"O sonho brasileiro acabou"
20 de agosto de 2005"O governo de Lula distribuiu um pouquinho de dinheiro para os pobres, mas as prometidas mudanças estruturais não aconteceram. A reforma do sistema de ensino, por exemplo, nunca interessou ao presidente. [...] Os excluídos não despertaram o interesse do PT, um partido de classe média. A reforma agrária, o meio ambiente, a ampliação da infra-estrutura, tudo isso ficou estagnado, antes mesmo de começar. É visível que Lula, antes de se tornar presidente, não teve experiência de governo. Ele sempre foi candidato – nunca prefeito, nem governador, nem ministro."
Berliner Zeitung
"Lula cai tão profundamente, porque levantou com freqüência vôos altos demais. Como protetor dos pobres, combatente por uma aliança do Terceiro Mundo, defensor da moral. Dois anos e meio depois de sua posse, ele frustra quase todas as esperanças. Seu programa contra a fome e a pobreza não surtiu nem de longe os efeitos prometidos. A unidade latino-americana, da mesma forma, não foi levada adiante. E como o Brasil está ocupado demais com seus próprios problemas, o presidente populista da Venezuela, Hugo Chávez, com seus bilhões vindos do petróleo, tomou seu lugar como o grande benfeitor da região."
Süddeutsche Zeitung
"Pela primeira vez um representante da esquerda [toma o poder] na história do Brasil – o país inteiro ficou cheio de bandeiras vermelhas. No seu gabinete, Lula teve, de forma semelhante à coalizão de governo social-democrata-verde em Berlim, ruidosos ex-combatentes de rua e socialistas hardcore, até mesmo ex-terroristas se agruparam ao seu redor. Ele prometeu tudo a todos e, principalmente, acabar com a fome e a pobreza. Criou o programa Fome Zero, mas, de forma geral, segurou o dinheiro. Os mercados lhe agradeceram. A moeda se estabilizou e o capital continuou no país. Lula parecia se entender bem com os grandes dos partidos burgueses. Agora veio à tona: eles se entederam bem demais."
Der Spiegel
"O fiasco no Brasil deu uma pancada forte nas grandes esperanças da esquerda. Muitos já viam o nascer de uma década de socialismo, não só no Brasil, mas em toda a América Latina, como resposta à década passada no odiado neoliberalismo. Lula, com seu enorme carisma e sua biografia extraordinária – de garoto pobre a presidente da República – desempenhou neste contexto um papel importante. Ele representou e representa para muitos a esperança, mas não cumpre, no momento, suas funções de forma adequada."
Neue Zürcher Zeitung
"Frente a um socialista como Lula, que alcança em seu país um crescimento econômico de 5%, mantém uma rígida disciplina orçamentária e paga pontualmente as dívidas externas brasileiras, os líderes econômicos internacionais têm um grande respeito. Mas os sindicalistas, membros de grupos de base, ambientalistas e defensores da Teologia da Libertação se interessam, acima de tudo, pelos efeitos da política para aqueles que estão na base da pirâmide social. E para eles, a decepção aumenta a cada dia."
Der Tagesspiegel
"Agora estamos diante da dimensão política que vai além de uma crise momentânea no Brasil. Por muito tempo se pôde falar num 'modelo Lula' e este está agora em perigo. Se e como o presidente vai se estabilizar politicamente outra vez será decisivo neste momento. [...] O próprio Lula busca sua redenção ao jogar a culpa na elite política e na mídia brasileira, que estaria exagerando o escândalo, para tirá-lo do cargo. Ele, o primeiro presidente socialista do país. Muitos de seus correligionários do PT ouvem isso com prazer, pois essas palavras combinam com o modelo direita-esquerda a que estão acostumados. Mas exatamente um presidente como Lula, que havia se distanciado de tais modelos, não poderá apelar de novo para os velhos argumentos se quiser se manter no cargo."
Die Welt
"A crise política, que estremece agora o governo do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, deixa para trás todos os escândalos de corrupção que derrubaram o ex-presidente Fernando Collor de Mello. A mídia brasileira utiliza cada vez mais a palavra impeachment."
Frankfurter Allegemeine Zeitung
"No Partido dos Trabalhadores, os nervos estão à flor da pele. [...] Uma verdadeira indignação toma conta das bases. O grupo ao redor do ex-estrategista José Dirceu ainda têm as rédeas na mão, numa 'mistura de stalinismo com manobra de sindicato', diz uma ativista de Porto Alegre. Segundo ela, Lula governou para o capital financeiro e acalmou os pobres com auxílios como o Bolsa Família."
taz, die tageszeitung