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Esporte

O que pode minar o caminho alemão para o penta?

16 de junho de 2018

Alemanha inicia Copa com transtornos internos, dúvidas táticas e após desempenhos decepcionantes nos últimos testes. Cotada como uma das favoritas, precisa acertar alguns pontos para não decepcionar na Rússia.

Ambiente interno, questão política e fraco desempenho. Joachim Löw vai com bastantes problemas à RússiaFoto: picture-alliance/Revierfoto

A Alemanha faz parte do seleto grupo dos grandes favoritos na Copa do Mundo de 2018: é a atual campeã mundial, encabeça o ranking da Fifa, fez uma Eliminatória impecável e sagrou-se campeã com uma equipe alternativa da Copa das Confederações.

Boa parte dos especialistas e jornalistas esportivos mundo afora aposta numa Nationalelf forte, com grandes chances de conquistar o pentacampeonato mundial – nas bolsas de apostas, a seleção alemã está atrás somente da brasileira.

No entanto, mesmo considerada uma das favoritas ao título, com um elenco recheado de jogadores de qualidade e jovens promessas, a Alemanha inicia sua 19ª participação em Copas com diversos problemas e num certo clima de desconfiança.

A autoconfiança da equipe e o ambiente descontraído de Campo Bahia, quartel-general da Nationalelf no Mundial do Brasil, certamente não se repetiu em Tirol do Sul, na Itália. Muito pelo contrário: o treinador Joachim Löw trouxe muitos problemas à Rússia.

A preparação da seleção alemã foi turbulenta, cercada de especulações sobre as condições físicas de Manuel Neuer, Jérôme Boateng, Mats Hummels e Mesut Özil, debates sobre os desempenhos fracos nos últimos amistosos e a polêmica em torno de uma fotografia tirada com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Uma Copa do Mundo é vencida em detalhes: bom ambiente interno, apoio nacional e jogadores em boa forma física e técnica e em seus ápices de foco e motivação são fatores importantes. E, em parte, isso nem sempre está presente na preparação alemã. 

A polêmica foto com Erdogan

O ambiente interno está pesado. Uma fotografia tirada por Ilkay Gündogan e Özil, jogadores de ascendência turca, com o presidente da Turquia, causou indisposição na política. Os dois atletas chegaram a conversar com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. Até a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pronunciou-se sobre o tema. As reações foram de indignação nas redes sociais, com torcedores pedindo o corte dos dois jogadores e dizendo que se recusariam a torcer pela seleção na Copa.

Parte da opinião pública não perdoou a foto tirada com Erdogan e não poupou vaias ao meia Ilkay GündoganFoto: picture-alliance/GES/M. Ibo Güngör

No último amistoso, contra a Arábia Saudita, Gündogan foi vaiado toda vez que tocava na bola. O meia do Manchester City ao menos atendeu a imprensa e chegou a se desculpar e justificou a fotografia, mas Özil tem fugido dos jornalistas. O assunto gerou desconforto na seleção. Reiteradamente questionado pelos jornalistas, Löw se mostrou irritado com as vaias. "Já deu o que tinha que dar", disse. "Um jogador da seleção alemã ser vaiado não ajuda em nada e não me agrada nem um pouco."

A imprensa alemã, porém, não largou o assunto. O ex-jogador da seleção alemã Steffen Effenberg criticou a decisão da Federação Alemã de Futebol (DFB) de manter os dois atletas entre os convocados. "Quando se defende certos valores, como a DFB repetidamente transmite, a única decisão que poderia ter sido tomada era a exclusão dos dois jogadores", disse.

Effenberg viveu na pele como é ser expulso da Nationalelf. Ele foi cortado na Copa do Mundo de 1994, depois de ter mostrado o dedo do meio a torcedores alemães insatisfeitos com o desempenho da equipe. Ele ficou quatro anos sem atuar pela Alemanha. "Na época, a DFB foi consequente e muito rápida na decisão", lembrou Effenberg.

