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CriminalidadeBrasil

O que se sabe sobre os ataques no Rio Grande do Norte

Publicado 15 de março de 2023Última atualização 16 de março de 2023

Pela terceira madrugada seguida, estado teve veículos incendiados e ataques a prédios públicos. Onda de violência e impactou serviços públicos, como o transporte coletivo e a coleta de lixo.

Destroço de ônibus incendiado em rua de Natal
Criminosos incendiaram vários ônibus em NatalFoto: Jose Aldenir/TheNews2/IMAGO

O Rio Grande do Norte registrou nesta quinta-feira (16/03) a terceira madrugada ataques, mesmo após a chegada de 100 integrantes da Força Nacional ao estado. Além da capital Natal, outras cinco cidades foram alvos dos criminosos, que incendiaram ônibus e veículos, um galpão da coleta de lixo e um supermercado e atacaram prédios públicos.

A onda de violência no estado teve início na terça-feira e impactou serviços públicos, como o transporte coletivo e a coleta de lixo. Natal chegou a suspender o atendimento em unidades de saúde e aulas em escolas públicas.

O segundo dia de ataques

O Rio Grande do Norte registrou na quarta-feira a segunda madrugada seguida de ônibus incendiados e de ataques a prédios.

Em Natal, quatro ônibus de turismo que estavam em uma garagem foram incendiados, em um prejuízo estimado em R$ 500 mil. Além disso, criminosos atacarem um motorista e atearam fogo em seu carro.

Na praia de Pipa, criminosos atiraram contra a base policial e tentaram incendiar o local, e em Nova Cruz, São Tomé e Pureza, ônibus foram incendiados. Incidentes também ocorreram em Santa Cruz e em Riachuelo, onde a polícia conseguiu impedir que criminosos ateassem fogo à sede do Conselho Tutelar.

O clima de insegurança e medo fez cidades como Natal e Mossoró suspenderem o transporte coletivo, aulas em escolas e universidades, coleta de lixo e atendimentos de saúde.

Envio da Força Nacional

Atendendo a um pedido da governadora do RN, Fátima Bezerra, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, autorizou na terça-feira o envio de agentes da Força Nacional ao estado.

Serão destacados 220 policiais – número que poderá sem ampliado – e 30 viaturas. O primeiro grupo chegou a Natal já na madrugada desta quarta-feira.

A Polícia Rodoviária Federal também irá reforçar o patrulhamento em rodovias no interior do estado para controlar a circulação de criminosos, e 30 policiais penais de Porto Velho (RO) serão deslocados nesta quarta-feira para Mossoró (RN), segundo maior município do estado e que abriga um presídio federal. 

Nas redes sociais, Fátima Bezerra disse que todo o efetivo estadual atua, desde a madrugada de terça-feira, para conter os ataques e prender os envolvidos. "Vamos trabalhar juntos, governo estadual e federal, para garantir a segurança da população do Rio Grande do Norte. Os criminosos estão sendo localizados e presos para prestar contas à justiça. Não cederemos um milímetro e para restabelecer a paz e a ordem no Estado", afirmou a governadora.

De acordo com a Polícia Militar do RN, 28 pessoas já foram presas desde o início dos ataques e um homem morreu em um confronto com a polícia.

Quais os alvos dos ataques

Embora novos ataques tenham sido registrados na madrugada desta quarta-feira e ao longo da terça, os maiores e mais destrutivos ocorreram entre meia-noite e às 2h de terça-feira em 14 cidades do Rio Grande do Norte.

Os criminosos atiraram e incendiaram prédios públicos, estabelecimentos comerciais e veículos. Entre os alvos dos criminosos estavam ônibus escolares e do transporte coletivo, bancos, postos de combustíveis, lojas e caminhões de coleta de lixo.

Ataques seriam retaliação a ações repressivas do governo ao crime organizadoFoto: Jose Aldenir/TheNews2/IMAGO

A Secretaria Estadual da Segurança e Defesa Social (Sesed) do RN disse que não iria dar detalhes sobre locais, quantidade ou tipos de ocorrências, alegando a preservação do trabalho de inteligência e investigação. No entanto, levantamento feito pelo jornal Tribuna do Norte mostra que, em menos de 24 horas, pelo menos 22 cidades sofreram ataques – a maior parte ocorreu em Natal e na Grande Natal.

Quem ordenou os ataques

Segundo autoridades estaduais, os ataques são uma retaliação a ações repressivas do governo ao crime organizado, que resultaram em prisões de criminosos e apreensões de drogas e armas nas últimas semanas, e uma forma de pressionar por "regalias" a prisioneiros, como a volta de visitas íntimas, ventiladores e TVs nas celas e acesso a celulares.

O ministério da Defesa informou que um preso – suspeito de ser um dos mandantes – foi transferido da penitenciária de Alcaçuz para o presídio federal em Mossoró, administrado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais. Ele é acusado de liderar o Sindicato do Crime, facção do RN fundada em 2013.

Após os ataques, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap) suspendeu as visitas de familiares e atendimento para advogados em todas as unidades prisionais do RN.

O Ministério da Justiça autorizou ainda o emprego da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária nos presídios do estado por 30 dias.

Denúncias de tortura

Inspeções do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), realizadas em presídios do estado em novembro do ano passado, apontaram casos de tortura física e psicológica nas prisões do Rio Grande do Norte. Além disso, há indícios de que presos com tuberculose eram usados para contaminar outros detentos.

O órgão federal também revelou que comida estragada era distribuída em presídios do Rio Grande do Norte. As violações foram constatadas em cinco dos 19 estabelecimentos penais do estado.

Após a revelação do resultado das inspeções pelo G1, a governadora do estado afirmou que será feita uma investigação sobre as denúncias. "O nosso governo jamais compactuará com nenhuma medida de arbítrio. Portanto, essas denúncias serão investigadas pelo próprio governo", disse Fátima.

Ônibus parados e escolas fechadas

Na manhã desta quarta-feira, os ônibus do transporte público de Natal voltaram a circular, informou a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana. Os coletivos haviam parado na tarde de terça-feira devido à insegurança.

Em Nota, o Sindicato dos Transportes Rodoviários do RN (Sintro) repudiou os ataques e sugeriu a formação de um gabinete de crise, com a participação de representantes do setor. Os rodoviários pedem mais segurança nos principais corredores da cidade e policiamento ostensivo nos principais terminais.

Boa parte das escolas particulares de Natal, assim como universidades públicas e privadas, optaram por suspender as aulas nesta quarta-feira devido ao cenário de insegurança nas ruas e à incerteza sobre o funcionamento dos transportes públicos.

A prefeitura de Natal também suspendeu os atendimentos em unidades básicas de saúde, nas policlínicas e nos centros de atendimentos psicossocial e as aulas da rede municipal. Além disso, desde a noite desta terça-feira, também está suspensa na cidade a coleta de lixo.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Norte (Abrasel/RN) disse que vários estabelecimentos optaram por não abrir na terça-feira, devido à insegurança e à não circulação de ônibus.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Natal (CDL Natal) orientou os empresários a reforçarem a segurança das empresas e dos colaboradores e sugeriu que os estabelecimentos fechassem mais cedo, devido à falta de ônibus.

Em Mossoró, também foram suspensas as atividades nas escolas municipais, nas unidades de assistência social, os atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), o transporte coletivo e os serviços de limpeza urbana.

Outros ataques semelhantes ocorreram no Rio Grande do Norte em 2011, 2015, 2016, 2017 e 2018, sempre envolvendo ordens de facções criminosas.

le/cn (EBC, ots)

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