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TerrorismoIrã

O que se sabe sobre o ataque que matou dezenas no Irã

4 de janeiro de 2024

Mais de 80 morreram após duas explosões em cerimônia em homenagem a general iraniano morto em 2020 pelos EUA. "Estado Islâmico" reivindica autoria do atentado.

Homens em volta de furgão
Ataque em Kerman foi o mais letal no país desde a Revolução Islâmica de 1979Foto: Mahdi K. Ravari/Mehr News/AP/dpa/picture alliance

No quarto aniversário da morte do general iraniano Qassim Soleimani, pelo menos 84 pessoas morreram e 284 ficaram feridas em duas explosões em Kerman, cidade localizada 820 quilômetros a sudeste de Teerã. Nesta quinta-feira (04/01), os serviços de emergência iranianos corrigiram mais uma vez a cifra de óbitos para baixo, depois de terem anunciado inicialmente a morte de 103 e depois baixado a cifra para 95.

O chefe da Organização Nacional de Emergência Médica do Irã, Jafar Miadfar, atribuiu a confusão sobre os números à condição dos corpos.

"Estado Islâmico" assume autoria

A organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do atentado em uma nota divulgada em seu canal no Telegram nesta quinta-feira. O grupo afirmou que dois de seus membros "ativaram seus coletes explosivos" próximo à sepultura de Soleimani.

A declaração, cuja autenticidade não pôde ser confirmada, traz semelhanças com outras feitas pelo EI, embora alguns detalhes estejam em contraste com reivindicações feitas anteriormente pelo grupo extremista. Entre outras coisas, a nota não identificou qual ramificação do EI teria realizado o atentado, e apenas trazia o nome do grupo em inglês no alto da mensagem.

O especialista em Oriente Médio Arash Azizi, da Universidade Clemson, no estado americano da Carolina do Sul, afirmou anteriormente em entrevista à DW que o grupo terrorista "Estado Islâmico – Província de Khorasan" (EI-K) poderia estar por trás das explosões. 

O grupo é uma ramificação regional do EI que atua principalmente no Afeganistão. Azizi acredita que as duas bombas detonadas, uma após a outra, tinham como objetivo matar o maior número possível de civis: após a primeira explosão, muitas pessoas reuniram-se no local, assim como oficiais de equipes de resgate, muitos dos quais foram mortos pela segunda bomba.

"Um ponto decisivo é que a primeira bomba foi colocada perto de um museu cujo edifício costumava ser um templo do fogo zoroastrista", disse Azizi. "O EI-K considera não apenas a religião do zoroastrismo, mas também o Irã, a cultura iraniana e, por último, mas não menos importante, o xiismo como a maior ameaça ao Islã."

Atentado mais letal desde a Revolução Islâmica

Este foi o ataque mais letal nos 45 anos de história da República Islâmica do Irã. O incidente tem potencial para agravar ainda mais as tensões no Oriente Médio, já exacerbadas pela guerra entre Israel e o grupo radical palestino Hamas.

Até esta quarta-feira, o ataque mais letal em solo iraniano desde a Revolução Islâmica havia sido o atentado com um caminhão-bomba à sede do Partido Islâmico Republicano em Teerã, que matou 72 pessoas, incluindo quatro ministros de Estado, oito vice-ministros e 23 parlamentares.

O governo chama o ocorrido de ataque terrorista e ordenou luto nacional para esta quinta-feira.

O chefe de Estado do país, o aiatolá Ali Khamenei, anunciou uma reação forte. "Vocês devem saber que este ato catastrófico resultará numa resposta dura", enfatizou o líder religioso na quarta-feira, em comunicado publicado pela mídia estatal.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, também condenou veementemente o ataque e cobrou uma resposta dura.

Condenação internacional

O governo alemão condenou o ataque como um ato de terrorismo, assim como o gabinete do chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell.

O governo brasileiro divulgou nota oficial também condenando o atentado. "Ao expressar suas condolências aos familiares das vítimas e sua solidariedade ao povo e ao governo da República Islâmica do Irã, o Brasil reitera seu mais firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo", diz comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Logo após o atentado, Teerã acusou os Estados Unidos e Israel de estarem envolvidos nas explosões.

Washington, porém, negou qualquer responsabilidade. "Os EUA não estiveram de forma alguma envolvidos, e qualquer insinuação em contrário é ridícula", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano Matthew Miller. Ele acrescentou que seu governo também não tinha motivos para acreditar que Israel estivesse envolvido no incidente.

O Conselho de Segurança da ONU condenou o atentado como um "ato terrorista covarde". "Os membros do Conselho de Segurança reafirmam que o terrorismo em todas as suas formas e manifestações constitui uma das mais graves ameaças à paz e segurança internacional", afirmou o órgão em nota.

Os países que integram o Conselho sublinharam a "necessidade de responsabilizar os perpetradores, organizadores, financiadores e patrocinadores desses atos condenáveis de terrorismo e levá-los à Justiça".

Herói nacional morto pelos EUA

O general Qassim Soleimani, que foi uma espécie de arquiteto das atividades militares iranianas no Oriente Médio, é tido como um herói nacional pelo regime teocrático iraniano.

Entre suas atuações na região, ele ajudou a preservar o governo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, durante as revoltas de 2011 na Primavera Árabe que resultaram na guerra civil no país, que continua até os dias atuais.

Sua popularidade no Irã aumentou durante a invasão americana no Iraque em 2003, quando ele se tornou alvo dos EUA por ajudar grupos radicais a colocarem bombas em estradas que mataram e mutilaram soldados americanos.

Uma década mais tarde, Soleimani se tornaria o principal e mais conhecido líder militar iraniano. Ele rejeitou o clamor popular para que entrasse para a política, embora fosse tão ou mais poderoso do que as lideranças civis do país. A morte do general, ocorrida em 2020, durante o governo do presidente Donald Trump, agravou as tensões entre Washington e Teerã e resultou na saída iraniana do acordo nuclear entre o regime islâmico e o Ocidente.

md,rc/bl,ek (EBC, DW, DPA, Reuters)