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Economia americana se importa com quem seja o presidente?

Timothy Rooks | Rodrigo Menegat Schuinski
23 de outubro de 2024

Análise dos anos Obama, Trump e Biden indica desempenho econômico excelente, comparado a outros países. A crise da covid-19 foi superada, criaram-se milhões de empregos. Fatores diversos ditam o resultado das urnas.

O presidente americano, Joe Biden, discursa em fábrica da General Motors em Detroit
O presidente americano Joe Biden, que encerra seu mandato neste ano: independente de quem comandou a Casa Branca, economia dos EUA manteve-se líder mundial em meio a altos e baixosFoto: Dominick Sokotoff/ZUMA Wire/IMAGO

As eleições presidenciais e nacionais dos Estados Unidos demandam bastante tempo, engajamento e dinheiro, e 2024 não é exceção. 

Apesar disso, a economia do país não parece fazer distinção entre democratas e republicanos. Uma análise de dados de 2009 sugere que, independente de quem estivesse no poder, a economia foi determinada tanto por decisões tomadas na Casa Branca quanto por eventos globais e processos demográficos.

O período de 2009 a 2024 abarca tanto os dois mandatos de Barack Obama como os de Donald Trump e de Joe Biden, o qual chega agora ao fim.

Nestes 15 anos, houve dois fatores disruptivos para a economia: a crise financeira iniciada antes da era Obama e a pandemia de covid-19, durante o governo Trump.

A crise financeira fez muitos temerem o colapso de todo o sistema bancário. Logo em seguida, as montadoras GM e Chrysler declararam falência, com o fim de se reorganizar; e o mercado imobiliário, especificamente as hipotecas, estava saindo de controle.

A pandemia de covid-19 teve um impacto mais imediato nas economias americana e global. Medidas de confinamento e escassez de bens, devido à fragilidade das cadeias de abastecimento e ao fechamento de fronteiras, causaram caos, desemprego em massa e mortes.

Em parte graças a subsídios significativos, os EUA conseguiram sair rapidamente da depressão pandêmica, retomando onde a economia estagnara e criando mecanismos fortes de recuperação.

PIB americano versus outras potências

Um problema ao comparar o impacto de cada presidente e suas políticas é a defasagem até estas começarem a fazer efeito. Investir em infraestrutura ou na fabricação de chips é necessário, mas os benefícios só vão ser sentidos muito mais tarde. Policiar a fronteira com o México pode afastar alguns migrantes, mas o impacto da perda de mão de obra leva algum tempo para se refletir nos preços nos supermercados.

Outro problema é avaliar o impacto dos presidentes isoladamente das decisões tomadas em conjunto com o Congresso ou instituições independentes, como o Federal Reserve (o banco central americano).

Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita americano era superior a 81 mil dólares (R$ 461 mil) por ano. Desde 1990, ele cresceu a cada ano, exceto em 2009, como mais um efeito secundário da crise financeira. Em 2023, o PIB total foi de espantosos 27,36 trilhões de dólares, tornando os EUA, de longe, a maior economia do mundo. A China vinha num distante segundo lugar, com 17,66 trilhões de dólares, seguida pela Alemanha e o Japão.

O PIB per capita dos EUA é três vezes maior do que o da China e oito vezes do que o da Índia. Mas ambas as potências vêm ganhando terreno, com esse índice crescendo num ritmo superior ao americano.

Desemprego moderado

Nos primeiros meses da presidência Obama, o desemprego cresceu, devido à crise financeira: de abril de 2009 a setembro de 2011, chegou a superar os 9%. Em seguida, caiu lentamente, até atingir o nível mais baixo desde a década de 1960. Até que um breve pico durante a pandemia de covid-19 deixou muitos sem trabalho. Em 2024, o desemprego tem se mantido na faixa dos 4%.

Em compensação, os assalariados americanos mostram-se mais produtivos do que os de outros países, em termos de inovação, investimento em pesquisa e desenvolvimento, e da disposição de mudar de emprego ou de endereço.

Desigualdade salarial cresce

Os EUA são o país-membro do G7 mais desigual em termos de remuneração, e essa desigualdade vem aumentando: o 1% dos americanos com salário mais alto detém uma enorme proporção da riqueza nacional. Por definição, nos EUA a categoria é formada pelos que ganham a partir de 1 milhão de dólares por ano, antes da tributação. No Reino Unido, por exemplo, esse 1% mais rico já começa em 250 mil dólares.

Em outubro de 2016, Barack Obama escrevia na revista The Economist que o salário dos diretores de empresas era 250 vezes mais alto do que o do empregado médio. Além disso, em 1979, "as 'top 1%' das famílias americanas recebiam 7% de tudo, descontados os impostos", enquanto "em 2007, essa parcela mais do que dobrara, para 17%". Do lado positivo, caiu o número dos extremamente pobres.

Migração transforma os EUA

Enquanto é difícil aferir os ingressos ilegais nos EUA, um dos indicadores para calcular o volume de imigração é o número de green cards concedidos: entre 2009 e 2022, eles foram 14 milhões.

Nos últimos 50 anos, cresceu consideravelmente a população de origem estrangeira vivendo no país, legal ou ilegalmente, segundo relatório divulgado em abril pelo Departamento do Censo: em 1970, ela somava 9,6 milhões; em 2022, passava de 46 milhões, ou quase 14% da população total.

Dessa percentagem, quase um terço chegou aos EUA depois de 2010, e a metade vive em apenas quatro estados Califórnia, Texas, Flórida e Nova York. Mais da metade dos residentes estrangeiros adotou a cidadania americana.

Alta inflação chega aos EUA

O Índice de Preços ao Consumidor confirma que desde 2009 a inflação disparou nos EUA. Quando Obama assumiu, a taxa estava em zero e entrou no terreno negativo, mas acabou chegando aos 9,1%, em junho de 2022. Em setembro de 2024, ela estava em 2,4%, a cifra mais baixa desde fevereiro de 2021.

Entretanto esse período relativamente breve de pico inflacionário está tendo uma repercussão longa, resultando numa alta considerável do custo de vida para muitos americanos.

Os preços ao consumidor subiram muito, o que desagrada bastante o eleitorado. Trata-se de uma das questões mais importantes em 2024, capaz de decidir o voto nos swing states – os estados em que a opção por democratas ou republicanos não está definida. É também um dos fatores mais difíceis para um presidente controlar.

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