Todo o imbróglio em torno da polêmica fotografia também atingiu os dois atletas. Özil tem evitado a imprensa e treinado sem ânimo, cabisbaixo. "Estou mais preocupado com os dois, menos com a equipe. O tema afetou Gündogan e Özil", disse o diretor esportivo da seleção, Oliver Bierhoff.

Além disso, houve um entrevero entre o lateral-direito Joshua Kimmich e o defensor Jonathan Tah – cortado da lista dos 23 convocados – num treinamento em Tirol do Sul e ambos quase saíram no tapa.

Marc-André ter Stegen pegou pênalti contra a Arábia Saudita, mas terá de ceder a posição a Manuel NeuerFoto: picture-alliance/dpa/GES/M. I. Guengoer

Desconforto com volta de Neuer

O retorno ou não do goleiro e capitão Manuel Neuer também ocupou as manchetes recentes da imprensa alemã. E, segundo relatos, gerou desconforto em Marc-André ter Stegen. O goleiro fez uma temporada impecável pelo Barcelona, mas, no final, terá de abrir caminho para Neuer, cuja última partida pelo Bayern de Munique foi em setembro de 2017. Certamente, Neuer possui mais qualidades e experiência que Ter Stegen, mas o goleiro reserva teria se sentido menosprezado.

"Aceito a decisão. É uma situação decepcionante se você joga bem durante toda a temporada e alcançou o mais alto nível de desempenho", disse. "Quando for preciso, estarei pronto. Tentarei ser uma ajuda ao Neuer. A equipe sabe que vou apoiá-la em 200%."

Na Copa do Mundo de 2006, os goleiros Oliver Kahn e Jens Lehmann também tiveram suas rusgas. Mas, na decisão por pênaltis, nas quartas de final contra a Argentina, Kahn colocou as desavenças de lado e deu apoio moral e motivou o então goleiro do Arsenal. Um gesto que foi retomado pela imprensa alemã com a situação desconfortável de Ter Stegen.

Desempenho fraco nos amistosos

E o ambiente interno certamente é refletido na atuação em campo. Ao menos, esta é uma das explicações para os recentes desempenhos fracos nos amistosos. Contra a Áustria, a Alemanha chegou a ser dominada em diversas fases da partida, principalmente na segunda etapa, e perdeu de virada, por 2 a 1. A Nationalelf não perdia para os vizinhos austríacos há 32 anos (dez jogos).

E contra a Arábia Saudita, um último amistoso, em casa, contra um adversário notoriamente inferior e propício para embarcar para o Mundial cheio de moral, a seleção alemã foi decepcionante. O impulso de confiança, aquela simbiose de clima de Copa entre o povo e a seleção, não veio – apenas uma vitória magra por 2 a 1, que no fim quase se transformou num amargo empate.

Com exceção da Arábia Saudita, a Alemanha não venceu nenhum dos outros cinco amistosos. Além da Áustria, os outros quatro adversários foram de grande calibre: Inglaterra (0x0), França (2x2), Espanha (1x1) e o revés por 1 a 0 frente ao Brasil, em Berlim, que interrompeu uma sequência de 22 jogos sem derrotas – a segunda mais longa da história da Alemanha.

Em caso de Timo Werner sentir o peso da Copa e não funcionar, Löw poderá contar com Mario Gómez?Foto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini

Fragilidades e dúvidas táticas

A imprensa alemã criticou a falta de vontade e competitividade da seleção alemã. E Löw não escondeu seu descontentamento. "Contra a Áustria, por exemplo, falhamos em muitos detalhes. Se cometermos pequenos erros, somos apenas uma equipe mediana que pode perder contra a Áustria", disse. "Se precisamos melhorar? Com certeza. Mas quando o torneio começar, estaremos lá."

Entre os problemas que Löw, 12 anos frente à seleção alemã e que vai ao seu sexto grande torneio, também estão questões táticas. Notoriamente, o lado esquerdo com Jonas Hector é o mais frágil – mesmo lado onde Marco Reus, que com frequência tem problemas físicos, deve começar como titular.

