O que ainda une – e separa – as duas Coreias
12 de junho de 2018Nos últimos dias da Segunda Guerra, quando se tornou claro que o Japão se renderia às potências aliadas, a questão sobre o que aconteceria com a Coreia se tornava mais urgente do que nunca. Depois de décadas ocupando a península coreana, os japoneses estavam recuando.
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EUA e União Soviética concordaram em dividir a Coreia no 38º paralelo em agosto de 1945: os americanos ocupariam a parte sul, os soviéticos, a norte. O plano era devolver o controle aos coreanos e se retirar. E em 1948 várias tentativas foram feitas para levar à reunificação.
Mas a desconfiança gerada por apenas alguns anos de ideologias opostas já havia se tornado profunda demais. O que começou como uma divisão quase acidental deu origem a uma das fronteiras mais hostis e pesadamente militarizadas do mundo. Um povo foi dividido em dois.
Direitos humanos e liberdade
A Coreia do Norte é hoje um Estado stalinista e é acusada de manter centenas de milhares de cidadãos – incluindo crianças – em campos de prisioneiros políticos e outros centros de detenção em todo o país. Também recebe as classificações mais baixas quando se trata de liberdade de imprensa e responsabilidade do governo.
Anos de isolamento afetaram seriamente a economia da Coreia do Norte, e a população do país sofreu por muito tempo com a pobreza e a fome. As Nações Unidas relatam que mais de um terço da população é desnutrida. Muitos não têm acesso a cuidados de saúde adequados.
A vida na Coreia do Sul, por outro lado, é alimentada por um estilo de capitalismo despudoradamente barulhento e orgulhoso. O país também é oficialmente uma democracia constitucional.
Mas a Coreia do Sul tem seus próprios presos políticos. A controversa Lei de Segurança Nacional considera um delito manifestar simpatias em relação à Coreia do Norte. Mas a Coreia do Sul é tida como muito menos corrupta que seu vizinho do norte.
E é uma aliada fundamental para as potências ocidentais – particularmente os Estados Unidos, que ainda mantêm cerca de 30 mil soldados em solo sul-coreano e realizam exercícios militares regulares com as tropas locais.
Diferença de altura
Apesar do tamanho geográfico similar, a população da Coreia do Sul (mais de 51 milhões) é quase duas vezes maior que a da Coreia do Norte (mais de 25 milhões). Devido à sua dieta pobre, os norte-coreanos tendem a ser menores que os sul-coreanos, o que é mais visível entre as crianças em idade escolar.
Daniel Schwekendiek, da Universidade de Sungkyunkwan, em Seul, estima que a diferença de altura seja de aproximadamente 4 centímetros entre os meninos em idade pré-escolar e 3 centímetros entre as meninas desse mesmo grupo etário.
A diferença na expectativa de vida é similarmente notável: enquanto os sul-coreanos vivem em média até os 82 anos, os norte-coreanos morrem dez anos mais jovens, aos 70 anos.
Comida e vestimenta
Os dois povos gostam de muitos dos mesmos tipos de alimentos, já que as receitas foram passadas de geração em geração muito antes da divisão. Por exemplo, dduk (torta de arroz) e yeot (um tipo de confeito) são comidos por todos os alunos antes dos exames, porque eles acreditam que lhes dá sorte.
As celebrações culturais estão, da mesma forma, profundamente arraigadas na sociedade coreana em ambos os lados da fronteira. Algumas das datas mais importantes são o Ano Novo, o Dia de Ação de Graças e o Daeboreum – o dia da primeira lua cheia do ano. O Ano Novo é tradicionalmente comemorado com uma tigela de ddukguk (sopa de bolo de arroz).
Os pais são servidos por seus filhos durante a refeição e são tratados com deferência, independentemente de onde morem na Coreia.
A Coreia do Sul é tida como a "Hollywood do Oriente", produzindo entretenimento consumido por milhões de fãs, que vão do Japão à Indonésia. Existem também cerca de 400 estúdios independentes, que produzem conteúdo para o mercado de entretenimento, ajudando a Coreia do Sul a exportar seu "k-pop” (gênero musical próprio de música), dramas de televisão e videogames para países da Ásia. Já a Coreia do Norte é praticamente ausente da parada de sucessos asiática.
As coisas parecem polarizadas da mesma forma em se tratando de moda. Os norte-coreanos abstêm-se de fazer experiências, porque o governo proíbe estritamente peças como calças jeans skinny, minissaias e até mesmo penteados especiais, enquanto seus vizinhos do sul são livres para vestir qualquer roupa que quiserem.
Religião e turismo do wi-fi
Os casamentos também parecem diferentes. Casais na Coreia do Sul podem ostentar um lindo vestido para a noiva, uma cerimônia cheia de pompa uma lua-de-mel espetacular, enquanto os noivos na Coreia do Norte tendem a adotar uma abordagem mais simples, geralmente celebrando o matrimônio em um restaurante ou em casa.
Devido à sua visão de mundo comunista, a Coreia do Norte é oficialmente um país ateu. No entanto, novos movimentos como o cheondoísmo estão ganhando popularidade. No sul, o protestantismo e o catolicismo conquistaram muitos novos seguidores nas décadas passadas, e suas fileiras se incharam de cristãos da Coreia do Norte que fugiram da perseguição.
Quanto à "religião" moderna da internet, sua influência é ilimitada no Norte, enquanto o acesso é livre na Coreia do Sul. No Norte, apenas os membros dos serviços públicos e educacionais podem navegar na rede mundial de computadores – e somente sob controles rígidos. Um fenômeno que ocorre como resultado é o "turismo do wi-fi": norte-coreanos compram propriedades perto de embaixadas estrangeiras, para tentar acessar seu wi-fi. Como resultado, os preços de imóveis em Pyongyang dispararam.
A Coreia do Norte tem sua própria intranet, chamada Kwangmyong. Ela não está conectada ao resto do mundo e foi construída originalmente para abrigar páginas sobre a dinastia Kim, a família dominante da Coreia do Norte.
Testes nucleares
O atual líder da Coreia do Norte iniciou a chamada "estratégia de byungjin" em 2013, que buscava, ao mesmo tempo, um desenvolvimento dos programas nucleares e crescimento econômico.
Ele realizou um número extraordinariamente grande de testes de armas, em uma tentativa de desenvolver um arsenal nuclear efetivo, capaz de atingir alvos território norte-americano. Quatro dos seis testes de bomba nuclear do país ocorreram durante o seu governo.
Os testes aumentaram as tensões entre Pyongyang e a comunidade internacional, particularmente os Estados Unidos, com o presidente Trump avisando que responderia à ameaça nuclear da Coreia do Norte com "fogo e fúria, como o mundo nunca viu".
Após uma guerra de palavras entre Trump e Kim, as coisas mudaram drasticamente neste ano, com o líder norte-coreano enviando sua irmã Kim Yo-jong e atletas para as Olimpíadas de Inverno na Coreia do Sul e concordando em manter conversações com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in.
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