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Esporte

O que se sabe sobre a tragédia da Chapecoense

1 de dezembro de 2016

Desastre aéreo considerado o mais trágico da história do esporte matou 71 pessoas na Colômbia. Confira o que já foi esclarecido sobre a queda do avião, o estado dos sobreviventes e sobre o futuro do clube.

Kolumbien Flugzeug Absturzstelle
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Benavides

Como aconteceu o acidente?

O voo CP2933 da companhia boliviana LaMia, que transportava a delegação da Chapecoense, decolou na última segunda-feira (28/11) de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, rumo a Rionegro, na Colômbia. Por volta das 22h (horário local), quando estava a cerca de 30 quilômetros do aeroporto internacional José María Córdova, a aeronave declarou emergência elétrica.

No entanto, segundo informações das autoridades colombianas, outras três aeronaves estavam se aproximando da pista, e uma delas – o voo FC8170 da VivaColombia – sofreu um vazamento de combustível e pediu prioridade de pouso. Os controladores, então, colocaram os aviões restantes em espera. O da Chapecoense era o terceiro na fila e começou a voar em círculos.

Na terceira volta, o voo da LaMia voltou a declarar emergência elétrica e pediu para ser passado na frente da fila de espera. Neste momento, a aeronave iniciou, de forma acelerada, o processo de descida. Uma pane elétrica desligou por completo os equipamentos eletrônicos.

O último sinal do voo foi recebido quando o avião estava a 2.743 metros de altitude – a altitude mínima a ser mantida na região é de 3.048 metros. Ou seja, o piloto estava voando às cegas, sem noção de altitude. Gravações de áudio mostram que ele pediu que os controladores ajudassem a guiá-lo até a pista.

A queda ocorreu na Serra El Gordo, zona rural do município de La Unión, em Antioquia. A aeronave, que no momento deveria estar pesando por volta de 30 toneladas, bateu uma asa a uma velocidade de aproximadamente 250 km/h de um lado do morro, provavelmente capotou, e deslizou até o vale do outro lado daquele morro. Os destroços foram encontrados a 17 quilômetros do aeroporto. 

Após as declarações das autoridades colombianas, a companhia aérea VivaColombia se manifestou. A empresa negou que tenha havido um vazamento de combustível em sua aeronave que aterrissou no aeroporto internacional José Maria Córdova, em Rionegro, minutos antes do acidente do avião que levava a delegação da Chapecoense.

De acordo com a VivaColombia, o capitão do voo FC8170, que fazia a rota entre San Andrés e Bogotá, "não declarou estado de emergência", o avião "não apresentou vazamento, escape ou derramamento de combustível" e "alternou ao aeroporto de Rionegro como medida preventiva, seguindo os protocolos de segurança". Ainda segundo a empresa aérea, a torre de controle autorizou o pouso do avião "dentro de um funcionamento normal".

O que causou o acidente?

A aeronáutica colombiana confirmou que o avião da LaMia não tinha combustível no momento da queda. O motivo ainda não foi oficializado pelas autoridades, que aguardam a análise das duas caixas-pretas, resgatadas em perfeito estado.

O modelo Avro RJ85 – o mesmo usado pelo família real britânica – foi construído para voos de curta duração. Seu alcance é de aproximadamente três mil quilômetros e pode voar por cerca de quatro horas e meia.

A rota entre Santa Cruz de la Sierra e o aeroporto de Rionegro soma 2.985 quilômetros. Quando o voo da Chapecoense chegou perto do aeroporto José María Córdova, o Avro RJ85 já estava há quatro horas e 15 minutos no ar.      

Alan Ruschel em ação contra o Palmeiras há menos de uma semana. Ele é um dos seis sobreviventes do desastreFoto: Getty Images/F. Vogel

Porém, o voo da LaMia foi colocado em espera devido ao suposto pedido de emergência do voo da VivaColombia. Cada órbita voada pelo avião da companhia boliviana levou quatro minutos e queimou o restante do combustível. Neste modelo de aeronave, quando os motores param por falta de combustível, para também a geração de energia – que, por fim, resulta em pane elétrica.

