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PolíticaBelarus

O que se sabe sobre o voo desviado por Belarus

24 de maio de 2021

Avião da Ryanair foi desviado de sua rota e forçado a pousar em Minsk. A bordo estava um jornalista crítico ao presidente, preso após a aterrissagem. Episódio gerou indignação internacional e escalou crise com Belarus.

Roman Protasevich
Belarus desviou o voo e prendeu Roman Protasevich, alvo de acusações criminais em seu paísFoto: Artur Widak/NurPhoto/picture alliance

O desvio de um voo da Ryanair pelas autoridades de Belarus gerou indignação internacional e aumentou a pressão pela imposição de duras sanções contra a antiga nação soviética.

A bordo da aeronave estava o jornalista belarusso Roman Protasevich, crítico ao regime do presidente Alexander Lukashenko, que foi preso logo após o pouso forçado em Minsk.

Líderes da Europa acusaram as autoridades belarussas de sequestrar um avião europeu, enquanto Minsk alega que interceptou o voo porque recebeu uma ameaça de bomba contra a aeronave.

Confira o que se sabe até agora sobre o episódio ocorrido no domingo (23/05), bem como as consequências do incidente.

O que aconteceu com o voo?

Com cerca de 170 passageiros a bordo, o voo da companhia aérea irlandesa Ryanair FR4978 partiu de Atenas, na Grécia, com destino à capital da Lituânia, Vilnius, no domingo. O avião sobrevoava o espaço aéreo de Belarus quando, a cerca de dez quilômetros da fronteira com a Lituânia, mudou de direção e seguiu para Minsk, capital belarussa.

Segundo a Ryanair, a tripulação da aeronave foi alertada pelos controladores de voo de Belarus sobre uma possível ameaça de bomba contra o avião. Os pilotos foram então ordenados a pousar em Minsk para averiguação. Um caça MiG-29 do Exército belarusso interceptou o avião, numa aparente tentativa de encorajar a tripulação a cumprir as ordens dos controladores de voo.

Assim que a aeronave pousou no aeroporto de Minsk, agentes de segurança belarussos prenderam um de seus passageiros, o jornalista Roman Protasevich, fundador de um popular canal de mensagens que ajudou a organizar manifestações em massa contra o autoritário presidente do país, Alexander Lukashenko.

Os oficiais também retiraram do avião a namorada de Protasevich, a russa Sofia Sapega, que estuda em uma universidade em Vilnius.

Agentes de segurança com cães farejadores verificaram o interior da aeronave e as bagagens dos passageiros. "Nada de impróprio foi encontrado", disse a Ryanair no domingo. Horas depois, o voo foi autorizado a seguir viagem para a capital lituana.

O CEO da companhia aérea, Michael O'Leary, descreveu o episódio como um "caso de sequestro e pirataria patrocinado pelo Estado".

Por que Belarus desviou o avião?

A oposição política em Belarus afirma que o desvio do voo foi um ato proposital do regime de Lukashenko para prender o jornalista a bordo do avião. Roman Protasevich, de 26 anos, é um jornalista e ativista belarusso que deixou seu país em 2019. Em Belarus, ele é alvo de uma série de acusações criminais, incluindo incitação ao ódio contra o governo.

Protasevich cobriu ativamente as contestadas eleições presidenciais belarussas em agosto do ano passado, bem como os protestos que seguiram o pleito. Ele é um dos fundadores do Nexta, um popular canal no aplicativo de mensagens Telegram que teve um papel-chave na organização das manifestações anti-Lukashenko. O governo de Belarus classifica o Nexta como "extremista".

Conhecido como o último ditador da Europa, Lukashenko comanda a nação de 9,3 milhões de habitantes com mão de ferro há mais de um quarto de século. As eleições de 2020 garantiram um sexto mandato ao presidente, mas a oposição e alguns funcionários eleitorais afirmam que o voto foi manipulado. A União Europeia não reconheceu a validade do pleito.

Meses de protestos se seguiram, representando o mais forte desafio enfrentado pelo governo de Lukashenko desde que ele assumiu o poder em 1994, após o fim da União Soviética.

As autoridades belarussas promoveram uma repressão brutal contra as manifestações. Mais de 34 mil pessoas foram presas desde agosto, incluindo vários ativistas da oposição, e milhares foram espancados e alvos de violentos abusos por parte dos policiais que continham os atos. Muitos políticos oposicionistas deixaram o país.