As fragilidades defensivas ficaram evidentes nos amistoso preparatórios. Como proteger a defesa, sem abrir mão da orientação ofensiva de Toni Kroos e Sami Khedira? Em 2014, o posicionamento de Kroos era mais ofensivo, ao lado de Özil e Thomas Müller. Bastian Schweinsteiger e Khedira (Christoph Kramer, na final), e até Philipp Lahm, eram os volantes.

As esperanças da Alemanha estão depositadas – além de apresentações inspiradas de Neuer, Müller, Kroos e Özil – num jovem Timo Werner. Com apenas 14 jogos pela Nationalelf, o atacante de 22 anos do RB Leipzig já balançou a rede oito vezes. Foi campeão da Copa das Confederações, mas a Copa do Mundo é sua primeira prova de fogo. Werner ainda é um atacante sem grife, tido como um grande talento, mas que ainda precisa se provar. E se Werner não funcionar? O torcedor alemão terá de aguentar Mario Gómez...  

Müller, por outro lado, é com dez gols o melhor marcador disparado nesta Copa – seguido por James Rodríguez (6), Lionel Messi (5), Gonzalo Higuain (5), Luis Suárez (5), Tim Cahill (5), Neymar (4), Cristiano Ronaldo (6) e Xherdan Shaqiri (3).   

Na primeira fase, a Alemanha estreia contra o México, em 17 de junho, no estádio Luzhniki – o mesmo em que será disputada a grande final. Na sequência, joga contra a Suécia, em 23 de junho, em Sochi, e encerra a fase de grupos contra a Coreia do Sul, em 27 de junho, em Kazan.

Foto oficial da seleção alemã que vai em busca do pentacampeonato mundial, na Copa do Mundo da RússiaFoto: Imago/Revierfoto

Retrospecto contra os três adversários:

México: invicto em jogos oficiais – 11 jogos, com cinco vitórias, cinco empates e uma derrota.
Em Copas: duas vitórias e um empate. 

As últimas duas partidas contra o adversário da estreia ocorreram na Copa das Confederações. Em 2017, na Rússia, uma seleção alemã sem suas estrelas venceu por 4 a 1, com dois gols de Leon Goretzka e um de Timo Werner e de Amin Younes. Em 2005, em Leipzig, os alemães venceram na prorrogação por 4 a 3, graças a um gol de Michael Ballack – nas estatísticas, este jogo entra como empate. 

Em Mundiais, foram três partidas: 6 a 0, em 1978, na Argentina; 0 a 0, em 1986, no México, e 2 a 1, nas oitavas de final de 1998, na França, com gol do atual diretor esportivo Oliver Bierhoff. O único sucesso do México veio num amistoso disputado no Estádio Azteca, em 1985, quando El Tri venceu por 2 a 0.

Suécia: algoz de 1958 – 36 jogos, 15 vitórias, nove empates e 12 derrotas.
Em Copas: três vitórias e uma derrota.

A Alemanha nunca foi derrotada pela Suécia depois da Reunificação alemã. A última derrota foi em 1978, por 3 a 1, num amistoso em Estocolmo. Em Copas, a Nationalelf venceu em 1934 (2x1), em 1974 (4x2) e em 2006 (2x0), com dois gols de Lukas Podolski. Em 1958, em casa, os suecos eliminaram a Alemanha na semifinal, por 3 a 1 – em seguida, perderam a final para o Brasil.

Coreia do Sul: 100% em Mundiais – três jogos, duas vitórias e uma derrota.
Em Copas: duas vitórias.

Último confronto foi em 2004, um amistoso vencido pela Coreia do Sul, em Busan, por 3 a 1. Os outros dois duelos foram em Copas do Mundo. Em 1994, nos EUA, os alemães suaram para derrotar os sul-coreanos por 3 a 2. E, nas semifinais de 2002, em Seul, a Nationalelf carimbou a vaga na final graças ao gol solitário de Michael Ballack.

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