O som da recessão
17 de julho de 2003A banda é composta de quatro pessoas, mas ao que tudo indica a heroína é uma só: Judith Holofernes, 26 anos, guitarrista, cantora e autora das letras provocadoras com as quais o grupo vêm conquistando os fãs, conseguindo catapultar-se para o primeiro lugar da parada de sucessos com seu primeiro álbum, Die Reklamation, lançado dez dias atrás.
Semanários de renome, como Der Spiegel e Die Zeit, ocuparam-se recentemente com o novo fenômeno da música pop alemã, mas os artigos falam mesmo é de Judith. Não que ela tenha grandes pretensões. É inútil tentar buscar significados profundos por trás do nome da banda: "Não somos só nós quatro que somos heróis, todos nós somos", afirma Judith singelamente.
O espírito da época
Talvez esteja aí o segredo da identificação que ela consegue com suas letras, ainda que afirme não ser intenção do grupo se tornar o porta-voz desta geração. "O que não quero de jeito nenhum é catequizar", diz ela. Mas quem não se sente tocado, quando ela canta "Nós somos capazes de tudo, iguaizinhos aos macacos domesticados, nós só precisamos querer"? Ou: "Este é o país das impossibilidades limitadas". A crítica ao consumismo, o desejo de se furtar às coações, o mal-estar em meio à crise alemã são o fio condutor de suas canções.
Na opinião do Die Zeit, não foi por acaso que Judith Holofernes e seus companheiros — Pola Roy, Mark Tavassol e Jean-Michel Tourette — despontaram em Berlim. "Não existe outro canto que fosse melhor que Berlim para servir de fonte de inspiração para o som da recessão." Em meio à multidão de desempregados, que enfrentam o perigo constante da marginalização, Judith entoa seus hinos ao "sonho despedaçado" e consegue ibope.
Reminiscências dos anos 80
Facilita a identificação, ainda, o fato de as músicas serem em alemão, o que faz lembrar o início da década de 80, quando surgiu a Neue Deutsche Welle (Nova Onda Alemã). Enquanto o inglês festejava triunfos como idioma universal do rock e do pop, novos grupos começaram a cantar em alemão, considerado até então impróprio para esse tipo de manifestação. Letras bem humoradas, melodias simples e comerciais contribuíram para o sucesso do movimento, que gerou, entre outras estrelas, a ainda hoje popular Nena.
Ainda que a tônica das letras dos "heróis" de hoje tenha mudado, eles não querem ser considerados pessimistas. "O bom de uma crise é que ela sempre abre a porta para novas alternativas", diz Judith. "Com as nossas músicas e as nossas entrevistas, queremos dar uma força para as pessoas. Queremos contribuir para um espírito que favoreça a transformação."