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O que são espécies-chave e por que precisamos delas?

Stuart Braun
13 de dezembro de 2022

De lobos a elefantes e musgos, algumas espécies de animais e plantas são determinantes para a preservação de ecossistemas saudáveis e com biodiversidade.

Lobo-cinzento no Parque Nacional Yellowstone
Reintrodução dos lobos no Parque Nacional de Yellowstone trouxe rápidos benefícios para a biodiversidadeFoto: Jacob W. Frank/National Park/AP Photo/picture alliance

Quando os lobos foram caçados quase à extinção em partes dos Estados Unidos e da Europa, o ambiente mudou rapidamente. Veados ou alces não tinham mais predador, o que lhes permitiu pastar em excesso e pisotear áreas com vegetação onde antes não ousavam pisar.

Populações maiores de mamíferos com cascos alteraram paisagens e destruíram habitats que sustentavam outras espécies, como pássaros canoros, que são aves capazes de emitir sons em várias notas. A erosão do solo fez com que os rios mudassem de curso, impactando os ecossistemas marinhos.

Esse grande impacto na biodiversidade é a característica comum das espécies-chave. Mas, como muitas estão ameaçadas pela caça ou pela perda de habitat, o ambiente que antes regulavam está sofrendo.

O que exatamente é uma espécie-chave?

No início dos anos 1960, o ecologista americano Robert Paine removeu estrelas-do-mar de uma área da costa e observou como os mexilhões que as estrelas-do-mar − que são predadores − costumavam comer viraram monocultura. Espécies marinhas como mariscos e anêmonas logo foram exterminadas, fazendo com que Paine percebesse a importância das estrelas-do-mar na regulação da biodiversidade costeira.

Ele se referiu ao predador como uma espécie-chave, descrevendo-o de forma análoga à pedra-chave de um arco que mantém todas as outras pedras no lugar.

Castor, um "engenheiro do ecossistema"Foto: picture alliance/Photoshot

Espécies-chave são muitas vezes consideradas predadores no topo da cadeia alimentar, como os lobos. Mas algumas estão bem abaixo na cadeia. O krill – uma das fontes de alimento mais abundantes do planeta – é o camarão antártico que regula a cadeia alimentar do Oceano Antártico, fornecendo alimento para diversas espécies, de baleias a pinguins e pássaros. Sem o krill, ecossistemas oceânicos inteiros seriam desequilibrados.

Outras espécies-chave são conhecidas como engenheiros do ecossistema – como castores, que constroem represas, criando piscinas profundas e habitats para peixes, tartarugas e sapos.

Impactos na biodiversidade

Muitas espécies-chave estão em perigo ou ameaçadas de extinção, incluindo onças nas Américas ou corais do Caribe, que fornecem alimento e abrigo essenciais para milhares de espécies de invertebrados e peixes.

A onça-pintada, cujo habitat ia do México à Argentina, é o maior felino das Américas e um dos principais predadores. Esses animais no topo da cadeia alimentar mantêm sob controle a população de herbívoros como veados e capivaras. Isso preserva a vegetação e limita a erosão do solo, e garantem que essas espécies não se reproduzam de forma a provocar desequilíbrios populacionais.

Onça-pintada também é espécie-chave Foto: Gerard Lacz/AAI/picture alliance

Extinta no Uruguai e em El Salvador e criticamente ameaçada de extinção na Argentina, restando apenas cerca de 200 exemplares, a importância da onça-pintada como espécie-chave inspirou um programa de reflorestamento das zonas úmidas argentinas, reintroduzindo o felino pela primeira vez em 70 anos.

Animais grandes e plantas minúsculas são espécies-chave

Os elefantes, por sua vez, podem não ser predadores, mas mantêm as savanas da África como engenheiros do ecossistema. À medida que derrubam arbustos e arrancam pequenas acácias, os elefantes mantêm o habitat de animais que pastam, como antílopes, impalas e gazelas. E quando o maior mamífero terrestre cava no solo para criar poços de água, ele permite que espécies como zebras e girafas sobrevivam à seca. Mas essas funções vitais do ecossistema estão sendo perdidas à medida que os elefantes se tornam ameaçados devido à caça ilegal de marfim.

Os musgos esfagno podem ser muito menos visíveis, mas também são uma espécie-chave devido à sua capacidade de manter as turfeiras que regulam o clima. O musgo do pântano, uma briófita, é uma planta esponjosa espessa que retém a água durante a seca e ajuda a retardar a decomposição nas turfeiras, retendo o CO2 que aquece o planeta.

Por que o plâncton marinho é tão importante?

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Esta função climática vital está em declínio, no entanto, com 22,5% das espécies de briófitas ameaçadas apenas na Europa. "Sem essas briófitas, os ecossistemas de turfeiras não podem funcionar de forma eficaz", afirmou a Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade.

O que acontece quando as espécies-chave retornam?

A lontra marinha é uma espécie-chave e peça central nos ecossistemas costeiros que quase foi levada à extinção no século 19. Mas depois que a caça de peles de lontras foi proibida internacionalmente, em 1911, as populações dessas criaturas cresceram, especialmente ao longo da costa oeste da América do Norte.

Lontras ajudam a manter a biodiversidadeFoto: Chee Kee Teo/Comedywildlifephoto.com

As lontras que voltaram se alimentar de ouriços-do-mar e crustáceos que, na ausência de um predador, haviam invadido as florestas de algas. As florestas submarinas podem se regenerar e fornecer habitat para diversas espécies oceânicas, incluindo peixes e invertebrados como lulas e camarões. As lontras marinhas protegidas estão hoje mantendo a biodiversidade da vida marinha da Califórnia ao Alasca.

Benefícios dos predadores

Os lobos, por sua vez, foram caçados no que hoje é o Parque Nacional de Yellowstone cerca de 70 anos antes de serem reintroduzidos, em 1995. A ideia era reequilibrar um ecossistema em colapso. A reintrodução do predador no parque localizado principalmente no estado americano de Wyoming trouxe rápidos benefícios para a biodiversidade.

Sua presença limitou o alcance e o impacto de alces e veados, permitindo a recuperação de diversas vegetações e árvores, como salgueiros e choupos. Carcaças de animais deixadas para trás por lobos forneceram alimento para uma diversidade de espécies, como corvos, águias e ursos. Enquanto isso, conforme os coiotes se retiraram dos territórios dos lobos, outros pequenos predadores e roedores puderam se beneficiar, de acordo com o Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos.

O fato de haver menos animais com cascos destrutivos fez diminuir rapidamente a erosão do solo, permitindo que a biodiversidade ribeirinha se regenerasse. Isso, por sua vez, trouxe de volta castores construtores de ecossistemas.

"É como chutar uma pedra na encosta de uma montanha onde o equilíbrio é perfeito, de modo que essa pedra caindo pode desencadear uma avalanche de mudanças", observou Doug Smith, biólogo da vida selvagem que lidera o Yellowstone Wolf Project.

 

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