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O tsunami não foi só na Ásia

av8 de janeiro de 2005

A África é a grande esquecida da catástrofe que traumatizou o mundo no fim de 2004. Poucos se lembram de destinar suas doações aos africanos. E a cada semana um "tsunami humano" assola grandes extensões do continente.

Restos de uma aldeia na SomáliaFoto: dpa

O rastro de destruição, o número astronômico de mortos e desaparecidos – entre eles, milhares de turistas ocidentais –, os dramas das famílias, a avalanche de imagens dramáticas: todas essas marcas deixadas pelos recentes tsunamis no Sudeste Asiático quase fazem esquecer que a tragédia não se limitou aos paraísos turísticos do Oceano Índico.

Após o choque sem precedentes, apenas lentamente a consciência pública começa a acordar para o outro lado da tragédia, a África. Nesta quinta-feira (06/01), o presidente alemão, Horst Köhler, elogiou a prontidão da população da Alemanha em doar para as regiões assoladas pelo maremoto. Ele pediu, porém, que não esqueçam as outras zonas de crise no mundo, como Darfur (no Sudão), o Congo ou a Costa do Marfim, onde diariamente tantas pessoas morrem de fome e em conflitos bélicos.

"Apenas" 2,8 milhões de dólares

Provavelmente nunca se saberá quantas vítimas fatais a catástrofe natural de 26 de dezembro fez na costa da Somália. Quando a onda apocalíptica atingiu suas extensas praias, a maioria dos pescadores encontrava-se em alto mar. A Organização das Nações Unidas calcula entre 200 e 300 o número de mortos, além das 17 mil a 54 mil que perderam tudo, e precisam urgentemente de auxílio na Somália.

A área mais atingida é a de Puntland, região autônoma no nordeste do país. Na Península de Hafun, que foi praticamente varrida pelo tsunami, alguns habitantes conseguiram escapar para as montanhas. Porém a maioria dos homens não voltou da pesca aos tubarões-martelo e lagostas, destinados à exportação para os Emirados Árabes Unidos.

Os estragos do tsunami na Ilha de Xaafun, na SomáliaFoto: dpa

A destruição de localidades inteiras e da infra-estrutura já tão deficiente representou enormes obstáculos para o transporte das equipes de ajuda humanitária. Segundo Laura Mello, do Programa Mundial de Alimentação da ONU (WFP), nos primeiros dias eram necessárias, em média, oito horas para vencer uma distância entre 60 e 70 quilômetros.

A WFP tenta também levar alimentos, cobertores e medicamentos até o norte da Somália de navio, a partir de Mombasa, no Quênia. A organização apela ao mundo para que não esqueça a África: "Precisamos urgentemente de cerca de 2,8 milhões de dólares para suprir as vítimas somalis, nos próximos seis meses, com o mínimo indispensável à sobrevivência", lembrou Laura Mello. Uma quantia irrisória, diante dos rios de doações que atualmente fluem de todas as partes do mundo para a Ásia.

Sistema de classes na ajuda humanitária

Nesta primeira semana de janeiro, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, declarou em Londres: "Na África a cada semana ocorre um tsunami causado por seres humanos". Os flagelos que assolam aquele continente vão da malária à guerra civil sangrenta e epidemias de aids. Blair pretende utilizar o papel de seu país na presidência do G-8 para colocar o continente africano no alto da lista de prioridades.

A organização Africa Action acusa a existência de um sistema de classes na ajuda humanitária: "Em todo mundo há a tendência de aceitar um grau de miséria maior na África", comenta seu diretor, Salih Booker. E este tsunami atingiu o continente africano pelo menos duas vezes. Ele não custou "apenas" cerca de 300 vidas: a fixação do interesse público no Sudeste Asiático pode significar que, mais uma vez, os africanos terão que se contentar com menos solidariedade e auxílio humanitário do que os outros.

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