O que você precisa saber sobre a Copa do Mundo feminina
20 de julho de 2023
As melhores jogadoras de futebol do mundo estão na Austrália e na Nova Zelândia para o grande torneio. Copa da Fifa de 2023 deverá ser a última de grandes estrelas, como Marta, Megan Rapinoe e Christine Sinclair.
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Quantas equipes estão envolvidas?
Pela primeira vez na história, 32 seleções – incluindo oito estreantes – participam da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Em 2019, o Conselho da Fifa votou por unanimidade para aprovar a proposta do presidente Gianni Infantino de aumentar o número de participantes, que eram 24 na Copa anterior, na França.
Em meio a temores de que a expansão do torneio pudesse comprometer a qualidade, o anúncio do aumento foi defendido por Infantino com base no sucesso do evento de 2019, sendo a mudança vendida como um "passo concreto" para "promover o crescimento do futebol feminino".
O presidente da Fifa também anunciou um aumento em 300% do prêmio em dinheiro da Copa do Mundo feminina, para 150 milhões de dólares (cerca de R$ 720 milhões). Embora o novo valor seja três vezes maior que o de 2019 e dez vezes superior ao de 2015, ainda é consideravelmente inferior ao prêmio total de 440 milhões de dólares (2,1 bilhões de reais) concedido na Copa do Mundo masculina no Catar no ano passado.
Onde as partidas são disputadas?
Esta não é apenas a maior Copa do Mundo de Futebol Feminino, mas também a primeira a ter dois países como anfitriões. Ao todo, as partidas serão disputadas em dez estádios de nove cidades. Seis estádios são na Austrália, incluindo dois em Sydney, e quatro, na Nova Zelândia.
A abertura do torneio ocorreu em território neozelandês, com uma disputa contra a Noruega no Eden Park de Auckland nesta quinta-feira (20/07) – três horas antes do jogo da Austrália contra a Irlanda, no Stadium Australia, em Sydney. A final será disputada neste mesmo estádio, que é o maior da competição, com capacidade para 83.500 torcedores.
O menor, por outro lado, é o Estádio Hindmarsh, de Adelaide, com capacidade para 18.435. É onde ocorrerá a estreia do Brasil na Copa, em partida contra o Panamá na próxima segunda-feira, 24 de julho, às 8h (horário de Brasília).
Quem são as favoritas?
As americanas são claramente as favoritas. Elas não apenas estão (como sempre) no topo do ranking da Fifa, como também são bicampeãs, tendo conquistado sua quarta Copa do Mundo na França há quatro anos. No entanto, há dúvidas em torno da nova configuração do time devido à aposentadoria de Carli Lloyd e a várias jogadoras importantes terem ficado de fora devido a lesões.
As inglesas também estão entre as favoritas, chegando no torneio como campeãs europeias depois de conquistar nada menos que o segundo principal título internacional do país desde a vitória masculina na Copa do Mundo em 1966. Embora desta vez não joguem em casa, elas pareciam confiantes ao falar com a DW em sua base em Sunshine Coast.
Já a Alemanha, mesmo com uma performance inconstante durante os amistosos, conseguiu ficar logo atrás da seleção inglesa, para a qual perdeu na prorrogação da final da Eurocopa do ano passado. A heroína trágica desse drama foi a atacante alemã Alexandra Popp, mas há dúvidas se ela conseguirá manter a forma necessária para recriar seu recorde de gols marcados no verão passado.
A Espanha também deve estar na disputa, a despeito das turbulências do ano passado, quando 15 jogadoras renunciaram à seleção em protesto contra o técnico Jorge Vilda, entre outras queixas. A Real Federação Espanhola de Futebol, no entanto, decidiu manter Vilda na liderança do time – que chega à Copa com três das jogadoras que haviam se rebelado contra o técnico. Apesar de não contar com algumas atletas importantes, a Espanha tem de volta Alexia Putellas, duas vezes vencedora da Bola de Ouro e que havia ficado de fora do Campeonato Europeu de Futebol Feminino por motivo de lesão.
A surpresa pode vir das canadenses, que carregam a medalha de ouro dos últimos Jogos Olímpicos. Ainda que a preparação para a Copa do Mundo tenha sido interrompida quando as jogadoras ameaçaram fazer greve por melhores pagamentos, elas ainda contam com Christine Sinclair, uma das maiores de todos os tempos. Quem deverá fazer falta é Janine Beckie, que ficou de fora devido a uma lesão no joelho.
