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O que se sabe sobre a situação em Mariupol

18 de março de 2022

Em meio a mortes, destruição de infraestrutura e tentativas de evacuação fracassadas, é enorme o sofrimento dos civis na cidade portuária no sudeste ucraniano. Por que Mariupol é tão importante para os invasores russos?

Três indivíduos pesadamente agasalhados, ruínas ao fundo
Moradores esperam para ser evacuados de MariupolFoto: ALEXANDER ERMOCHENKO/REUTERS

As batalhas pelo controle de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, são especialmente violentas. Segundo fontes ucranianas, grande parte da população da cidade no Mar de Azov está há cerca de duas semanas privada do abastecimento de água, eletricidade e gás, assim como de gêneros alimentícios e medicamentos.

Ainda antes do ataque ao Teatro Dramático Regional de Donetsk, na quarta-feira (16/03), as autoridades locais registravam mais de 2.200 mortos. Consta que cerca de mil cidadãos haviam buscado refúgio no abrigo antiaéreo do prédio cultural, que ficou basicamente reduzido a ruínas.

Na falta de dados oficiais sobre o número de eventuais mortos ou feridos, só há a postagem de um político local no Facebook, nesta quinta-feira: "Após uma noite horrenda de incerteza, na manhã do 22º dia de guerra finalmente boas notícias de Mariupol: o abrigo antiaéreo resistiu!"

O Ministério russo da Defesa desmentiu o bombardeio do teatro. Da mesma forma que na semana anterior, quando ataques a uma clínica de maternidade causaram horror e condenação internacional, Moscou alegou que a explosão teria sido obra do nacionalista Batalhão Azov.

O regimento ucraniano de voluntários é, de fato, estreitamente ligado a Mariupol: em meados de 2014, ainda como milícia, participou das batalhas pela retomada da cidade portuária, no contexto da anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia. Mais tarde o grupo foi integrado às Forças Armadas nacionais.

Os combatentes do Batalhão Azov são acusados não só de ideologia extremista de direita como de numerosas violações dos direitos humanos e crimes de guerra. Moscou tem incessantemente frisado a presença na Ucrânia de grupos de ultradireita, a fim de tachar o país como "neonazista".

Teatro Dramático de Donetsk, em Mariupol, após bombardeio (foto do Batalhão Azov)Foto: Azov Battalion/AP/dpa/picture alliance

Evacuações frustradas, tréguas desrespeitadas

As autoridades ucranianas esperam em breve poder abrir corredores humanitários para a evacuação e abastecimento dos civis das cidades sitiadas, também em Mariupol.

Apesar de registrar a saída de 6.500 veículos privados, na quarta e quinta-feira, o prefeito Vadym Boichenko ressalvou que não houve uma trégua real: os moradores, portanto, deixaram a cidade sob bombardeio, afirmou na madrugada da quinta-feira no serviço de mensagens instantâneas Telegram.

Fontes ucranianas informam que os habitantes de Mariupol que, apesar de tudo, conseguem chegar à cidade de Berdyansk, mais de 70 quilômetros a oeste, são orientados a seguir para Zaporíjia. Nesta, uma usina nuclear foi recentemente atingida por bombardeios russos.

No momento não há como verificar de forma independente os dados relativos a Mariupol. Kiev e Moscou se acusam mutuamente pelas tentativas de evacuação fracassadas e pelos acordos de cessar-fogo não respeitados. Pelo menos numa evacuação bem-sucedida, na terça-feira, 20 mil moradores puderam se retirar da cidade portuária.

Pelo menos 2.200 já morreram em Mariupol desde o início da invasão russaFoto: Evgeniy Maloletka/AP/dpa/picture alliance

Por que Mariupol?

Devido a sua localização estratégica, a poucas dezenas de quilômetros das fronteiras terrestre e marítima da Rússia, Mariupol tem sido um dos alvos principais da guerra iniciada pelo Kremlin contra a Ucrânia.

Com mais de 400 mil habitantes, a cidade portuária fica entre os territórios no Donbass, ocupados por separatistas pró-russos, e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Caso tome a cidade, Putin poderá criar um corredor entre seu país, o Donbass e a Crimeia, assumindo controle total do Mar de Azov.

Mariupol é também economicamente importante: suas duas usinas siderúrgicas, a Illich e a Azovstal, são responsáveis por uma parcela importante da produção de aço ucraniana. Em maio de 2014, quando irrompeu a guerra na área de Donbass, tropas pró-russas expulsaram as forças locais, porém a Ucrânia retomou a cidade um mês mais tarde.

Tendo fracassado na recaptura de Mariupol, as tropas de Moscou intensificaram os bombardeios e o sítio, provocando uma catástrofe humanitária. Caso o presidente russo, Vladimir Putin, adote táticas similares para tomar cidades maiores, como Kiev e Dnipro, o resultado deverá ser ainda mais dramático.

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