Presidente americano promete abordar questões sensíveis, como os direitos humanos, diretamente com Raúl Castro. Será a primeira viagem oficial de um líder dos EUA a Havana em quase 90 anos.
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou nesta quinta-feira (18/02) que viajará a Cuba nos próximos dias 21 e 22 de março e que se reunirá com o presidente cubano, Raúl Castro. Será a primeira visita de um chefe de Estado americano à ilha caribenha em quase nove décadas.
O último presidente americano a visitar Havana foi Calvin Coolidge, em 1928. Quando ocupou o cargo, Harry Truman visitou a Baía de Guantánamo, controlada pelos EUA, em 1948.
"Há 14 meses, eu anunciei que começaríamos a normalizar as relações com Cuba – e nós já realizamos progresso significativo", escreveu Obama no Twitter. "No próximo mês, eu viajarei a Cuba para avançar no nosso progresso e esforço, que podem melhorar a vida do povo cubano."
Em outra publicação em sua conta pessoal na mídia social, Obama enfatizou que, apesar do processo de normalização das relações bilaterais, ainda existem "diferenças" com o governo cubano. Ele disse que prevê abordá-las "diretamente" em sua visita à ilha.
"Nós ainda temos diferenças com o governo cubano, as quais eu abordarei diretamente. A América sempre defenderá os direitos humanos no mundo", continuou o presidente. "Nossa bandeira tremula na embaixada em Havana novamente. Mais americanos estão viajando a Cuba do que nos últimos 50 anos."
Obama vê o fim de cinco décadas de medidas isolacionistas impostas pelos EUA a Cuba como um dos grandes êxitos de sua política externa. Os dois países reataram as relações diplomáticas em julho passado, após uma aproximação entre Obama e Castro, iniciada em dezembro do ano anterior.
Apesar da reaproximação, o embargo comercial imposto pelos EUA durante a Guerra Fria ainda pesa sobre a ilha, com poucas perspectivas de que seja removido pelo Congresso americano, dominado pelo Partido Republicano.
O governo dos EUA, porém, realizou mudanças regulatórias para permitir o comércio e viagens entre os dois países. Na última terça-feira, os dois países assinaram um acordo autorizando voos comerciais diários para Cuba por parte de empresas aéreas americanas. Atualmente, 1,8 milhão de cidadãos de Cuba, que tem 11 milhões de habitantes, vivem nos EUA.
O presidente americano viajará acompanhado da primeira-dama Michelle Obama. Depois, nos dias 23 e 24 de março, o casal visitará a Argentina.
RC/afp/ap
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.