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O risco de festas familiares para a transmissão da covid-19

28 de setembro de 2020

Em alguns casos, basta um infectado para causar um surto e espalhar a doença por diversas regiões. Apesar do potencial para propagar o coronavírus, superdisseminadores podem também ser uma arma no combate à pandemia.

Silvester
Foto: picture-alliance/dpa/D. Mauer

Surtos locais de infecção com o novo coronavírus surgem frequentemente após festas ou grandes celebrações familiares, tanto em espaços fechados, quanto ao ar livre. Beijinhos aqui, abraços ali, cantos e danças, conversas animadas no círculo de parentes e amigos. São rituais de apego que fazem a vida valer a pena e que alguns não querem perder, nem mesmo em tempos de pandemia.

Uma festa de casamento de vários dias celebrada em diversos locais teria desencadeado um grave surto de covid-19 em Hamm, no oeste da Alemanha. O mesmo teria acontecido após uma festa de uma grande família na cidade alemã de Göttingen, em junho.

Em princípio, os focos de infecção poderiam ser detectados em todo o mundo. Tais "eventos superdisseminadores" incluem, por exemplo, o acúmulo explosivo de infecções após celebrações religiosas, visitas a clubes ou cursos de zumba na Coreia do Sul, após festas numa estação de esqui austríaca, depois de celebrações carnavalescas no oeste da Alemanha ou festivais de cerveja na Baviera. Seu padrão é sempre semelhante: uma situação que resulta em dezenas de casos e, destes, centenas de contágios subsequentes..

Embora eventos de grande porte ainda sejam proibidos em muitos países, em tradicionais locais de festas, bares, clubes ou reuniões particulares, as regras de distanciamento nem sempre são observadas.

As pessoas procuram o coletivo, buscam a companhia de amigos e parentes, vão a eventos esportivos e culturais que gostam. Em breve, teremos Natal e Ano Novo, e todos querem a antiga vida de volta. E se a vida social se deslocar para recintos fechados nas próximas semanas devido ao inverno europeu, a probabilidade de clusters locais de infecção também aumentará.

De acordo com a epidemiologia, um superdisseminador é um infectado que transmite a doença para um número particularmente grande de pessoas. O infectado não tem culpa, qualquer um pode se tornar um superdisseminador se tiver tido contato com muitos no momento errado. 

Futebol sem público, rotina na pandemia Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck

O momento também é crucial, pois um infectado já pode ser altamente contagioso mesmo antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Durante esta fase, a carga viral na garganta parece ser particularmente elevada.

Entretanto, muitos não apresentam sintomas ou quase não os têm e, portanto, nem mesmo percebem que foram infectados e que são fontes de contágio. Além disso, algumas pessoas parecem espalhar mais vírus e por mais tempo que outras. Isto pode ocorrer devido a seu sistema imunológico ou à distribuição de receptores de vírus no corpo.

Muitas vezes nem é possível identificar o superdisseminador. Um estudo do virologista japonês Hitoshi Oshitani, que examinou 61 focos de infecção com mais de 3 mil casos, causou sensação. Ele pesquisou surtos em restaurantes, salas de concertos e academias, locais considerados de alto risco onde muitos foram infectados pelo Sars-Cov-2. A pesquisa conclui que mulheres com menos de 30 anos, sem sintomas, têm maior probabilidade de serem propagadoras do vírus.

A equipe de Oshitani não citou as razões para isso. É óbvio, porém, que principalmente os mais jovens vão a clubes, bares ou festas – locais geralmente cheios e com pouca ventilação. A música alta e o álcool também fazem as pessoas falarem mais alto ou se aproximarem mais e as inibições diminuem.

Cálculo dos riscos

O rigor das restrições depende em grande parte do número de novas infecções. O fator decisivo aqui é o chamado número de reprodução R, que indica a média de pessoas infectadas por alguém. Um valor R de 2 significa que uma pessoa infectada contamina dois outros. O objetivo das restrições de contato é, portanto, manter este número tão baixo quanto possível – abaixo de 1.

Entretanto, além do valor R médio, também é decisivo o chamado fator de dispersão K, que indica com que frequência uma doença ocorre e onde podem se formar focos. Também este fator tem de ser mantido o mais baixo possível, pois quando a dispersão é menor a propagação da infecção pode ser rastreada até poucas pessoas ou mesmo até um único indivíduo.

O fato de a maior parte dos infectados contaminar apenas algumas pessoas, mas alguns superdisseminadores contagiarem um grande número, é antes de tudo uma notícia muito boa porque as medidas de proteção podem ser controladas de maneira muito mais direcionada.

Na maioria dos países, restrições ao afrouxamento do isolamento social visam conter possíveis surtos de infecção locais e evitar outro bloqueio em larga escala com todos os danos econômicos e sociais consequentes.

Em vista do rápido aumento do número de novas infecções, muitos países já reduziram ou restringiram drasticamente o afrouxamento das restrições, por exemplo, nas áreas de gastronomia ou eventos públicos. Alguns inclusive voltaram a impor o bloqueio em larga escala (como Israel) ou isolaram áreas particularmente afetadas (como Madri).

Para controlar uma doença, é difícil identificar e isolar os superdisseminadores individuais, especialmente quando os infectados apresentam poucos ou nenhum sintoma. No entanto, é possível controlar as circunstâncias que favorecem um "evento de superdifusão".

Clubes podem ser área de riscoFoto: picture-alliance/dpa/S. Kembowski

Se continuarem proibidas as celebrações familiares e festas, os eventos esportivos, concertos, ida a clubes e bares e encontros similares que reúnem um grande número de pessoas, especialmente em ambientes fechados, e forem observadas regras como o uso de máscaras, higiene e distanciamento, comunidades não precisam ter de se isolar completamente.

Mesmo na estação fria, em que gripe e resfriados são comuns, o respeito às regras permitiria que empresas, lojas, escolas, creches, e assim por diante, permanecessem abertas e isso evitaria consequências econômicas e sociais ainda mais dramáticas.

E se houver um novo surto em algum lugar, devem ser encontradas todas as pessoas de contato o mais rápido possível, para que sejam isoladas imediatamente até que se tenha o resultado negativo do teste de covid-19. O Japão, por exemplo, não só conseguiu conter a propagação do vírus com este método, mas desta maneira também evitou um bloqueio mais drástico

A importância do comportamento 

Claro que grandes eventos podem ser proibidos e as medidas de isolamento e distanciamento social podem ser reforçadas, empresas e restaurantes podem ser pressionados ao cumprimento das regras. Mas isso tudo depende do comportamento social de cada um.

Nas últimas semanas, na Alemanha, muitos indivíduos, por convicção ou ignorância, não observaram as regras do uso de máscara, higiene e distanciamento. Onde não há bom senso, os responsáveis pelo bem comum devem encontrar as medidas cabíveis para sancionar o desrespeito às regras com penalidades severas.

Não se deve esquecer, entretanto, que a grande maioria se esforça no cumprimento das regras para se proteger, mas acima de tudo para proteger os outros. E esta esmagadora maioria também entende que possíveis eventos superdisseminadores devem ser evitados – mesmo que isso signifique renunciar ao que se gosta, ao menos até que se tenha um medicamento ou uma vacina contra o Sars-Cov-2.

Adaptação: Roselaine Wandscheer

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