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O que você precisa saber sobre a Berlinale 2019

Joachim Kürten | Roselaine Wandscheer
7 de fevereiro de 2019

As mulheres terão destaque especial na 69ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. O Brasil está representado por 12 filmes. Veja aqui as principais informações sobre o festival.

Acesso principal ao salão de eventos do Festival de Cinema de Berlim
Sede da Berlinale na praça Potsdamer Platz, na capital alemã

A abertura

Um filme da diretora dinamarquesa Lone Scherfig marca a abertura da 69ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. O longa The Kindness of Strangers (a bondade entre estranhos, em tradução livre), uma coprodução entre a Dinamarca e o Canadá, conta a história de quatro pessoas em um inverno frio em Nova York. Entre os atores estão Zoe Kazan, Tahar Rahim, Andrea Riseborough e Bill Nighy. Scherfig, que já levou o Urso de Prata em 2001, é uma das sete diretoras cujos filmes concorrem no festival este ano. 

O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, diz esperar uma maravilhosa noite de abertura. Segundo ele, a cineasta tem "sensibilidade para personagens, grandes emoções e humor sutil". A Berlinale, como o festival é conhecido, transcorre de 7 a 17 de fevereiro na capital alemã.

A competição

Dezessete filmes concorrem em 2019 ao Urso de Ouro e ao Urso de Prata. Entre os concorrentes mais famosos estão obras do francês François Ozon, da espanhola  Isabel Coixet, da polonesa Agnieszka Holland e do chinês Zhang Yimou. Também os filmes de Wang Quan'an, da China, que ganhou o Urso de Ouro em 2017, e de Emin Alper, da Turquia, ambos críticos dos regimes em seus países, são aguardados com expectativa.

Participação brasileira

O Festival de Cinema de Berlim terá 12 filmes brasileiros, sendo um na mostra principal, mas fora de competição: Marighella, de Wagner Moura, com Seu Jorge, Adriana Esteves e Bruno Gagliasso entre os protagonistas. Trata-se de uma cinebiografia de Carlos Marighella, guerrilheiro brasileiro assassinado pela ditadura militar em 1969.

Já o curta-metragem Rise, de Bárbara Wagner e Benjamim de Burca, concorre na categoria Berlinale Shorts. A coprodução brasileira, canadense e americana foi rodada em Toronto, no Canadá e acompanha uma comunidade de jovens artistas em um ato de autoempoderamento através de música e poesia.

Os demais participantes brasileiros na Berlinale 2019 são:

  • Divino Amor, de Gabriel Mascaro, em que Dira Paes faz o papel de uma evangélica cuja missão é reaproximar casais em crise. Trata-se de uma coprodução entre Brasil, Uruguai, Chile, Dinamarca, Noruega e Suécia.
  • Estou me guardando para quando o carnaval chegar, de Marcelo Gomes, sobre o trabalho duro dos habitantes de um polo têxtil para poderem pular carnaval.
  • Greta, de Armando Praça, em que Marco Nanini revisita a peça Greta Garbo, quem Diria, foi parar no Irajá.
  • Chão, de Camila Freitas, é um documentário sobre o MST.
  • Querência, de Helvécio Marins Jr., uma coprodução Brasil-Alemanha, sobre um vaqueiro que tenta reorganizar a vida após ter seu gado roubado.
  • A rosa azul de Novalis, de Gustavo Vinagre, é um docudrama sobre a luta de homem soropositivo para sobreviver.
  • Espero tua (re)volta, de Eliza Capai, sobre as ocupações estudantis em São Paulo, em 2015.
  • Breve história del Planeta Verde, de Santiago Loza, uma coprodução entre Brasil, Argentina, Alemanha e Espanha. O filme sobre amizade incondicional enfoca a busca por um alienígena.
  • La arrancada, de Aldemar Matias, é uma coprodução com França e Cuba, sobre uma garota dividida entre permanecer na ilha ou seguir o irmão no exterior.
  • Ensaio, de Tamar Guimarães, coprodução entre Brasil e Dinamarca, em que uma jovem negra é convidada por uma fundação de arte para apresentar uma adaptação cênica de As memórias póstuma de Brás Cubas.

Os alemães

Um dos destaques entre os cineastas alemães, que tradicionalmente têm forte representação na Berlinale, é Fatih Akin, que já recebeu vários prêmios em Berlim, Cannes e o Prêmio do Cinema Europeu. Akin apresenta Der goldene Handschuh (A luva de ouro, em tradução livre), a história de um feminicida em Hamburgo nos anos 1970. Na concorrência, estão ainda Angela Schanelec e Nora Fingscheidt, entre outros.