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Um último show para as estrelas veteranas
A canadense Sinclair lidera o grupo de veteranas que certamente disputarão sua última Copa do Mundo. A atacante, que acaba de completar 40 anos, é a maior artilheira da história do futebol internacional entre mulheres e homens, com 190 gols em 323 jogos. Presente em cinco Copas do Mundo e quatro torneios olímpicos, ela também ajudou a trazer a medalha de ouro de Tóquio para o Canadá.
A superestrela americana Megan Rapinoe, que acabou de completar 38 anos, anunciou recentemente que este seria seu último Mundial. Sua lista de vitórias é longa, tendo conquistado as duas últimas Copas do Mundo com os Estados Unidos, além de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012.
Aos 37 anos, a brasileira Marta também deve entrar em campo para sua última Copa. A jogadora foi eleita seis vezes a melhor do mundo e é a maior artilheira do país, com 119 gols em 183 jogos. Disputou cinco edições de Copas do Mundo e de Jogos Olímpicos. Em Copas, fez 17 gols (o maior número entre mulheres e homens) nos torneios de 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019.
Mulheres pioneiras no esporte
Conheça algumas mulheres que fizeram história no esporte.
Foto: Imago Images/Sven Simon
Só para homens?
Alice Milliat não aceitou que a competição esportiva fosse uma atividade exclusiva do sexo masculino. Nascida na França em 1884, ela praticou hóquei, remo e corrida de carros. Em 1917, ela foi uma das fundadoras da Federação Francesa de Esportes Femininos FSFSF e da Federação Internacional de Esportes Femininos FSFI, que organizou os primeiros Jogos Mundiais Femininos em 1921.
Foto: akg images/picture alliance
Favorita da torcida
A ciclista Alfonsina Strada se inscreveu para o Giro d'Italia em 1924 como Alfonsin Strada. Os organizadores pensaram que ela era um homem. Quando a viram antes da prova, decidiram que mesmo assim ela poderia competir. A italiana fracassou depois de algumas etapas, mas permaneceu na corrida porque o público a aclamava. Ela é a única mulher a já ter competido em um Grand Tour masculino.
Foto: Imago Images/Leemage
A primeira mulher na Fórmula 1
Maria Teresa de Filippis foi a primeira mulher a correr na Fórmula 1. A italiana começou a competir em 1948, aos 22 anos, para a equipe Maserati. Em 1958, ela participou de várias corridas no Campeonato Mundial de Automobilismo, hoje Mundial de F1. Quando um amigo próximo morreu em um acidente um ano depois, ela encerrou sua carreira.
Foto: LATPhotographic/picture alliance
Apesar de todas as adversidades
Embora o furioso diretor de corrida da Maratona de Boston (de casaco preto) tenha tentado arrancar o número dela, Kathrine Switzer foi a primeira mulher a correr uma maratona em 1967 e também a completou. Ela havia se inscrito secretamente. A maior distância permitida para as mulheres na época eram 800m. Alguns anos depois, passou a ser permitido a mulheres participar de provas de longa distância.
Foto: picture alliance/dpa/UPI
Por prêmios iguais
No início dos anos 1970, Billie Jean King lutou por prêmios iguais em dinheiro para profissionais de tênis masculinos e femininos. Em protesto, a 12 vezes vencedora do Grand Slam criou em 1970 com outras jogadoras uma série própria de torneios, que mais tarde virou a Women's Tennis Association WTA. Em 1973, veio o sucesso: o prêmio em dinheiro do US Open foi igual para mulheres e homens.
Foto: Imago Images/Sven Simon
Pelo direito de voar
Até início dos anos 1990, o salto de esqui feminino não era permitido pela associação mundial. Eva Ganster só podia competir com homens. Em 1997, a austríaca foi a primeira mulher a saltar de uma rampa de esqui. Seus esforços surtiram efeito: desde 2011, há a modalidade feminina na Copa do Mundo, e desde 2014 a modalidade feminina é olímpica.
Foto: Imago Images/WEREK
Com frequência "a primeira"
Em 2003, Meredith Michaels-Beerbaum se tornou a primeira e única mulher a liderar o ranking mundial de saltos. Ela também é a primeira mulher da equipe alemã de hipismo a participar de um grande campeonato e, assim, abriu portas para jovens amazonas. "Quando vim para a Alemanha, ficou muito claro que as mulheres tinham um papel secundário no meu esporte", disse Meredith, nascida nos EUA.
