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Objetivos conflitantes dos EUA no Oriente Médio

Michael Knigge (ca)25 de junho de 2014

A viagem do secretário de Estado americano, John Kerry, ao Oriente Médio sinaliza que os EUA continuam comprometidos com a região dividida pela política e a religião. Mas ainda falta uma estratégia regional coerente.

Foto: REUTERS

Quando o assunto é política externa, principalmente das grandes potências, jornalistas, especialistas e a opinião pública parecem sempre pensar que os governos têm um grande plano para lidar com as diferentes regiões do mundo.

E quando os políticos deixam de apresentar o que o ex-presidente dos Estados Unidos George Bush Sênior chamou de "the vision thing" ("a coisa da visão"), geralmente castigados pela mídia e os eleitores por essa omissão. No entanto, o problema com essas grandes estratégias, tão veementemente requisitadas, está na dificuldade de resumir a política externa para uma região como o Oriente Médio num slogan chamativo que seja mais do que um clichê.

A atual presidência americana conhece o assunto de cor e salteado. Desde que, em junho de 2009, Barack Obama fez seu famoso discurso no Cairo com o título "Um recomeço",ele é perseguido pelas expectativas despertadas por aquela viagem ao Oriente Médio.

O discurso focava na exigência de um melhor relacionamento entre o mundo islâmico e o Ocidente, na paz entre Israel e os palestinos e na luta contra o extremismo. Cinco anos mais tarde, a realidade se abate sem piedade, e a política considerada por muitos como a grande estratégia de Obama para o Oriente Médio, desenvolvida em seu discurso no Cairo, sofre um amargo revés.

Estratégia enganosa

"Desde a intervenção do governo Bush no Iraque, não houve mais uma estratégia convincente para o Oriente Médio", afirma Hall Gardner, professor de política internacional na Universidade Americana de Paris. Ele considera as antigas tentativas do governo Obama de reanimar o processo de paz entre Israel e palestinos, recentemente retomadas, como o fundamento de uma estratégia maior para o Oriente Médio.

Presidente da Autoridade Palestina, Abbas, conversa com Obama em WashingtonFoto: Reuters

Como um de suas metas mais importantes, a atual administração pelo menos tentou uma reaproximação ente israelenses e palestinos, prossegue Gardner. Quando essa iniciativa de paz fracassou – o que muitos já previam –, os efeitos negativos afetaram toda a região.

Porém a grande lição que se pode tirar do tão elogiado discurso do Cairo é a enorme facilidade com que grandes estratégias podem fracassar, particularmente no Oriente Médio. Na prática, é impossível condensar numa estratégia unificada essa inconciliável mistura de etnias, nacionalidades e confissões religiosas que caracteriza o Oriente Médio.

Grande plano impossível

Assim, segundo Erwin van Veen, pesquisador do instituto holandês de relações internacionais Clingendael, em Haia, não faz muito sentido exigir de Washington uma estratégia coerente para o Oriente Médio.

"Eu duvido que seja possível", assinala. Em vez disso, seria mais fácil e útil falar dos objetivos da política americana na região. "Acho que eles têm uma série de objetivos muito claros em sua política para o Oriente Médio, e o problema é que alguns deles são muito difíceis de conciliar entre si."

Os quatro principais objetivos políticos na região são: garantir a segurança de Israel; impedir que o Irã tenha acesso a armas nucleares; manter boas relações com as potências regionais Turquia e Arábia Saudita; conter grupos islâmicos radicais. Aliados ao objetivo principal de Obama de evitar uma maior intervenção militar, eles não resultam numa estratégia coerente, mas ao menos dão uma ideia do que Washington pretende no Oriente Médio.

Primeiro-ministro sírio, Wael al-Halaqi, e presidente iraniano, Hassan Rohani, em TeerãFoto: Atta Kenare/AFP/Getty Images

Contudo mesmo essas metas regionais principais se contradizem mutuamente. Com as guerras civis que perduram na Síria e no Iraque, Gardner diz acreditar que os EUA "se encontram num dilema e não sabem o que fazer. Pois existem tantos interesses conflitantes e contraditórios entre os sauditas, os iranianos, o governo iraquiano, o governo sírio e todas as outras forças envolvidas".

"Esses são os dilemas com que [os EUA] se confrontam. E essa é a razão por que a política americana para o Oriente Médio parece tão inconsistente e é tão fácil de criticar", acrescenta Erwin van Veen.

Organizar objetivos por ordem de importância

Como é impossível implementar todos os objetivos, os EUA deveriam estabelecer prioridades em suas principais metas políticas na região. "E, sem dúvida, parece que Washington já está fazendo isso", observa Van Veen.

"É notório que o Irã apoia o regime Assad na Síria com dinheiro, armas e assessores militares. E os EUA parecem não se incomodar com isso. Provavelmente, pelo fato de Washington não querer prejudicar as negociações sobre o programa nuclear iraniano. Já que, quando se faz muita pressão num front, isso vai ter consequências em outro."

Para tornar as coisas ainda mais complexas, Washington não deveria somente ordenar seus objetivos por importância, mas ao mesmo tempo ser flexível o suficiente para adequar suas prioridades às circunstâncias ou, se necessário, mudá-las, de acordo com a situação local.

E é possível que se anuncie o início de uma mudança nas prioridades americanas, se – ao menos por enquanto – ganhar maior importância a luta contra extremistas islâmicos, como o grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).

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