O júri

O júri principal será presidido pela atriz francesa Juliette Binoche. Nascida em Paris em 1964, Binoche ganhou um Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1997 por O paciente inglês, desempenho pelo qual também foi premiada em Berlim. Ao seu lado estarão ainda a atriz alemã Sandra Hüller, a atriz e produtora britânica Trudie Styler, o americano Justin Chang, crítico de cinema do Los Angeles Times, Rajendra Roy, curador do Museu de Arte Moderna de Nova York, e o diretor chileno Sebastián Lelio.

O júri internacional da Berlinale 2019

Estreias mundiais

O Festival de Cinema de Berlim terá diversas estreias alemãs, europeias e internacionais. A adaptação em duas partes da vida do poeta Bertolt Brecht, com direção de Heinrich Breloer, deve atrair atenção especial. Outros destaques são os documentários sobre o fotógrafo Peter Lindbergh, o ator Mario Adorf e a banda alemã de rock Die Toten Hosen. Merece atenção também o documentário americano Watergate - Or: How We Learned to Stop an Out of Control President, dirigido por Charles Ferguson.

Cinema Novo

Este ano serão exibidos 39 filmes no Fórum Internacional do Cinema Novo, ou simplesmente "Forum". Esta categoria da Berlinale acolhe tradicionalmente "filmes que arriscam, mostram uma atitude e não aceitam compromissos", ou seja, um cinema político e socialmente empenhado que, por vezes, assume formas cinematográficas não convencionais.

O lema do Forum este ano poderia ser "literatura", porque muitos filmes são baseados em formas escritas, cartas ou poemas, como o austríaco Die Kinder der Toten (em tradução livre, os filhos dos mortos), inspirado no livro de mesmo nome da Nobel de Literatura Elfriede Jelinek. Outro destaque no Forum é o filme do Lesoto em preto e branco Mother, I Am Suffocating. This is my last Film About You (Mãe, estou sufocando. Este é o meu último filme sobre você). 

Lesoto tem filme em preto e branco na BerlinaleFoto: Lemohang Jeremiah Mosese

Panorama

Outra seção especial da Berlinale é a mostra Panorama, a segunda mais importante do festival, que vai apresentar 45 filmes de 38 países. De acordo com o festival, Panorama oferece em 2019 um programa "controverso, político e desafiador" no qual "com um número impressionante de filmes, as pessoas tentam deixar para trás sistemas influenciados pelo exterior e opressão". Também no Panorama deste ano serão  exibidos muitos filmes feitos por mulheres e sobre mulheres. Um destaque especial são retratos de artistas mulheres de todas as partes do mundo.

Retrospectiva

Da mesma forma, a grande mostra cinematográfica histórica que integra a Berlinale a cada ano e atrai espectadores de todo o mundo, em 2019 também será dedicada às mulheres diretoras. "Autodeterminação. Perspectivas das cineastas" é o nome da mostra com 26 longas e documentários feitos nos dois Estados alemães de 1968 a 1999. O Novo Cinema Alemão não teve apenas grandes diretores, como Rainer Werner Fassbinder, mas também mulheres, como May Spils e Ula Stöckl.

Premiação

Urso de Ouro, prêmio principal da BerlinaleFoto: picture-alliance/dpa/W. Kumm

Os Ursos de Ouro e de Prata serão entregues no sábado, dia 16 de fevereiro. No ano passado, o prêmio principal ficou com "Touch me not", da romena Adina Pintilie, de 38 anos. Os Ursos de Prata distinguem atores e diretores. E há ainda os prêmios honoríficos: este ano, a atriz britânica de cinema e teatro Charlotte Rampling, que ficou famosa com obras como O porteiro da noite (1974) e 45 anos (2015), recebe o Urso Honorário de Ouro.

O prêmio honorífico Berlinale Kamera será dado à cineasta belga Agnès Varda, de 90 anos, pioneira da Nouvelle Vague.

Dieter Kosslick

Após quase duas décadas, chega ao fim a era de Dieter Kosslick na direção do festival. Nascido em 1948 em Pforzheim, no sudoeste da Alemanha, Kosslick começou nessa função em 2001 e deixou sua marca no festival. Seus maiores méritos no cargo são o fortalecimento do filme alemão na Berlinale e a diversidade da programação. Nos últimos anos, no entanto, Kosslick tem sido frequentemente criticado pela falta de qualidade artística da competição. 

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