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O Terceiro Reich e a Música

ers (sm)15 de outubro de 2004

O panorama musical do Terceiro Reich é tema de uma exposição na Cité de la Musique, em Paris.

Bayreuth, com seus festivais wagnerianos, fascinava os nazistasFoto: AP

A justaposição da arte oficial do período nazista e tudo o que foi excluído pelo regime de Hitler é o fio condutor da exposição O Terceiro Reich e a Música, apresentada na Cité de la Musique, em Paris, até 9 de janeiro. "Pela primeira vez é possível apreciar, lado a lado, a música de compositores como Hindemith, Schönberg, Weill e outros, qualificada de 'degenerada', e a música de artistas que correspondiam ao ideal de 'pureza' do nazismo, à luz de seus clássicos favoritos, como Wagner e Bruckner", explica Pascal Huyn, curador da exposição.

Aplaudidos e difamados

As obras da mostra provêm de 48 instituições da Alemanha, Áustria, Bélgica, Suíça e França. A lista das peças expostas inclui pinturas, esculturas, fotografias, partituras, vídeos e amplo material sonoro. É possível, por exemplo, ver fotos do Festival de Bayreuth sob iluminação de gala, por ocasião da comemoração do 50º aniversário de Hitler. Estas imagens mostram a importância dos festivais que se tornaram um dos mais representativos espetáculos midiáticos do Terceiro Reich. A exposição também inclui partituras originais de Wagner.

Como contraste, exibem-se, por exemplo, desenhos e caricaturas sobre Ernst Krenel e sua obra-prima Jonny spielt [Jonny toca]. A ópera protagonizada por um violonista negro foi uma das peças mais tocadas na década de 20 e seu compositor recebeu um amplo reconhecimento no exterior. Na Alemanha, no entanto, a obra foi rotulada de "produto cultural bolchevique" e proibida após a ascensão dos nazistas ao poder. A exposição de Paris oferece ao visitante a oportunidade de escutar alguns fragmentos desta ópera.

Testemunhos originais

Cartaz sobre 'música degenerada'Foto: DHM

O jazz, as composições atonais e as obras de Schönberg, Busoni, Schreker e Weill também foram alvo da censura nazista. A mostra apresenta fotos e cenários da Ópera dos Três Vinténs e de Mahagony, de Brecht e Weill, além de partituras originais de Schönberg e a Composição IX de Vassily Kandinsky, na qual se vêem semicírculos amarelos, vermelhos e azuis entrelaçados. "Todas as peças são originais, muitas das quais raramente expostas, mesmo na Alemanha", assinala Pascal Huyn, elogiando a cooperação com os museus alemães.

Na última sala, encontram-se documentos e desenhos provenientes dos campos de concentração de Theresienstadt e Dachau, por onde passaram compositores como Viktor Ullmann, Gideon Klein e Hans Krasa, bem como o regente Karel Ancerl. Foi em Dachau que surgiu o canto que encerra a exposição, cujo texto diz: "Neste primitivo acampamento, rodeado por um muro de ferro, parecemos viver numa jaula, no meio de um grande deserto. O som dos passos e o ruído das armas, sentinelas dia e noite, e sangue, gritos, lágrimas. E a morte a quem fugir..."

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