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CatástrofeBrasil

O que se sabe e o que falta saber sobre acidente da Voepass

13 de agosto de 2024

No maior desastre no espaço aéreo do Brasil em 17 anos, avião caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, matando todas as 62 pessoas a bordo.

Destroços de avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP)
Destroços do turboélice operado pela Voepass, que caiu em condomínio residencialFoto: Reuters

Quatro dias após a queda de um avião da companhia Voepass em Vinhedo, no interior de São Paulo, que resultou na morte de todas as 62 pessoas a bordo, uma série de detalhes já foi revelada, mas a causa do acidente e outros aspectos da tragédia seguem desconhecidos.

O avião de médio porte, um turboélice modelo ATR-72, levava 58 passageiros e quatro tripulantes de Cascavel, no Paraná, com destino a Guarulhos, em São Paulo, na última sexta-feira. O local da queda fica a cerca de 100 km de Guarulhos.

O acidente do voo 2283 da Voepass (antiga Passaredo) é o quinto maior em número de vítimas já registrado no espaço aéreo do Brasil e o maior desde que um avião da TAM bateu num galpão ao tentar aterrissar em Congonhas, em 2007, deixando 199 mortos.

O acidente

Vídeos registrados por moradores mostraram a aeronave em queda livre antes de atingir o solo, num movimento conhecido como "parafuso chato”, usado para descrever quando um avião entra em rotação em torno de seu eixo vertical enquanto despenca. Esse movimento indica que o turboélice ficou em estol – quando uma aeronave perde a sustentação que lhe permite voar.

Segundo o site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo, o avião da Voepass perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto. O voo decolou às 11h59 e caiu por volta das 13h22.

Fotografias tiradas no local da queda mostraram a aeronave completamente destruída e em chamas. O turboélice atingiu duas casas do Condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. Não houve registro de vítimas em solo.

Aeronave havia sofrido danos em março

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o turboélice ATR-72 operado pela Voepass foi fabricado pela companhia franco-italiana Avions de Transport Régional (ATR) em 2010 e se encontrava em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos. Os quatro tripulantes a bordo estavam devidamente licenciados e com as habilitações válidas, afirmou a agência.

No último domingo, o programa Fantástico, da Rede Globo, revelou que o avião havia sofrido danos em sua cauda durante um pouso em 11 de março deste ano, após uma viagem entre Recife e Salvador.

O avião passou por reparos até julho, quando voltou a operar regularmente. Segundo parecer do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB), os danos sofridos pelo avião foram leves.

Uma funcionária da Voepass ouvida pelo Fantástico relatou que um dos pneus estourou no momento da decolagem, os pedaços de borracha danificaram o sistema hidráulico e isso atrapalhou o pouso, fazendo com que a cauda do avião colidisse com o solo.

Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmam que não é possível estabelecer uma relação entre o ocorrido em março e o acidente da última sexta-feira.

A Voepass afirmou que o avião passou por manutenção de rotina na noite anterior ao acidente.

Vítimas morreram em decorrência do impacto

Nesta segunda-feira, a Polícia-Técnico Científica de São Paulo afirmou que as 62 vítimas do acidente morreram de politraumatismo.

Em coletiva de imprensa, o diretor do Instituto Médico Legal (IML), Vladmir Alves dos Reis, explicou que os passageiros e tripulantes morreram em decorrência do impacto da queda e em seguida foram carbonizados.

"Temos a convicção e certeza científica de que todos morreram de politraumatismo. A aeronave despencou de 4 mil metros, e o impacto causou múltiplos traumas. Já as queimaduras, que culminaram na carbonização de alguns corpos, foram secundárias aos traumas”, disse.

27 vítimas identificadas

Até a noite desta segunda-feira, 27 corpos das 62 vítimas do acidente haviam sido identificados, e 12, liberados aos familiares. Os nomes das vítimas foram divulgados pela Voepass, mas o IML ainda não revelou quem eram os mortos já identificados.

Segundo o diretor do IML, será possível identificar todas as vítimas, mas o processo ainda deve demorar.  Para isso serão analisadas impressões digitais, arcadas dentárias e DNA.

Dos 62 mortos, 34 eram do sexo masculino, e 24 eram de Cascavel.

Primeira fase das investigações concluída

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da FAB finalizou nesta segunda-feira a fase inicial da investigação do acidente com o voo 2283. Um relatório preliminar apontando as prováveis causas da queda da aeronave deverá ser concluído em até 30 dias.

No domingo, o Cenipa havia anunciado que conseguiu extrair com sucesso todo o conteúdo das duas caixas-pretas do avião. Os dados do gravador de voz, o Cockpit Voice Recorder, e do gravador de dados, Flight Data Recorder, confirmaram que não houve, em nenhum momento, por parte da tripulação da aeronave acidentada, declaração de emergência aos órgãos de controle de tráfego aéreo.

A FAB informou que os motores do turboélice ATR 72-500 e outras partes do avião que podem ser úteis à investigação do acidente já foram removidas e transportadas para a sede do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa), em São Paulo.

Além da investigação administrativa a cargo do Cenipa, cujo objetivo é esclarecer as causas de acidentes aéreos em geral e, assim, rever padrões de segurança de voo e tentar impedir a ocorrência de eventos parecidos, a queda do avião é alvo de dois inquéritos policiais, um instaurado pela Polícia Federal (PF) e outro pela Polícia Civil de São Paulo.

Especialistas levantam hipótese de gelo nas asas

Especialistas em aviação afirmam haver a possibilidade de que a queda do avião tenha sido provocada pela formação de gelo nas asas, levando em conta as condições meteorológicas e um acidente parecido ocorrido nos EUA.

A Voepass não descartou essa hipótese, mas não há confirmação até o momento de que os sistemas antigelo do turboélice tenham falhado. Segundo a empresa, a tripulação do voo 2283 sabia que enfrentaria gelo na viagem.

Investigadores também não descartaram a possibilidade, mas afirmam que ainda é cedo para determinar as causas da tragédia.

lf (Abr, ots)

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