papel de liderança no processo criminal internacional contra os responsáveis pelas atrocidades cometidas na ditadura de Assad.

"A Alemanha, com sua história, tem experiência em lidar com o passado, e poderia apoiar isso", disse.

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