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CriminalidadeAlemanha

O que se sabe sobre o ataque a tiros em Hamburgo

Publicado 10 de março de 2023Última atualização 11 de março de 2023

Homem invadiu local de reunião do grupo religioso, matou sete pessoas e depois se suicidou. Em janeiro, polícia foi alertada sobre o indivíduo, que tinha problemas psicológicos, mas avaliou não haver ameaça iminente.

Flores e velas, em homenagem às vítimas, foram colocadas em frente ao prédio onde ocorreu o ataque a tiros em Hamburgo.
Em homenagem às vítimas, flores e velas foram colocadas em frente ao prédio onde ocorreu o ataqueFoto: Christian Charisius/dpa/picture alliance

O governo e a polícia de Hamburgo, no norte da Alemanha, divulgaram nesta sexta-feira (10/03) detalhes sobre o ataque a tiros que resultou na morte de oito pessoas – entre elas, o próprio atirador –, na noite anterior, em uma sala de reuniões de Testemunhas de Jeová.

A comunidade religiosa de Testemunhas de Jeová na Alemanha, por sua vez, disse que está "profundamente entristecida com o horrível ataque a seus membros no Salão do Reino em Hamburgo, após um culto religioso".

O que se sabe

O autor do ataque que matou sete pessoas em uma sala de reuniões de Testemunhas de Jeová em Hamburgo era um ex-membro da comunidade, segundo informação revelada em uma coletiva de imprensa nesta sexta. 

Andy Grote, secretário do Interior de Hamburgo, informou que, de acordo com a polícia, a oitava vítima é o atirador, que cometeu suicídio após o ataque. Outros seis mortos (quatro homens e duas mulheres) tinham entre 33 anos e 60 anos de idade e um era um feto de sete meses – a mãe sobreviveu. Além disso, oito pessoas ficaram feridas, quatro delas com gravidade, e 20 saíram sem ferimentos.A polícia acredita que o perpetrador, identificado como Philipp F., tenha agido sozinho. Na noite de quinta-feira surgiram indícios de um segundo possível autor do crime, motivo pelo qual os policiais realizaram buscas com barcos e helicópteros e bloqueios de estradas. As suspeitas, porém, não se confirmaram, de acordo com a polícia.

Philipp F. morava em Hamburgo desde 2014. A arma dele, uma semiautomática Heckler & Koch P30, é considerada como sendo a que foi usada no ataque. Ele teria disparado um total de nove pentes com 15 balas cada. Mais 22 pentes foram encontrados junto ao corpo do atirador.

A polícia trata o caso como um ato de homicídio e diz não haver indícios de ter sido um ataque terrorista.

Polícia não vê indício de ataque terroristaFoto: Christian Charisius/dpa/picture alliance

Polícia recebeu alerta anônimo

Em janeiro, a polícia recebeu uma carta anônima solicitando a revisão de seu porte de arma, alegando que Philipp F. tinha provavalmente uma doença mental, mas que não estava sob tratamento e demonstrava estar particularmente irritado com tudo o que é religioso – especialmente as Testemunhas de Jeová, comunidade que deixou por vontade própria, mas descontente.

No início de fevereiro, Philipp F. recebeu uma visita sem aviso prévio por dois funcionários da autoridade de armas, numa verificação padrão, ocorrida em reação à denúncia anônima. De acordo com as autoridades, F. foi cooperativo.

De acordo com o chefe de polícia de Hamburgo, Ralf Martin Meyer, o homem, de 35 anos, tinha posse legal da pistola semiautomática desde dezembro passado. A arma estava guardada em um cofre, e Philipp F. se mostrou compreensivo quando dois policiais o avisaram sobre um projétil que estava fora do cofre.

"As opções legais dos oficiais se esgotaram", disse Meyer, ressaltando que, com base nos resultados da inspeção, não havia razão para outras medidas na época.

"Temos que analisar criticamente se os poderes legais precisam ser ajustados", frisou Meyer.

"Verdade sobre Deus e Satanás"

Na plataforma de comércio online Amazon, Philipp F. estava promovendo seu livro autopublicado que, em tradução livre, tem o título A verdade sobre Deus, Jesus Cristo e Satanás", uma mistura de conselhos de administração de negócios e prosa fundamentalista. 

A obra foi agora removida do site, mas a mídia alemã disse que o texto detalha sua “jornada pessoal para o inferno” de três anos e descreve um “governo celestial superior” com 101 milhões de seres espirituais.

Philipp F. diz que foi criado em uma família estritamente evangélica e supostamente teve "sonhos proféticos" na infância.

O livro, de 292 páginas, apresenta a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia como "punições divinas" e descreve os temores de uma terceira guerra mundial. O texto expressa pontos de vista pró-russos e misóginos, de acordo com a revista Der Spiegel.

Primeiros policiais demoraram apenas quatro minutos para chegar ao localFoto: Daniel Bockwoldt/dpa/picture alliance

Ação rápida evitou tragédia pior

Grote e Meyer destacaram na coletiva que a ação rápida dos agentes de polícia evitou que a tragédia fosse ainda maior: quatro minutos após as primeiras chamadas para os serviços de emergência, os primeiros policiais chegaram ao prédio onde ocorreu o ataque.

"É muito provável que não haja mais vítimas devido à intervenção muito, muito rápida e determinada das forças policiais", disse Grote, destacando que se trata de um dos piores crimes da história recente de Hamburgo.

A polícia e os bombeiros receberam as primeiras chamadas de emergência às 21h04 de quinta-feira, relatando tiros em uma sala onde ocorria um evento das Testemunhas de Jeová desde as 19h. No total, foram quase 50 pedidos de ajuda.

De acordo com as investigações iniciais, Philipp F. entrou pelo lado norte do prédio. No estacionamento, atirou dez vezes contra o carro de uma mulher que estava manobrando – mas que escapou com ferimentos leves. O chefe da Polícia de Proteção, Martin Tresp, disse que houve "tiros permanentes" enquanto Philipp F. entrava no prédio.

Por volta das 21h11, as forças da unidade de apoio para operações policiais especiais (USE, na sigla em alemão) conseguiram acesso ao prédio. Philipp F. então fugiu para o primeiro andar, onde, segundo a polícia, cometeu suicídio.

A USE ainda é relativamente jovem. Criada em outubro de 2020, ela é especialmente treinada para lidar com ataques homicidas e atos de terrorismo.

le/md/gb (AFP, ots)