Há 70 anos, aviões cortavam o céu da cidade levando mantimentos para abastecer o lado ocidental, que havia sido isolado pelos soviéticos. O aeroporto Tempelhof virou um símbolo deste período.
Anúncio
Há 70 anos, aviões das Forças Aéreas dos Estados Unidos e do Reino Unido cruzavam o céu de Berlim para abastecer o lado ocidental da cidade, que havia sido isolado com o bloqueio soviético. Os Rosinenbomber (bombardeiros das passas) entraram para a história da capital alemã, e hoje o antigo aeroporto Tempelhof, transformado em parque, preserva parte desta memória.
Em 24 de junho 1948, teve início o bloqueio soviético que impediu o acesso a Berlim Ocidental por vias terrestres e fluviais. A medida foi uma represália à determinação dos Aliados de introduzir o marco alemão como unidade monetária em toda a cidade, que, em ruínas, dependia da ajuda externa.
Com a decisão soviética, era preciso encontrar um meio de levar alimentos e produtos para o lado ocidental. Dois dias depois do início do bloqueio, aviões Aliados cruzavam os céus da Alemanha Oriental para abastecer a cidade, uma espécie de ilha em território comunista.
Um dos principais destinos dos voos que saíam de Hamburgo, Frankfurt e Hannover era o aeroporto de Tempelhof, que se tornou o símbolo deste episódio histórico. Além deste local, os aviões carregados de mantimentos pousavam ainda num terminal em Tegel e na área britânica de Gatow.
Durante quase um ano, até 12 de maio de 1949, quase 278 mil voos foram feitos para abastecer a cidade. Além de alimentos, os aviões traziam também combustível, máquinas e todo o tipo de bens de consumo necessários para a população.
O episódio mais marcante deste período ficou conhecido como Rosinenbomber. Ao posar em Tempelhof, num certo dia em julho de 1948, o jovem piloto Gail Halvorsen viu um grupo de crianças observando a movimentação dos aviões e foi até elas para distribuir chicletes que tinha trazido com ele. Diante da alegria das crianças, ele teve a ideia de jogar doces do avião na próxima viagem.
A iniciativa de Halvorsen foi imitada por vários de seus colegas, e esses voos de abastecimentos foram apelidados pelos berlinenses de Rosinenbomber. Até o fim da ponte aérea, cerca de 20 toneladas de chocolates e outros doces foram lançados nos céus de Berlim.
Com a criação dos dois Estados alemães e a separação definitiva do país, em 1949, o bloqueio foi levantado, e o aeroporto Tempelhof se tornou uma das principais portas de entrada de Berlim Ocidental.
Quem visita Berlim e deseja saber mais sobre essa história, uma boa dica é um passeio pelo antigo aeroporto Tempelhof, que se tornou um parque. Em frente ao prédio principal do terminal há ainda um monumento que recorda a ponte aérea.
Quem estiver na cidade no dia 12 de maio, poderá participar das comemorações dos 70 anos deste período. O ponto alto será uma festa no antigo aeroporto e atual parque, porém, sem os famosos bombardeiros de passas.
Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube
Grandes e pequenos memoriais em toda a capital alemã relembram seu passado judaico e os crimes do regime nazista.
Foto: Renate Pelzl
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Esse enorme campo de monólitos no centro da capital alemã foi inaugurado em 2005. O projeto é do arquiteto nova-iorquino Peter Eisenmann. Os quase três mil blocos de pedra evocam a lembrança dos seis milhões de judeus de toda a Europa que foram assassinados pelos nazistas.
Foto: picture-alliance/Schoening
Stolpersteine ("pedras de tropeço")
Estes pequenos blocos podem ser encontrados em centenas de calçadas de Berlim, em frente a imóveis que eram ocupados por famílias judias. Nelas, constam os nomes dos antigos moradores judeus e informações sobre seu destino final, como o campo de concentração para onde foram enviados. No total, existem mais de 7 mil desses pequenos memoriais só em Berlim.
Foto: DW/T.Walker
A casa da Conferência de Wannsee
Quinze autoridades nazistas de alto escalão se reuniram nesta mansão às margens do lago Wannsee, no subúrbio berlinense de mesmo nome, em 20 de janeiro de 1942. O tema da conferência: discutir o assassinato sistemático de judeus europeus, que foi batizado de "solução final para a questão judaica". Hoje o local é um memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial Plataforma 17
Rosas brancas na plataforma 17 da estação Grunewald, no oeste da capital, lembram os mais de 50 mil judeus de Berlim que foram enviados para a morte a partir desse local. Em exibição estão 186 placas que mostram a data, o destino e o número de deportados.
Foto: imago/IPON
Museu Otto Weidt
O complexo de prédios Hackesche Höfe no centro de Berlim é mencionado em vários guias de viagem. Em um dos edifícios, ficava a fábrica de escovas e vassouras do empresário alemão Otto Weidt (1883-1947). Durante a era nazista, ele empregou muitos judeus cegos e surdos, salvando-os da deportação e da morte. Hoje o local é um museu.
Foto: picture-alliance/Arco Images
Centro de moda na Hausvogteiplatz
O coração da moda de Berlim uma vez bateu aqui. Uma placa comemorativa feita de espelhos lembra os estilistas e fashionistas judeus que fizeram roupas para toda a Europa na praça Hausvogtei. Os nazistas expropriaram os donos judeus e entregaram os ateliês para funcionários e empresários arianos. Esse centro de moda acabou sendo irremediavelmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Memorial na Koppenplatz
Antes do Holocausto, 173 mil judeus viviam em Berlim. Em 1945 havia apenas 9 mil. O monumento "Der verlassene Raum" (a sala abandonada) está localizado no meio da área residencial da praça Koppen. É uma forma de relembrar os cidadãos judeus que foram tirados de suas casas e nunca retornaram.
Foto: DW
O Museu Judaico
O arquiteto Daniel Libeskind escolheu um design dramático: visto de cima, o edifício parece uma estrela de David quebrada. O Museu Judaico é um dos prédios mais visitados em Berlim, oferecendo uma visão geral da turbulenta história teuto-judaica.
Foto: AP
Cemitério Judaico Weissensee
Ainda há oito cemitérios judaicos em Berlim. O maior deles fica no distrito de Weissensee. Com cerca de 115 mil túmulos, é o maior cemitério judaico da Europa. Muitos judeus perseguidos se esconderam no emaranhado de construções dos cemitérios durante o regime nazista. Em 11 de maio de 1945, três dias após o fim da Segunda Guerra, o primeiro funeral judaico público foi realizado aqui.
Foto: Renate Pelzl
A Nova Sinagoga
Quando a sinagoga da rua Oranienburger foi consagrada em 1866, o prédio foi considerado o mais magnifico templo judaico da Alemanha. O edifício foi danificado na Noite dos Cristais em 1938 e depois foi duramente bombardeado na Segunda Guerra. No início dos anos 1990, foi parcialmente reconstruído. Desde então, sua cúpula dourada voltou a ser facilmente inidentificável no horizonte de Berlim.