Obama: "Nenhuma nação está imune às mudanças climáticas"
30 de novembro de 2015
Na abertura da COP21, presidente americano faz mea-culpa e admite responsabilidade histórica dos EUA no aquecimento global. China defende que diferenças entre países ricos e emergentes sejam respeitadas.
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Líderes das maiores potências econômicas mundiais fizeram um apelo nesta segunda-feira (30/11), primeiro dia da Conferência do Clima de Paris, por medidas ambiciosas e eficazes contra o aquecimento global.
Dos discursos, um dos mais enfáticos foi o do presidente americano, Barack Obama, que reconheceu a responsabilidade histórica dos Estados Unidos, segundo maior emissor do mundo, nas mudanças climáticas.
"Como líder da maior economia mundial e do segundo maior emissora (...), os Estados Unidos não apenas reconhecem seu papel na criação desse problema, nós também assumimos nossa responsabilidade de fazer algo", afirmou Obama em Le Bourget, nos arredores de Paris.
"Acredito nas palavras de Martin Luther King Junior, de que existe uma hora em que é tarde demais. Na questão das mudanças climáticas, estamos quase em cima da hora", continuou o líder americano. "Somos a primeira geração a sentir os efeitos das mudanças climáticas e a última que pode fazer algo a esse respeito. Nenhuma nação, grande ou pequena, rica ou pobre, está imune ao que isso significa."
No discurso, Obama expôs as possíveis consequências do que chamou de "um futuro possível" derivado do aquecimento global.
"Países submersos, cidades abandonadas, campos que já não crescem mais. Distúrbios políticos que desencadeiam novos conflitos, deixando mais pessoas desesperadas que buscam abrigo em nações que não são delas", disse.
China: "É importante respeitas as diferenças"
Estados Unidos e China resistiram no passado em participar de um acordo global sobre o clima. No momento, ambos concordaram em trabalhar juntos, embora tenham problemas com o processo da ONU e devem resistir a aceitar um pacto global juridicamente vinculativo.
Nesta segunda-feira em Paris, o presidente da China, Xi Jinping, disse ser crucial que as conversas levem em consideração as diferenças e permitam que países possam desenvolver suas próprias soluções para o aquecimento global. A China, maior emissora de gases do efeito estufa, sempre insistiu que nações desenvolvidas deveriam ter maior responsabilidade.
"A abordagem das mudanças climáticas não pode negar as necessidade legítimas dos países em desenvolvimento de reduzir a pobreza e melhorar os padrões de vida. É importante respeitar as diferenças entre os países, especialmente os países em desenvolvimento", afirmou.
Hollande: "A esperança de toda a humanidade"
Anfitrião do encontro, o presidente François Hollande ressaltou que "nenhuma conferência anterior reuniu tantos líderes de tantos países" e que "nunca houve tanta coisa em jogo porque se trata do futuro do planeta".
"A esperança de toda humanidade repousa nos nossos ombros", declarou. "Nós estamos aos pés do muro. Ele não é instransponível. Os bons sentimentos, as declarações de intenção não serão suficientes, estamos diante de um ponto de ruptura", insistiu.
Para o presidente francês, um "acordo bom e grande" se baseia em "três condições". A primeira, disse ele, é "esboçar um caminho credível para conter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius ou até 1,5 grau".
A segunda é "dar uma resposta solidária ao desafio climático", na qual nenhum Estado fuja de suas responsabilidades, ressalvando que diferenças de desenvolvimento devem ser levadas em conta.
"Os países desenvolvidos devem assumir sua responsabilidade histórica, são eles que têm emitido ao longo de anos a maior qquanidade de gases do efeito estufa; os países emergentes deve acelerar sua transição da energia; os países em desenvolvimento devem ser apoiados na adaptação aos impactos climáticos", disse. A terceira condição é que todas as sociedades comecem a se mexer.
Já a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou: "O acordo deve ser justo, ambicioso e vinculativo. A Alemanha espera uma revisão a cada cinco anos, começando em 2020. A Alemanha dará a sua contribuição."
AS/afp/ap/rtr
Giro por um mundo transformado pelo clima
As mudanças do clima global estão alterando a face do mundo, do derretimento do gelo polar e elevação do nível do mar à migração da vegetação. Quem quiser mostrar aos filhos como é uma geleira de verdade, que se apresse.
