Presidentes de EUA e Cuba trocam gentilezas em seus discursos na 7ª Cúpula das Américas, no Panamá. Líder americano afirma que reaproximação dos países abre "nova era" no continente.
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Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, discursaram neste sábado (11/04) durante a sessão plenária da 7ª Cúpula das Américas, no Panamá. Os líderes trocaram palavras gentis antes do encontro histórico entre os líderes dos dois países.
O primeiro a falar foi Obama, que declarou que as mudanças na política entre Washington e Havana abrem uma "nova era no hemisfério". O presidente reforçou que seu país "não será prisioneiro do passado" e garantiu que, apesar das diferenças, o diálogo entre Cuba e EUA irá continuar.
"A Guerra Fria terminou. Eu não estou interessado em disputas que, francamente, começaram antes de eu nascer", afirmou Obama, acrescentando que procura "resolver os problemas" trabalhando e cooperando com toda região.
De acordo com Obama, a mudança política em relação a Cuba aprofunda o compromisso americano com toda a região. O presidente declarou também que, desde que chegou à Casa Branca em 2009, vem mantendo relações de parceria e igualdade com o continente.
Sem interesse em intervenções
Obama aproveitou ainda seu discurso para responder as críticas do presidente equatoriano, Rafael Correa, que minutos antes havia dito em plenária que os EUA continuavam a intervir "ilegalmente" na América Latina e pediu a "segunda independência da região".
Correa citou, como exemplos para o intervencionismo americano, a ordem executiva de Obama que declarou a Venezuela com uma "ameaça" e o pedido de funcionários americanos de recursos para "defender a liberdade de expressão" em Cuba, Venezuela, Equador e Nicarágua.
O líder americano admitiu que, no passado, nem sempre as políticas americanas de direitos humanos foram acertadas, mas hoje seu país não tem interesse em "intervenção".
"Admiro sua origem humilde"
Após a fala de Obama, a palavra foi passada a Raúl Castro. O anúncio do discurso do líder cubano arrancou aplausos dos presentes. "Já era hora de eu falar aqui em nome de Cuba", iniciou o presidente do país que participa pela primeira vez da Cúpula das Américas.
Castro ultrapassou bastante os oito minutos estipulados para cada presidente. Durante pouco mais de 40 minutos, o líder cubano isentou Obama da culpa de ações políticas em relação a Cuba tomadas pelos seus dez antecessores e parabenizou o homólogo americano pela iniciativa de reaproximação entre os dois países.
"O presidente Obama é um homem honesto. Eu admiro sua origem humilde e acho que sua natureza se deve a essa origem humilde", disse Castro, que também pediu o fim do embargo à ilha e afirmou que consideraria um "passo positivo" uma decisão rápida sobre a retirada de Cuba da lista americana de países que apoiam o terrorismo.
CN/dpa/afp/efe
7ª Cúpula das Américas
Líderes do continente americano discutem, nos dias 10 e 11 de abril, na Cidade do Panamá, temas como economia e desigualdade social nos países. Em edição histórica, Cuba marca presença pela primeira vez.
Foto: DW/S. Czimmek
Cidade do Panamá
A Cidade do Panamá sedia a 7ª Cúpula das Américas nos dias 10 e 11 de abril. A capital do Panamá tem cerca de 1,5 milhão de habitantes, com arranha-céus e hotéis que dominam a paisagem. Era desta cidade que saíam as riquezas incas para a Europa nos séculos 15 e 16. Hoje, o país é considerado modelo econômico na América Latina, principalmente devido às receitas do Canal do Panamá.
Foto: DW/M. Soric
Trinta e cinco chefes
Os encontros ocorrem no Centro de Convenções Atlapa, localizado no centro da cidade. Trinta e cinco chefes de governo e de Estado foram convidados. A Cúpula das Américas ocorre a cada três anos e é preparada pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Foto: DW/M. Soric
Cuba presente
Pela primeira vez, Cuba irá participar da cúpula, algo que até então os Estados Unidos e o Canadá costumavam barrar. Nesta quinta-feira (10/04), o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, tiveram um encontro na primeira reunião de alto nível entre os dois países desde 1958.
Foto: picture-alliance/dpa/US Department of State/G. Johnson
Embaixada vigiada
A Embaixada de Cuba na Cidade do Panamá é rigorosamente vigiada, inclusive o trânsito foi desviado. Os delegados de Havana ficaram incomodados que tantos dissidentes tenham viajado até o Panamá. Foram registrados confrontos entre apoiadores e opositores do governo cubano.
Foto: DW/M. Soric
Sociedade civil
Não apenas políticos estão presentes no encontro. Representantes da sociedade civil também foram convidados. Lilian Tintori estará presente para reforçar a luta do marido, Leopoldo López, conhecido opositor do governo na Venezuela, preso por razões políticas há 14 meses, em Caracas.
Foto: DW/M. Soric
Desigualdade
A desigualdade social é o principal tema do encontro. Chefes de Estado e de governo discutirão o que precisa ser feito para melhorar as condições de vida dos habitantes das Américas. Questão importante no Panamá: os 10% mais ricos da população detêm 40% da renda nacional; os 10% mais pobres ficam com apenas 1,1%. O Banco Mundial queixa-se há anos da desigualdade no Panamá.
Foto: DW/S. Czimmek
Trabalho infantil
Conforme o Unicef, o trabalho infantil é um grave problema a ser combatido no Panamá. A entidade calcula que 50 mil crianças são exploradas nas fazendas de cana-de-açúcar, café e banana do país. Muitos menores ainda trabalham em fábricas e também na indústria da pesca.
Foto: DW/S. Czimmek
Pobreza
Metade das crianças abaixo dos cinco anos vive na pobreza no Panamá. Muitas delas são oriundas de tribos indígenas. Durante a Cúpula das Américas, o trabalho infantil também será abordado. Para os observadores, porém, pouco tende a mudar.