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CatástrofeLíbano

O que se sabe sobre a megaexplosão em Beirute

5 de agosto de 2020

Uma explosão seguida de incêndios e outras explosões menores até a devastadora detonação final. Catástrofe equivale a terremoto de 3,5 na escala Richter e foi sentida até em Chipre. Mas, muitas perguntas estão em aberto.

Imagem aérea da zona portuária de Beirute completamente destruída
Área próxima ao porto de Beirute completamente destruída de decorrência à explosão devastadora de terça-feira (04/08) Foto: Getty Images/AFP

Uma explosão seguida de um segundo estouro devastador atingiu fortemente Beirute. A causa da detonação devastadora parece esclarecida, mas não o gatilho. Muitas perguntas ainda estão em aberto. Enquanto isso aumenta o número de vítimas. Confira o que se sabe sobre as explosões.

O que aconteceu?

Por volta das 18 horas (horário local) da terça-feira, houve uma explosão na área portuária da capital libanesa. Seguiu-se um incêndio e algumas pequenas explosões, que culminaram numa detonação maciça e sua consequente onda de choque.

Ao menos 137 pessoas morreram e mais de cinco mil ficaram feridas, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde do Líbano nesta quinta-feira (06/08).

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, afirmou ainda na terça-feira que 2.750 toneladas de nitrato de amônio apreendido haviam explodido. O material ficou armazenado num armazém por seis anos sem as devidas precauções. Há especulações que se trata da carga de um navio que estava a caminho da Geórgia para Moçambique. No entanto, existem declarações distintas sobre o motivo pelo qual a carga foi confiscada.

Segundo a revista alemã Der Spiegel, as autoridades libanesas teriam proibido o navio cargueiro de continuar viagem em 2014 devido a vários defeitos. A tripulação ficou sem combustível e provisões, e o proprietário aparentemente abandonou o navio. A tripulação foi autorizada a deixar o Líbano após uma disputa jurídica. O navio foi deixado em Beirute com a carga, que foi alojada num armazém.

Uma enorme nuvem em forma de cogumelo se formou no céu durante a detonação. Uma onda de choque se expandiu rapidamente pela cidade. Houve danos a quilômetros de distância. No porto de Beirute, os contêineres ficaram amassados como latinhas de sardinhas, com o conteúdo espalhado pelo chão.

Houve focos de incêndio em navios, carros ficaram carbonizados. Nas ruas circundantes, vidraças e vitrines ficaram destruídas. Uma enorme fumaça pairou sobre toda a área do porto. Mesmo horas após as explosões, helicópteros circulavam a área para combater as chamas. Equipes de resgate vasculharam os escombros durante a noite em busca de mortos e feridos.

Em discurso à nação, Diab prometeu que os responsáveis pelo desastre "pagariam por isso". Ele não mencionou a origem da primeira explosão, também não num segundo breve discurso televisionado nesta quarta-feira.

Socorristas encontram sobrevivente, nesta quarta-feira (05/08), sob os escombros da devastadora explosão em Beirute Foto: picture-alliance/AP Photo/H. Ammar

Para que é utilizado o nitrato de amônio?

O nitrato de amônio é um sal inodoro formado a partir de amônia e ácido nítrico, bastante utilizado na agricultura, para a produção de fertilizantes, e na construção, para explosivos.

Como poderia pegar fogo?

Ainda não está claro por que o nitrato de amônio explodiu. O professor de química Jimmie Oxley, da Universidade de Rhode Island, disse à agência de notícias AFP que o nitrato de amônio é difícil de inflamar sob condições normais de armazenamento e a temperaturas moderadas. Ele suspeita que houve uma pequena explosão que iniciou a reação química do nitrato de amônio.

Especialistas em explosões e substâncias explosivas analisaram gravações em vídeo para a agência de notícias AP. Segundo eles, a primeira detonação e os incêndios menores podem estar relacionados à queima de fogos de artifício.