Segundo documentos a que o Jornal Hoje, da emissora Globo, teve acesso, uma funcionária da Aasana, a agência nacional de aviação da Bolívia, chegou a questionar o piloto sobre a autonomia do avião para o trajeto. Antes do voo, a funcionária Celia Castedo Monasterio alertou que o modelo Avro RJ85 não tinha capacidade de armazenamento de combustível adequada para aquele plano de voo. Ela disse que faltava um plano alternativo, pois a quantidade de combustível não seria suficiente no caso de uma emergência.

De acordo com o Jornal Hoje, o piloto, no entanto, insistiu em prosseguir com o voo, dizendo que faria a viagem em menos tempo e que a autonomia seria suficiente. A funcionária da Aasana, que não tinha autoridade para impedir a realização do voo, foi afastada do cargo nesta quinta-feira (1º/12),

Após a Aeronáutica colombiana confirmar que não havia combustível no avião da LaMia no momento da queda, a Bolívia suspendeu a licença da companhia aérea. A Justiça boliviana abriu um inquérito para investigar a empresa.  

Quem são as vítimas?

A lista do voo tinha 81 nomes, mas quatro pessoas não embarcaram – Luciano Buligon, prefeito de Chapecó, Plínio David de Nes Filho, presidente do conselho deliberativo do clube, Gelson Merisio, presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, e Ivan Carlos Agnoletto, jornalista da Rádio Condá, de Chapecó.

No momento do acidente, 77 pessoas estavam a bordo da aeronave: 22 atletas, 24 membros da comissão técnica, dirigentes e convidados da Chapecoense, 21 jornalistas e nove tripulantes. Com exceção da tripulação, todos eram brasileiros.

Ao todo, 71 pessoas morreram. Os jogadores, Alan Ruschel (lateral-esquerdo), Neto (zagueiro), Jakson Follmann (goleiro), o jornalista Rafael Henze (Rádio Oeste Capital) e dois da tripulação, Erwin Tumiri e Ximena Suarez (ambos bolivianos) são os únicos sobreviventes.  

Qual a situação dos sobreviventes?

Segundo o último relatório médico divulgado pela própria Chapecoense, os jogadores Alan Ruschel e Neto e o jornalista Rafael Henze se encontram em estado crítico, mas estabilizados.

Ruschel foi submetido a uma cirurgia na coluna vertebral, mas está com movimentos normais de braços e pernas. No sábado (03/12), o pai do jogador relatou que ele estava respirando sem aparelhos.

Neto sofreu um traumatismo cranioencefálico e fraturas expostas nas pernas. Foi resgatado com pressão arterial muito baixa, pois perdeu muito sangue no acidente.

O goleiro reserva Follmann sofreu politraumatismo e teve a perna direita amputada. De acordo com o hospital onde está internado, a perna esquerda não terá de ser amputada. 

Henze teve um trauma torácico e uma perna fraturada. Ele está em estado respiratório estável. Os tripulantes se recuperam bem e já receberam até visitas.  

Por que a Chapecoense viajou com a LaMia?

Devido ao cronograma apertado – a Chapecoense se classificou à final da Copa Sul-Americana em 23 de novembro – os clubes de futebol não conseguem dezenas de assentos em voos comerciais. Portanto, com a logística dificultada, eles precisam agendar voos fretados.

A companhia aérea LaMia possui somente a autorização para oferecer justamente esses voos charter. Nos últimos dois anos, sua especialidade vinha sendo o transporte de times de futebol sul-americanos, entre eles as seleções de Argentina e Bolívia e o próprio Atlético Nacional, que seria o adversário da Chapecoense em Medellín. Para um clube de menor porte, custos são ainda mais importantes. A Chapecoense pagou 130 mil dólares pelos voos de ida e volta entre Bolívia e Medellín, preço normal para este tipo de operação.

