Obama acaba com regra migratória especial para cubanos
13 de janeiro de 2017
Chamada política "pés secos, pés molhados", que dava residência a quem conseguisse tocar terra, pertence a outra era, afirma presidente, que atende pedido de longa data do governo cubano.
Anúncio
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira (12/01) que acabou, com efeito imediato, com o regime em vigor há décadas que concede autorizações de residência aos imigrantes ilegais cubanos que chegam a território americano.
Segundo Obama, a chamada política de "pés secos, pés molhados" pertence a "outra era" e seu fim contribuirá para normalizar as relações com Cuba. "Hoje os Estados Unidos estão dando passos importantes para normalizar as relações com Cuba e para conseguir uma maior consistência em nossa política de imigração", afirmou a Casa Branca, em comunicado.
Como o fim da política de "pés secos/pés molhados" terá efeito imediato, os cubanos que não se qualifiquarem para obter ajuda humanitária serão deportados, em concordância com as atuais leis do país. "Ao dar este passo, estamos tratando os imigrantes cubanos da mesma maneira que tratamos os migrantes de outros países", ressaltou Obama.
O presidente americano considerou que a política "pés secos/pés molhados" pertence a "outra era", pois foi adotada em 1995 e estava baseada na devolução a Cuba dos ilhéus que eram interceptados no mar ("pés molhados"), mas na admissão no país dos que conseguiam tocar terra ("pés secos").
Segundo o comunicado da Casa Branca, o governo cubano se comprometeu a aceitar o retorno a Cuba dos ilhéus que sejam deportados dos Estados Unidos, da mesma forma como aceitou anteriormente a volta à ilha dos migrantes que eram interceptados no mar.
O fim da política de "pés secos/pés molhados" era uma reivindicação antiga do governo de Cuba para avançar na política de normalização das relações bilaterais que os velhos inimigos começaram em dezembro de 2014. A política era vista pelo governo cubano como um incentivo ao exílio.
A política adotada hoje é uma emenda à Lei de Ajuste Cubano de 1966, que outorga autoridade ao secretário de Justiça dos EUA para permitir que os cubanos que entraram no país, tanto legal como ilegalmente, obtenham a residência permanente um ano após sua chegada.
AS/efe/lusa
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.