Foto: Reuters/Mariana Bazo
Mundinho pequeno
Mesmo se conseguirmos manter o aquecimento global abaixo de 2°C, 2015 poderá ser o ano mais quente já registrado desde a era pré-industrial. O risco de o nível do mar subir mais de um metro e submergir Amsterdã persiste. Se continuarmos a emitir dióxido de carbono na velocidade atual, até 2100 a Terra terá se aquecido em 4°C – e Nova York estará sob o mar.
Foto: CC BY 2.0 Duncan Hull
Recifes de coral por um fio
Mergulhar na Austrália para admirar os belos recifes de coral pode ser um prazer com dias contados, pois o aquecimento global vai destruindo esses ecossistemas submarinos. As águas cada vez mais quentes causam a descoloração dos corais, e um aumento de 2°C pode dissolvê-los. O acréscimo de CO2 torna a água dos oceanos mais ácida, impedindo o crescimento normal das estruturas calcárias.
Foto: picture-alliance/ dpa
Alpes sem esqui
O aquecimento nos Alpes é "três vezes a média global", segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O nível de neve diminui a cada ano e a vegetação conquista montanhas mais altas. Estações de esqui nas zonas inferiores estão ameaçadas de falência. Alguns resorts até cobrem a neve com material reflexivo durante os meses mais quentes, na tentativa de deter o derretimento.
Foto: picture-alliance/chromorange
Veneza – beleza submersa?
A italiana Veneza é apenas uma entre as cidades ameaçadas de desaparecer com a subida do nível do mar. Ou de se tornar inabitável, devido a inundações e tempestades cada vez mais fortes. O mesmo medo atinge Miami, Nova York, Santo Domingo, Bangkok, Barranquilla, Hong Kong, Cidade de Ho Chi Minh, Palembang, Tóquio, Mumbai, Alexandria, Amsterdã: todas elas correm risco.
Foto: picture-alliance/dpa
Passagem Noroeste
O derretimento das geleiras está permitindo que navios cortem caminho entre a Europa e a Ásia pela historicamente intransitável Passagem Noroeste. Em 2007, a Agência Espacial Europeia anunciou que o trecho estava "inteiramente navegável". Embora ainda não esteja suficientemente livre para navios de carga, os cruzeiros agora já oferecem uma rota antes reservada aos aventureiros e exploradores.
Foto: DW/I.Quaile
Elefantes em perigo
O aumento populacional e as mudanças climáticas afetam os animais. Eles lutam para se ajustar às secas cada vez mais frequentes e intensas, ondas de calor, tempestades e o aumento do nível do mar. A organização de proteção ambiental WWF incluiu o elefante africano na lista das espécies e lugares atingidas pelas mudanças climáticas, juntamente com as tartarugas, tigres, golfinhos e baleias.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca californiana
As mudanças climáticas são claramente visíveis no estado americano da Califórnia, que é afetado por fortes períodos de seca. Os últimos três anos foram os mais quentes de todos os tempos. Quem quiser passear pelas plantações de amêndoas na Califórnia, as de café no Brasil ou os campos de arroz no Vietnã, é agora ou nunca.
Foto: Reuters/L. Nicholson
Escalando as últimas geleiras
A lista do Patrimônio Mundial da Humanidade inclui numerosas belezas naturais, mas com um aquecimento global de 3°C, 136 dessas 700 maravilhas serão afetadas. Entre elas o Glacier National Park, nos EUA, onde os efeitos das mudanças climáticas estão sendo estudados. Das 150 geleiras existentes aqui no século 19, sobravam 24 em 2010. A previsão é que em 2030 o parque estará privado de todas elas.
Foto: gemeinfrei
Mudança climática a domicílio
Se depois de todas essas imagens, você ainda não teve vontade de conhecer nenhum desses lugares, pode ficar onde está. As mudanças climáticas poderão vir bater à sua porta, sem que você sequer precise se levantar do sofá. A Climate Central acredita que mais de 150 milhões de pessoas moram em áreas que serão submersas ou estarão sujeitas a inundações constantes até 2100. Ou mesmo bem antes disso.