O portal UOL relatou ter consultado dirigentes de clubes brasileiros e prestadores de serviço associados a essas equipes que afirmaram que havia uma "orientação informal" da Conmebol para que a LaMia fosse usada para os deslocamentos. Conmebol e Chapecoense desmentiram.   

Qual a história da LaMia?

O jato Avro RJ85 operado pela companhia boliviana LaMia é do mesmo modelo do usado pela família real britânicaFoto: Reuters/M. Varley

A LaMia (Línea Aérea Mérida Internacional de Aviacón) é uma pequena companhia aérea de capital venezuelano fundada por Ricardo Albacete Vidal. A companhia nasceu de forma obscura. Criada após um acordo com o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, a LaMia foi registrada como uma companhia de ciência e tecnologia para poder receber o dinheiro de um fundo de investimento de chineses que visava estimular a economia venezuelana.

A LaMia iniciou suas operações em 2010, no estado venezuelano de Mérida. O negócio, no entanto, não deu certo. Em janeiro de 2015, Albacete desistiu de operar na Venezuela, transferiu os aviões para a Bolívia e criou a LaMia Bolívia, em sociedade com Miguel Quiroga, o piloto que comandava o voo da Chapecoense. 

Por que foi feita uma escala na Bolívia?

A Chapecoense pegou um voo comercial até Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e, em seguida, embarcou na aeronave da LaMia. O planejado era, no entanto, iniciar o trajeto em São Paulo já com a companhia aérea boliviana. No entanto, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vetou o fretamento.

O pedido da Chapecoense foi negado com base no Código Brasileiro de Aeronáutica e na Convenção de Chicago, que trata dos acordos de serviços aéreos entre países. Segundo tais regulamentos, o voo fretado só poderia ser realizado por companhias brasileiras ou colombianas – os países de origem e destino da viagem.  

Qual assistência está sendo oferecida aos familiares?

A Cruz Vermelha disponibilizou uma linha telefônica, com intérprete em português, para que os familiares possam buscar informações sobre a situação dos sobreviventes. O número é +57 4 3505300.

Uma campanha nas redes sociais pediu que falantes de português em Medellín ajudassem em traduções. Além disso, há mais de 200 voluntários participando da organização de guichês de atendimento para receber os parentes das vítimas. Tanto na cidade colombiana como em Chapecó, os parentes estão sendo acompanhados por psicólogos. 

O que acontecerá com a Chapecoense e o título da Sul-Americana?

Treinador Reinaldo Rueda e jogadores do Atlético Nacional participaram do tributo à Chapecoense em MedellínFoto: picture alliance/dpa/M. D. Castaneda

A final da Copa Sul-Americana de 2016, que seria disputada entre a Chapecoense e o Atlético Nacional, foi suspensa. Quanto aos campeonatos no Brasil, a CBF decretou luto oficial por sete dias e adiou todas as partidas previstas neste período: a final da Copa do Brasil, a última rodada do Campeonato Brasileiro e a decisão da Copa do Brasil Sub-20.

A Conmebol ainda não se pronunciou sobre a remarcação da final da Copa Sul-Americana. A decisão será tomada apenas na próxima reunião da entidade, em 21 de dezembro. Em menos de 24 horas após a tragédia, o Atlético Nacional abdicou do título e pediu à confederação sul-americana que a Chapecoense fosse declarada campeã da competição. Caso seja obrigado a jogar a final, o clube colombiano comunicou que entrará em campo com um time sub-17 e, se for necessário, fará gols contra e entregará a partida.

O futuro da Chapecoense ainda é incerto, e é muito cedo para falar sobre ele. Atualmente a equipe catarinense conta com apenas 11 atletas profissionais no elenco. Somando os nomes das categorias de base, o clube soma 30 atletas disponíveis no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF, ou seja, com condições legais para jogar.

Outros clubes brasileiros sugeriram à CBF uma imunidade de rebaixamento da Chapecoense pelos próximos três anos. A Chapecoense diz que aceitará a ajuda de clubes, CBF e da Rede Globo (que prometeu aumentar a cota televisiva), mas afirma também ter condições de manter uma saúde financeira saudável. 

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