Obama: EUA não estão sozinhos na guerra contra o "Estado Islâmico"
23 de setembro de 2014
Segundo o presidente, participação de países do Oriente Médio mostra que "esta não é uma luta só dos Estados Unidos". Irã e Rússia criticam os ataques em território sírio.
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O presidente americano, Barack Obama, disse em pronunciamento nesta terça-feira (23/09) que os Estados Unidos não estão sozinhos na luta contra os jihadistas do "Estado Islâmico" (EI). Ele advertiu que a operação militar contra o EI levará tempo, mas que vai fazer o que for necessário para destruir o grupo.
Os bombardeios aéreos contra bases dos jihadistas na Síria, iniciados nesta segunda-feira, mataram ao menos 120 extremistas, divulgou o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Ainda de acordo com a organização, ao menos oito civis, entre eles três crianças, também perderam suas vidas no oeste da província síria de Aleppo. Outros 300 militantes estariam feridos, dos quais cem em estado grave.
Os ataques usaram mais de 150 mísseis e bombas de precisão em mais de 14 pontos em Raqqa e cidades próximas à fronteira entre a Síria e o Iraque. Os alvos eram centros de comando, depósitos de armas, campos de treinamento e até um centro financeiro dos jihadistas, citou o Pentágono.
A ofensiva americana envolveu também Estados árabes, como Bahrain, Catar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Jordânia, e atacou ainda grupos dissidentes da Al Qaeda, como a Frente al-Nusra e o Khorasan. Segundo o Pentágono, o Khorosan é uma célula de veteranos da Al Qaeda e que estava na fase final do planejamento para atacar alvos na Europa e nos Estados Unidos.
"A força dessa coalizão deixa claro ao mundo que esta não é uma luta só dos Estados Unidos", reforçou Obama. "Acima de tudo, as pessoas e os governos no Oriente Médio estão rejeitando o EI e defendem a paz e a segurança que o povo desta região e do mundo merece", afirmou o presidente, antes de encerrar o pronunciamento repetindo a mensagem já proferida em 10 de setembro: "Precisa ficar claro para cada um que conspirar contra os Estados Unidos que não haverá refúgio seguro para terroristas que ameaçam o nosso povo".
Estados Unidos e Síria divergem
Os bombardeios marcam uma guinada na política de combate ao terrorismo de Obama, até então resistente em envolver os EUA em mais uma guerra – especialmente na Síria, onde resistiu a intervir durante o ápice da guerra civil, e no Iraque, de onde acabou de retirar suas tropas. Países europeus ainda não estão participando da ação militar na Síria, mas o Reino Unido está considerando a opção. Já no Iraque, a França se aliou aos americanos.
Mais cedo, a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, reiterou que os Estados Unidos não pediram permissão da Síria antes de realizar os ataques aéreos. "Não coordenamos nossas ações com o governo sírio. Não fornecemos informações prévias aos militares sírios nem demos qualquer indicação de hora e alvos específicos", afirmou Psaki. "Apenas advertimos a Síria a não se envolver com aeronaves americanas."
Ela afirmou ainda que o secretário de Estado, John Kerry, não enviou uma carta ao governo sírio, ao contrário do que disse o ministro do Exterior do país árabe, Walid al-Moallem.
Irã e Rússia criticam ataques aéreos
O governo do presidente Bashar al-Assad disse ter sido informado pelos EUA sobre a ação militar. Assad inclusive saudou qualquer esforço internacional na luta contra o terrorismo. "A Síria vai continuar a lutar resolutamente a guerra que vem lutando durante anos contra o terrorismo", disse o presidente, segundo a agência de notícias estatal Sana.
Já o Irã, um dos principais parceiros da Síria, criticou os bombardeios aéreos. "A luta contra o terrorismo não pode ser uma pretexto para violar a integridade territorial de um país", disse o vice-ministro do Exterior, Amir Abdullahian. Ele advertiu que Teerã vai acompanhar de perto o desenvolvimento das ações militares na Síria. Por outro lado, o Irã, de maioria xiita, apoia os curdos no Iraque com envio de armas para a sua luta contra a milícia terrorista sunita do EI.
Também a Rússia, outro parceiro sírio, condenou os bombardeios. "O lado russo salienta que os ataques aéreos contra bases terroristas do EI na Síria não devem ser realizados sem o acordo do governo sírio", disse um comunicado emitido pelo Kremlin.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.