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O real risco de uma política de fronteiras abertas

Fabian von der Mark (md)23 de agosto de 2016

Há um ano, a Alemanha abriu as portas, sendo acusada de não pensar em sua segurança. Hoje, está confirmado que havia extremistas em meio aos refugiados. Mas país também pode aproveitar imigração para se proteger.

Carro da polícia escolta refugiados pelos campos da Baviera em outubro de 2015, auge da crise migratória
Carro da polícia escolta refugiados pelos campos da Baviera em outubro de 2015, auge da crise migratóriaFoto: picture-alliance/dpa/A. Weigel

Os ataques de Würzburg e Ansbach, em julho, nada têm a ver com a chegada de milhares de refugiados no final de 2015. Ambos os autores já haviam chegado antes à Baviera. Mas o simples fato de que eles foram acolhidos na Alemanha e depois se voltaram contra aqueles que os ajudaram dirigiu a atenção para o lado perturbador da imigração. Hoje, muitos perguntam: que tipo de pessoas podem ter se misturado com os refugiados? O que vai acontecer em seguida?

No outono passado na Europa, a resposta das agências de segurança e de representantes do governo a estas questões foi tranquilizadora. Segundo eles, para os terroristas não fazia sentido ir para a Alemanha junto com o fluxo de refugiados. Uma viagem pelo Mediterrâneo e depois pela rota dos Bálcãs seria incerta e difícil demais.

Hoje, sabemos que essa avaliação estava errada. Na apresentação do relatório do Departamento Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla em alemão), no final de junho, o presidente deste que é o serviço de inteligência interna da Alemanha, Hans-Georg Maassen, explicou que, comprovadamente, 17 terroristas chegaram à Europa através da rota dos Bálcãs.

Hans-Georg Maassen, presidente do Departamento Federal de Proteção à ConstituiçãoFoto: picture-alliance/dpa/K.Nietfeld

De acordo com o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA), as autoridades de segurança têm mais de 400 indícios de que entre os refugiados estão combatentes, adeptos ou seguidores de organizações terroristas islâmicas.

"Antes do outono de 2015 não era fácil chegar à Europa. Claro que os terroristas podiam usar passaportes falsificados. Mas passaportes falsificados são caros, e são frequentemente encontrados nas fronteiras", afirma Guido Steinberg, do instituto SWP

Mas em 2015, a situação era tal que o terrorista em potencial, na verdade, só precisava sobreviver à viagem para a Grécia. Depois disso, havia fronteiras, em grande parte, abertas, quase sem verificações de identidade, da vida anterior das pessoas. "E isso era algo de que o Estado Islâmico simplesmente tinha que se aproveitar", afirma o especialista em terrorismo.

Em todo caso, a chamada rota dos Bálcãs foi intensamente explorada e aproveitada pelos islamistas. Isso mostra, por exemplo, o caso Bilal C., contra quem o Ministério Público alemão apresentou acusações em junho. Os investigadores acreditam que o argelino teve contato com Abdelhamid Abaaoud.

Abaaoud, um dos supostos responsáveis e autores dos ataques de Paris de 13 de novembro de 2015, teria instruído Bilal C. a "sondar a chamada rota dos Bálcãs em termos de controles nas fronteiras e oportunidades de passagem". Dois dos autores dos atentados de Paris teriam comprovadamente viajado pela Alemanha em seu caminho para realizar o ataque suicida.

Especialista em terrorismo Guido SteinbergFoto: DW

Recrutamento entre refugiados

Por sua vez, os dois sírios Saleh A. e Hamza C não foram mais longe, mas permaneceram na Alemanha. Eles chegaram ao país no verão europeu de 2015, através da Turquia e da Grécia. Na Alemanha, eles supostamente planejaram, com dois outros sírios, um grande atentado no centro histórico de Düsseldorf. Um dos supostos terroristas do "Estado Islâmico" foi preso quando ia pegar assistência do Estado no seu abrigo de refugiados em Brandemburgo. Imagens de operações policiais e cercos a abrigos de refugiados também surgiram perto de Wurzburg e Ansbach.

Para a maioria absoluta dos refugiados, é terrível a ideia de que aqueles que os perseguiam e de quem eles queriam escapar possam ter se misturado entre eles. Mas alguns refugiados podem ser também suscetíveis a ideias radicais, adverte a Europol. A autoridade policial europeia vê como "perigo real e iminente" que refugiados sírios sejam alvo de "recrutamento extremista islâmico".

A inteligência interna alemã vê esse perigo. O presidente do órgão, Hans-Georg Maassen, alerta para as chamadas "mesquitas de fundo de quintal". Os serviços de inteligência observam que grupos salafistas procuram abordar refugiados. Eles estariam tentando ganhar adeptos à sua ideologia através da oferta de ajuda no cotidiano. Thomas Mücke, da ONG Violence Prevention Network, alerta para uma sedução por parte dos radicais.

Ele ressalta que, especialmente com menores refugiados, deve ser realizado um bom trabalho de integração. "Precisamos nos dedicar a esses jovens. Se nós não fizermos isso, os extremistas vão fazê-lo. Então, eles são apanhados neste ambiente de tal forma que se tornam pouco acessíveis a quem está de fora", diz Mücke.

Especialistas afirmam que a política migratória alemã também pode ser uma oportunidade para criar mais segurança. O britânico Robert Verkaik, autor do livro Jihad John, avalia que a entrada de centenas de milhares de refugiados árabes na Alemanha vai preservar a longo prazo o país de ataques terroristas.

Thomas Mücke, da ONG Violence Prevention NetworkFoto: VPN/Klages

No jornal britânico Independent, Verkaik escreve que o governo Angela Merkel e o povo alemão têm mostrado, em sua solidariedade, que a Alemanha não está em uma luta com o islã. Segundo ele, os muçulmanos no país poderiam ajudar no trabalho das autoridades de segurança.

A ex-conselheira de segurança nacional do presidente George W. Bush e atual chefe do Counter Extremism Project, Frances Townsend, acredita que os refugiados sírios podem ser valiosas fontes para serviços de inteligência. A afirmação que "menos refugiados trazem menos terror" ainda é errada, segundo ela, por outro motivo: nos campos de refugiados dentro e em torno de Síria, o risco de radicalização é muito maior do que na Europa. Ela acredita que o acolhimento de refugiados pelo Ocidente pode tirar do "Estado Islâmico" um importante terreno para recrutamento.

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