Em casos normais, o nitrato de amônio é armazenado sob condições estritas: o produto químico não deve estar perto de combustíveis ou fontes de calor. Em muitos países da União Europeia (UE), o nitrato de amônio precisa ser misturado à cal por motivos de segurança. A substância levou a numerosas explosões perigosas no último século – desde acidentes, ataques industriais e atentados.

Em setembro de 1921, a explosão de nitrato de amônio numa fábrica da Basf, na cidade alemã de Ludwigshafen, resultou na morte de mais de 500 pessoas. A bomba fabricada para o atentado de Oklahoma, em 1995, também continha a substância. E o extremista de direita norueguês Anders Breivik também usou o componente químico no carro-bomba detonado em Oslo, em julho de 2011.

Poderia ter sido um atentado?

Não há evidencia pública das autoridades libanesas de que a explosão foi deliberada. Na noite de terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que generais americanos informaram que as explosões foram aparentemente causadas por "algum tipo de bomba". "Parece um ataque terrível", disse Trump.

Quando questionado sobre as declarações de Trump, um porta-voz do Pentágono retrucou à AFP: "Não temos nada para você. Você precisa entrar em contato com a Casa Branca para obter esclarecimentos".

Posteriormente, o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, refutou as declarações de Trump e afirmou acreditar que as explosões em Beirute foram um infortúnio. "Ainda estamos coletando informações, mas a maioria das fontes nos levam a crer que foi um acidente", disse Esper.   

Presidente do Líbano, Michel Aoun (2º da esq. à dir.) visitou o local das explosões em Beirute, nesta quarta-feira (05/08)Foto: Reuters/Dalati Nohra

Como está a situação em Beirute?

O governador da província de Beirute, Marwan Abboud, disse que entre 250 mil e 300 mil pessoas perderam suas casas. Segundo Abboud, um relatório de segurança alertou em 2014 para uma possível explosão em Beirute porque materiais altamente explosivos não estariam armazenados corretamente.

As equipes de resgate continuam procurando por vítimas sob os escombros. Durante a noite, uma queda de energia em grandes partes da cidade afetou as buscas. Segundo relatos de autoridades de segurança, ao menos 100 pessoas ainda estão desaparecidas. Vários países ofereceram ajuda e estão enviando equipamentos, especialistas e cães treinados para procurar as vítimas.

Os hospitais de Beirute, que já estavam sobrecarregados devido à epidemia de covid-19, ficaram completamente lotados com a chegada dos numerosos feridos. "É literalmente um desastre" resumiu o ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan.

A Agência Federal de Assistência Técnica da Alemanha (THW) comunicou que ao menos oito cidadãos alemães ficaram feridos no desastre, enquanto a Holanda confirmou que o embaixador holandês no Líbano e sua esposa também estavam entre os feridos. Cerca de 24 cidadãos franceses sofreram ferimentos e um morreu, segundo autoridades da França.

As Forças Armadas de Bangladesh disseram que 21 membros da Força Interna das Nações Unidas e da Marinha de Bangladesh também sofreram ferimentos na explosão.

Por que os danos são tão grandes?

A explosão principal foi ouvida em todo o país – e também em Nicósia, a capital do Chipre, localizada a 240 quilômetros no Mar do Mediterrâneo. Segundo sismólogos, a explosão equivaleu a um terremoto de magnitude 3,3 na escala Richter. A explosão causou uma onda de choque maciça.

Prédios próximos ao porto desabaram. Até no aeroporto, situado a nove quilômetros de distância, janelas estouraram. Estima-se que a onda de choque teve a força de um tornado. O armazém estava localizado perto de um distrito comercial e de entretenimento.

A explosão também consumiu um grande silo de trigo no porto, levantando preocupações de que o país, que depende de importações, vive uma dura crise econômica e está em meio a uma epidemia de coronavírus, possa ter dificuldades em se alimentar.

PV/dw/ots

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