Foto: Rau/Imago Images
Respeitada no apito
A suíça Nicole Petignat foi a primeira mulher a apitar um jogo masculino da Uefa em 2003: na qualificação para a Copa da Uefa entre AIK Solna e Fylkir Reykjavik. Petignat também é árbitra de jogos da Primeira Divisão masculina na Suíça e na Áustria, mas apita principalmente jogos femininos. Os destaques foram a final do Campeonato Europeu de 2001 e a final da Copa do Mundo de 1999.
Foto: picture-alliance/Pressefoto ULMER
Autoridade reconhecida
Mas demorou mais de duas décadas para uma mulher arbitrar um jogo masculino da Copa do Mundo. A francesa Stéphanie Frappart foi escalada pela Fifa na partida entre Alemanha e Costa Rica na Copa do Catar. Ela já apitou jogos masculinos na Liga das Nações, na Liga dos Campeões e nas eliminatórias da Copa do Mundo, mas continua sendo uma exceção em sua área.
Foto: Stanley Gontha/PRO SHOTS/picture alliance
Vencendo preconceitos
Em 2021, Sarah Thomas foi a primeira mulher a integrar uma equipe de arbitragem da final da American Football League NFL, o Super Bowl. Ela precisou lutar contra muitos preconceitos. "Colegas, treinadores e jogadores agora simplesmente me veem como árbitra. É assim que quero que seja", diz. "Nunca permiti que meu gênero fosse uma desculpa ou um pretexto para as pessoas."
Foto: Aaron Josefczyk/Newscom/picture alliance
"Não me sinto ser humano"
"Não me sinto mulher, homem ou mesmo ser humano agora", disse Rachael Blackmore após sua vitória no Grand National. A irlandesa de 31 anos acabara de entrar para a história com o cavalo Minella Times, ao se tornar a primeira mulher a vencer a corrida de galope com obstáculos mais difícil do mundo, realizada desde 1839. Já Charlotte Brew foi a primeira mulher a participar do Grand National em 1977.
Foto: Tim Goode/empics/picture alliance
Na poeira do deserto
Calor, poeira, terreno acidentado e inúmeros competidores masculinos – nada disso impediu a piloto de rali alemã Jutta Kleinschmidt de se tornar a primeira mulher a vencer o Rally Dakar em 2001. Após a vitória, ela também foi eleita a "Esportista do Ano" na Alemanha. A engenheira participou do rali mais difícil do mundo por 18 vezes, além de várias outras corridas.
Foto: picture alliance/dpa
Rápida sobre duas rodas
A motociclista alemã Katja Poensgen é uma das poucas mulheres a competir no Campeonato Mundial. Algumas marcam pontos na série Moto3, que vai até 125cc, mas Poensgen é a única entre os 15 melhores na categoria 250cc. Em 2001 e 2003, ela competiu em uma Honda e fez um total de 25 corridas pelo Mundial.
Foto: Sven Simon/picture alliance
Boa de pontaria
Quando seu último dardo atingiu o alvo em dezembro de 2019 em Londres, "Ally Pally" ficou fora de si. Pela primeira vez, uma mulher venceu um duelo no campeonato mundial de dardos. Fallon Sherrock, cabeleireira da Inglaterra, escreveu história na primeira rodada do torneio de dardos e só falharia na terceira rodada.
Foto: Getty Images/J. Mansfield
Incentivo ao esporte feminino
Uma verdadeira pioneira é a técnica de futebol alemã Monika Staab. Há anos, ela viaja pelo mundo se engajando pelo futebol e organiza programas de treinamento para mulheres e meninas, especialmente em países onde os direitos das mulheres não desempenham um papel importante. "O feedback positivo nos esportes aumenta a autoconfiança", diz ela. "Você precisa disso para enfrentar a vida".
Foto: picture alliance/dpa/N.Mughal
Treinando homens
Quando Corinne Diacre começou a treinar o Clermont Foot, clube da 2ª Divisão francesa, em 2014, ela logo convenceu seus críticos. Na época, a ex-jogadora da seleção foi a primeira mulher a comandar uma equipe masculina profissional. Em três anos no cargo, ela foi bem-sucedida. No entanto, Diacre é uma rara exceção. Mesmo muitas equipes femininas de sucesso continuam sendo treinadas por homens.
Foto: picture-alliance/dpa
Clara vitória contra concorrentes masculinos
Com uma vantagem de nove tacadas no Torneio Misto Escandinavo de 2022, a sueca Linn Grant foi a primeira mulher a vencer um torneio oficial de golfe DP World Tour, superando inclusive os concorrentes masculinos. "Durante toda a semana eu senti que eram as garotas contra os rapazes, e quem quer que pegasse aquele troféu representaria as mulheres", disse.