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O voto conservador dos jovens poloneses

Olivia Kortas ca
9 de fevereiro de 2019

Partidos conservadores e de direita receberam apoio de dois terços do eleitorado jovem nas últimas eleições gerais na Polônia. Defendendo valores pós-materialistas, juventude anseia por tradição e segurança.

Manifestantes seguram bandeiras da Polônia em protesto anti-imigrantes em Varsóvia, em 2016
Manifestantes seguram bandeiras da Polônia em protesto anti-imigrantes em Varsóvia, em 2016Foto: Reuters/K. Pempel

Nas comemorações do centenário de independência da Polônia, em novembro último, os espectadores se depararam com uma cena incomum: jovens marchando por Varsóvia, com o corpo enrolado em bandeiras brancas e vermelhas e cantando o Hino Nacional polonês.

Somente uma marcha patriótica ainda poderia atraí-los para as ruas. Porque quando os mais velhos se manifestam contra a política conservadora do governo, os mais jovens ficam em casa. Eles defendem valores conservadores e votam em partidos de direita.

A guinada para a direita da geração mais jovem na Polônia não é uma tendência temporária nem uma expressão de protesto. Ele representa uma nova autoimagem que cresceu com a política dos últimos anos. Os jovens poloneses se voltam para valores pós-materialistas, que foram desprezados durante um longo tempo. Eles anseiam pela Igreja, por tradição e segurança.

Nas eleições gerais de 2015, a guinada para a direita da geração mais jovem foi percebida pela primeira vez. Dois terços de todos os eleitores com idade entre 18 e 29 anos votaram em partidos à direita do centro do espectro político. O nacional-conservador PiS, atualmente no poder, angariou 27% de seus votos.

Outros 21% foram para o novo movimento populista de direita Kukiz'15, e 17%, para a legenda antissistema Partido da Liberdade. As eleições regionais de outubro confirmaram o padrão: o PiS conquistou o maior número de votos dessa faixa etária, e também o Kukiz'15 continuou a contar com esse apoio.

Os jovens não só votam nos conservadores e direitistas, mas também pensam dessa forma. Isso foi demonstrado num estudo publicado em novembro pelo instituto de opinião e pesquisa IQS. Os cientistas entrevistaram poloneses sem filhos e na faixa dos 16 aos 29 anos de idade.

"Nos últimos três anos, os jovens poloneses se voltaram para valores ainda mais conservadores", resumiu a psicóloga social Marta Majchrzak, uma das coautoras do estudo. "Eles confiam em autoridades, sonham com o casamento e têm orgulho de serem cidadãos poloneses." O estudo classificou apenas 9% dos entrevistados de "cosmopolitas" e "abertos à alteridade".

Esquecendo o socialismo

A atitude conservadora da geração mais jovem pode ser explicada pelas reformas econômicas após o fim da União Soviética. Poloneses com menos de 30 anos já não se lembram do socialismo. Eles cresceram numa época em que seus pais montaram seus próprios negócios.

O sucesso econômico passou a vir em primeiro lugar, com o Ocidente como ideal. Os pais prometiam aos filhos que sua nova Polônia logo se tornaria um membro igualitário da União Europeia (UE) e que iria se desenvolver até estar em pé de igualdade com os vizinhos alemães.

Mas logo as promessas foram seguidas de decepção. Sob o partido liberal PO, que governou o país de 2007 a 2015, a economia cresceu, mas não a segurança econômica dos mais jovens. O desemprego juvenil aumentou até atingir o pico de mais de 27%, em 2013.

Aos jovens poloneses restaram contratos temporários de emprego, com salários menores que o esperado. Após ainda terem ajudado o PO a vencer a eleição de 2007, eles se afastaram do partido nos anos seguintes e votaram em nacional-conservadores, que lhes prometeram uma política mais voltada para o lado social.

De acordo com o estudo do IQS, a geração mais jovem vê o país como um enclave seguro, que a protege das incertezas do mundo. Três em cada quatro entrevistados disseram ser contra o acolhimento de refugiados. Quase um terço afirmou que abriria mão da liberdade pessoal em prol de mais lei e ordem.

Isso não significa, no entanto, que os jovens poloneses estejam se afastando dos valores democráticos. "Esta geração não é de forma alguma de extrema direita", aponta Henryk Domański, sociólogo e diretor do Instituto de Filosofia e Sociologia da Academia de Ciências de Varsóvia. "Os jovens poloneses são apolíticos, por esse motivo os votos para os partidos mais radicais pesam mais".

Isso também foi demonstrado na eleição regional no fim do ano passado: a principal disputa eleitoral ocorreu entre PO e PiS. Desde 1990 não se viam tantas pessoas votando: o comparecimento eleitoral foi de 51%. Mas apenas 37% dos eleitores entre 18 e 29 anos foram às urnas.

"Um partido de direita como Kukiz'15 só conseguirá se beneficiar de forma temporária do conservadorismo dos jovens", afirma Domański. O sociólogo recorda os partidos antissistema Ruch Palikota e o Samoobrona, que conseguiram conquistar a preferência do eleitorado jovem alguns anos atrás. Politicamente, ambas as legendas já não têm, há muito, mais nenhuma importância.

Domański disse estar convencido de que os jovens poloneses permanecerão leais ao conservador PiS nas eleições do ano que vem. Além disso, aqueles com menos de 30 anos deverão continuar conservadores.

Atualmente, vê-se crescer uma geração de jovens na Polônia, cujos pais emigraram para países do oeste da UE em busca de melhores salários. Os chamados "euro-órfãos" cresceram longe dos pais ou mães duranre meses. Eles também anseiam por tradição e segurança.

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