1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
Esporte

O renascimento da seleção brasileira

29 de março de 2017

Das cinzas do 7 a 1, Brasil renasce sob o comando de Tite e, com campanha impecável e com Neymar voltando a jogar bem, se torna o primeiro país a garantir vaga na Copa do Mundo da Rússia.

FIFA World Cup Brasilien vs Paraguay Jubel Neymar
Neymar comemora gol na vitória sobre o Paraguai: com ele em campo, seleção balançou as redes 22 vezes na era TiteFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

O Brasil é o primeiro classificado à Copa de 2018, na Rússia. E com direito a recorde. Com quatro rodadas por jogar, a vitória sobre o Paraguai, na noite de terça-feira (28/03), confirmou a classificação com maior antecedência já registrada nas Eliminatórias sul-americanas – e selou o que está sendo encarado com um renascimento da Seleção, em uma espiral de crise desde o 7 a 1.

Sem deixar o ritmo cair mesmo com a liderança folgada nas Eliminatórias, a seleção brasileira conquistou a oitava vitória em oito jogos sob o comando de Tite ao bater o Paraguai por 3 a 0, em São Paulo, com gols de Philippe Coutinho, Neymar e Marcelo. O triunfo garantiu ainda a liderança no ranking da Fifa, onde não figurava desde maio de 2010.

O Brasil foi a 33 pontos na classificatória da Conmebol, nove a mais que a segunda colocada do momento, a Colômbia, que surpreendeu o Equador em Quito, vencendo por 2 a 0. O placar na capital paulista poderia ter sido ainda maior, com Neymar desperdiçando um pênalti quando o Brasil vencia por 1 a 0. A cobrança foi defendida pelo goleiro paraguaio Anthony Silva.

Mas o passaporte para a Rússia foi carimbado graças aos gols de Edison Flores e Paolo Guerrero, que garantiram a virada peruana contra a seleção uruguaia, em Lima. A vitória por 2 a 1 manteve vivo o sonho do Peru de ir ao Mundial e, de quebra, classificou o Brasil.

Com 12 pontos ainda estão em disputa e a vantagem da seleção brasileira para a Argentina, atual quinta colocada (colocação que leva ao playoff com o campeão da Oceania), é de 11 pontos. Porém, o confronto direto entre Uruguai e Argentina, justamente na próxima rodada, inviabiliza matematicamente o Brasil ser alcançado por todos os quatro países no encalço na tabela – Colômbia (24 pontos), Uruguai (23), Chile (23) e Argentina (22).

A imprensa alemã não deixou o feito brasileiro passar. A publicação esportiva Kicker fala em "caso claro" ao citar a supremacia brasileira nas Eliminatórias sul-americanas. O Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) disse que o "Brasil encanta e vai à Rússia", fala em apresentação de gala e cita que a Seleção segue "voando" sob comando do técnico Tite – sucessor de um "desafortunado" Dunga. 

De contestados a peças-chave do esquema de Tite: Renato Augusto (esq.) e Paulinho defendem e marcam golsFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Após a vitória frente ao Paraguai, Tite interrompeu a entrevista coletiva para agradecer a Deus pela classificação antecipada do Brasil, ao ser informado por um jornalista sobre a vitória do Peru sobre o Uruguai. "Obrigado, Pai do céu. Hoje vai ter uma caipora desse tamanho", celebrou.

Máquina de fazer gols

E Tite é o grande responsável pelo renascimento da seleção brasileira. Desde sua estreia, em 1º de setembro contra o Equador, em Quito, foram nove partidas com nove vitórias – oito jogos pelas Eliminatórias e um amistoso contra a Colômbia, realizado no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, para angariar fundos aos parentes das vítimas da tragédia da Chapecoense.

Na era Tite, a Seleção marcou impressionantes 25 gols e sofreu apenas dois – um de pênalti (4 a 1 contra Uruguai) e um gol contra de Marquinhos (2 a 1 contra Colômbia). Quando Tite herdou a vaga de treinador de Dunga, a equipe tinha disputado seis jogos pelas Eliminatórias sul-americanas – duas vitórias, três  empates e uma derrota – e ocupava a sexta colocação.

Inicialmente contestado por convocar jogadores que não estavam atuando em grandes cenários do futebol mundial (Paulinho e Renato Augusto), outros inicialmente desconhecidos do público brasileiro (Roberto Firmino e Fabinho) e até por abdicar em atuar com um centroavante de ofício, Tite conseguiu resgatar a competitividade e implementou um conceito tático claro e eficiente.

Desde a estreia de Tite, em 1º de setembro contra o Equador, foram nove partidas com nove vitórias Foto: Getty Images/B, Mendes

O resgate de Neymar

Mais importante, ele resgatou Neymar. Com Tite, a seleção brasileira marcou 24 gols nas Eliminatórias – com Neymar em campo, foram 22, com o craque do Barcelona anotando seis deles. Nos seis jogos sob Dunga, Neymar não balançou as redes. Com mais liberdade de flutuação em campo – e maior movimentação das peças ofensivas – ele tem se mostrado taticamente mais importante e mais letal nas partidas.

Além de Neymar, o ataque brasileiro conta, por ora, Philippe Coutinho, Willian, Gabriel Jesus, Roberto Firmino e Douglas Costa – jogadores de alto senso de verticalização de jogadas e, com o montante de movimentação, criam espaços para a chegada daqueles que supostamente tem como missão primária sustentar o sistema defensivo.

E muito do sucesso momentâneo da Seleção passa por um ponto importante alcançado por Tite: ter disciplina tática sem renunciar ao talento; ser ofensivo sem negligenciar a marcação; dominar as ações sem deixar de ser objetivo.     

"O Neymar é vertical, tem uma capacidade de improvisação que eu não sei para qual lado ele vai sair", afirmou Tite, sem deixar de reiterar o processo de maturidade da Seleção. "Antes da partida buscávamos um alto nível de concentração para que toda aquela alegria contra o Uruguai não se transformasse em relaxamento. Tivemos a maturidade para enfrentar a uma seleção fechada, criando dificuldades, e jogamos diante de uma grande expectativa. Pedi que eles tivessem cuidado."  

Europeus: "Quem é o treinador?"

Os jogadores são cheios de elogios a Tite. O zagueiro Miranda disse que a campanha chamou a atenção na Europa: "Perguntam quem é o treinador. Querem saber por que mudou tanto a Seleção, porque não sofre mais gols." Neymar chamou o novo comandante de "um cara genial".

Já Marcelo foi além, ao ser questionado se Tite era o melhor treinador com quem trabalhou na seleção brasileira: "Acho que sim. Dá para ver o ambiente, a entrega de cada jogador. A gente agradece muito a vinda do Tite e seus companheiros, porque ele mudou praticamente tudo. Então a gente deve muito a ele."

Em junho, a seleção brasileira fará dois amistosos na Austrália: contra a Argentina (9 de junho) e contra os anfitriões (12 de junho).

Pular a seção Mais sobre este assunto