Obama obtém apoio necessário para acordo nuclear com Irã
2 de setembro de 2015
Com aprovação de Barbara Mikulski, presidente dos EUA assegura o 34º voto favorável no Senado. Senadora afirma que pacto é "melhor opção disponível para impedir que Teerá tenha uma bomba nuclear".
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conseguiu nesta quarta-feira (02/09) o apoio necessário no Congresso americano para garantir a aprovação do acordo nuclear com o Irã, que precisa ser votada até 17 de setembro. Com o suporte da democrata Barbara Mikulski, o acordo nuclear conquistou o aval de 34 membros do Senado dos EUA (câmara alta do Congresso).
A maioria dos legisladores americanos se opõe ao acordo, que prevê alívios das sanções econômicas contra Teerã em troca de rígido controle sobre o programa nuclear do país. Muitos republicanos advertem que o Irã tentará enganar as potências mundiais e elaborar uma maneira alternativa para concluir a construção de uma bomba atômica.
Caso o Congresso dos EUA vote a favor de uma resolução que desaprova o acordo acertado entre Teerã e o chamado Grupo 5+1 – formado por EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha –, Obama fará uso do veto presidencial. E para invalidar o veto do presidente, seria necessária uma maioria de dois terço no Senado e na Câmara dos Representantes.
Com o anúncio de Mikulski, senadora de Maryland, o acordo nuclear detém agora o apoio do número suficiente de legisladores no Senado para sustentar o veto de Obama.
"Perguntei quais seriam as alternativas eficazes e viáveis se rejeitássemos o acordo. Considerei as alternativas cuidadosamente", disse Mukulski. "Mas no final, eles não apresentaram uma opção mais viável para o acordo." As alternativas seriam mais sanções ou ação militar, disse a senadora.
"Não está claro se União Europeia, Rússia, China, Índia e outros [países] manteriam suas sanções se o Congresso [americano] rejeitasse o acordo", comentou Mukulski. "Na melhor das hipóteses, as sanções seriam porosas ou limitadas a sanções unilaterais pelos EUA."
Mikulski afirmou que o acordo nuclear é a melhor forma de conter as ambições nucleares do Irã, desde que os interesses de Israel sejam mantidos. "Nenhum acordo é perfeito, especialmente numa negociação com o regime iraniano. Cheguei à conclusão de que este Plano de Ação Conjunta é a melhor opção disponível para impedir que o Irã tenha uma bomba nuclear", disse. "Por esses motivos, vou votar a favor deste acordo", confirmou a senadora, em comunicado.
A Casa Branca visa agora alcançar outra marca importante no Senado: caso 41 senadores apoiem Obama, os republicanos não teriam os 60 votos necessários para avançar a resolução que desaprova o acordo. Isso pouparia o presidente americano do passo embaraçoso de remendar uma coalizão minoritária para um veto favorável ao acordo nuclear. O processo semearia dúvidas entre a já cética população americana e parceiros internacionais, que estão ansiosos para ver quão forte é o comprometimento dos EUA com o acordo nuclear com Teerã.
PV/afp/dpa/ap/rtr
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.