"Não hesitarei em atacar o 'Estado Islâmico' na Síria." Presidente americano promete atacar jihadistas "onde quer que estejam", mas garante que os EUA não vão enviar tropas terrestres, apenas a Força Aérea.
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Em discurso à nação americana nesta quarta-feira (10/09), o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou uma luta incansável contra o grupo extremista "Estado Islâmico" no Iraque e na Síria.
"Esta campanha contra o terror será um compromisso sólido e inabalável, com o intuito único de destruir o EI – onde quer que esteja", disse Obama. "Os Estados Unidos vão liderar uma ampla coalizão para encurralar essa ameaça terrorista. O 'Estado Islâmico' não é islâmico, pois mata e aterroriza, e também não é um Estado", afirmou o presidente.
Ele comparou a ação contra os jihadistas às operações antiterroristas que Washington já realiza há anos no Iêmen e na Somália. Mas, além da campanha aérea no Iraque, Obama sinalizou que está preparado para iniciar uma missão militar na Síria.
"Eu não irei hesitar em atacar o EI na Síria. Este é um princípio fundamental da minha presidência: se você ameaçar os Estados Unidos, você não vai encontrar refúgio seguro", disse o presidente, que também é o comandante-chefe das Forças Armadas do país.
Obama disse ainda que vai pedir que o Congresso aprove assistência militar para treinar e equipar rebeldes sírios moderados, que estão lutando contra os militantes do EI. Ele descartou ter o regime do presidente Bashar al-Assad como aliado.
No entanto, Obama garantiu que não haverá tropas americanas em solo estrangeiro. "Usaremos nossa Força Aérea e, desta forma, apoiaremos as tropas terrestres de nações amigas. Nossos esforços serão diferentes dos que tivemos nas guerras no Iraque e no Afeganistão."
O presidente anunciou ainda uma ajuda emergencial de 25 milhões de dólares para o governo iraquiano e para autoridades curdas no norte do país, que estão combatendo a milícia do EI. A verba é destinada para o treinamento das forças iraquianas. Além disso, outros 475 conselheiros militares se juntarão aos mais de mil militares americanos já presentes no Iraque.
O discurso de Obama foi realizado justamente na véspera do 11 de Setembro, data na qual, em 2001, ocorreram os ataques terroristas em Nova York e no Pentágono. Além disso, o presidente pode contar com o apoio da população, já que as decapitações dos jornalistas Steven Sotloff e James Foley ressuscitaram medos profundos de terrorismo nos americanos.
Apoio do Oriente Médio
Horas antes do discurso, a Casa Branca comunicou que Obama e o rei Abdallah, da Arábia Saudita, haviam concordado sobre a necessidade em reforçar o equipamento militar das forças sírias. "O presidente e o rei concordaram sobre a necessidade de aumentar o treino e o envio de equipamento à oposição moderada síria, nos moldes da proposta que o presidente Obama fez ao Congresso dos Estados Unidos", disse a Casa Branca, em nota.
Nesta quinta-feira, o rei Abdullah 2º, da Jordânia, recebe a visita do secretário de Defesa dos EUA, John Kerry, que está em viagem pelo Oriente Médio, buscando possíveis parceiros na região para o combate contra os guerrilheiros do EI. Mais cedo, Kerry esteve reunido com o novo primeiro-ministro iraquiano, Haidar al-Abadi, e prometeu apoio americano ao Exército do Iraque.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.