Protasevich foi acusado à revelia de incitar motins em massa e pode ser condenado a até 15 anos de prisão por esse crime. Mas o serviço secreto belarusso, que ainda atende pelo nome da era do soviético KGB, também o incluiu numa lista de pessoas suspeitas de envolvimento com terrorismo, o que significa que ele pode enfrentar penas mais graves. Terrorismo é punível com morte em Belarus, o único país europeu que ainda tem pena capital.

Líderes da Europa acusaram as autoridades belarussas de sequestrar um avião europeuFoto: picture alliance/dpa/ONLINER.BY/AP

O governo de Belarus se pronunciou sobre a prisão de Protasevich pela primeira vez nesta segunda-feira. Em mensagem publicada no Telegram, o Ministério do Exterior do país confirmou a detenção do ativista no aeroporto e disse que ele foi levado em prisão preventiva.

Minsk ainda rejeitou rumores nas redes sociais de que Protasevich teria sido hospitalizado e disse não ter qualquer informação sobre problemas de saúde do jornalista.

Num vídeo divulgado por emissoras estatais nesta segunda, Protasevich admite ter organizado os protestos, afirma estar bem de saúde e sendo bem tratado por agentes de segurança e diz estar cooperando com as autoridades. Opositores, porém, afirmam que o jornalista gravou o vídeo sob pressão.

Como a comunidade internacional reagiu?

Líderes da União Europeia (UE) condenaram veementemente a prisão e o desvio da aeronave, que voava entre dois países-membros do bloco comunitário e era operada por uma companhia aérea baseada na Irlanda, que também faz parte da UE.

Em cúpula nesta segunda-feira, a UE decidiu impor sanções contra Belarus e exigiu a libertação imediata do jornalista detido, bem como da namorada dele, a russa Sofia Sapega.

As sanções incluem a proibição de todas as companhias aéreas de Belarus de usarem o espaço aéreo e os aeroportos dos 27 países-membros do bloco.

Os líderes da UE também aconselharam as empresas com base na União Europeia a evitarem sobrevoar Belarus, país sem acesso ao mar localizado entre Polônia, Lituânia, Letônia, Rússia e Ucrânia.

Bruxelas ainda se comprometeu a ampliar a lista de sancionados em Belarus, que atualmente contém 88 pessoas – entre elas o presidente Lukashenko – e 77 entidades. Essa nova lista deverá ser aprovada "o quanto antes", pediram os chefes de Estado e governo.

Os líderes também pediram à Organização Internacional de Aviação Civil que inicie "urgentemente" uma investigação sobre esse incidente "sem precedentes e inaceitável".

Mais cedo, a UE havia convocado o embaixador de Belarus "para condenar o passo inadmissível das autoridades belarussas". Em comunicado, o bloco disse que a prisão do jornalista foi "mais uma tentativa descarada de silenciar todas as vozes da oposição no país". A Alemanha e o Reino Unido também convocaram os embaixadores belarussos em seus países.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o desvio do voo se tratou de um "sequestro", e o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, classificou o episódio de um "ato terrorista patrocinado pelo Estado".

"Haverá uma resposta muito forte porque é um comportamento ultrajante, e Lukashenko e seu regime precisam entender que isso terá consequências graves", dissera Von der Leyen.

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, condenou a "ação sem precedentes" das autoridades belarussas e exigiu que Protasevich e a namorada sejam libertados imediatamente.

A Letônia decidiu expulsar todos os diplomatas belarussos de seu país, após Belarus anunciar a mesma medida contra a nação báltica.

O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, conversou sobre o caso em telefonema com o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, segundo a Casa Branca. Os EUA disseram estar em contato com a Otan, a UE e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, entre outras entidades, para avaliar os próximos passos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu a liberdade do jornalista e disse apoiar os pedidos por uma "investigação completa, transparente e independente sobre este incidente perturbador", declarou o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric.

E a aviação?

As companhias aéreas Lufthansa, da Alemanha, SAS, da Escandinávia, e AirBaltic, baseada na Letônia, informaram que deixarão de voar sobre o espaço aéreo de Belarus.

O Reino Unido proibiu a operação da companhia aérea nacional belarussa Belavia em seu território e instruiu as transportadoras britânicas a evitarem o espaço aéreo belarusso.

O governo da Lituânia também recomendou a suspensão de todos os voos que partem e chegam a Belarus a partir desta terça-feira.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ordenou que as autoridades cortem as ligações aéreas com Belarus e proíbam voos ucranianos que atravessem o espaço aéreo do país vizinho.

ek (AP, AFP, DPA, Reuters)

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