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"A cada dia, peças ficam mais danificadas no Museu Nacional"

25 de setembro de 2018

Após visita ao Rio, especialistas alemães alertam para necessidade de começar logo o trabalho de restauração. Eles dizem que peças consideráveis ainda poderão ser recuperadas, mas que é preciso agir logo.

Fachada do Museu Nacional do Rio de Janeiro após o incêndio: estima-se que 90% do acervo tenha se perdido no incêndio
Fachada do museu: estima-se que 90% do acervo tenha se perdido no incêndioFoto: Imago/Xinhua/L. Ming

O cheiro de queimado a vários metros de distância do Museu Nacional impressionou Ulrich Fischer e Nadine Thiel. Os dois especialistas alemães fizeram parte da missão emergencial da Unesco que foi ao Rio de Janeiro para avaliar as dimensões da tragédia e traçar um plano para restauração do prédio histórico, destruído num incêndio no início deste mês.

Depois de passar uma semana no Rio de Janeiro, Fischer e Thiel ressaltam que o passo mais importante para a restauração do museu no momento é o início imediato do trabalho de busca por objetos que estão entre os escombros.

"A cada dia que passa, os objetos ficam cada vez mais danificados devido ao mofo, à umidade, à chuva e possíveis desabamentos de paredes", afirma Thiel, que é a chefe da equipe de restauração do Arquivo Histórico de Colônia.

Fischer, que é vice-diretor do Arquivo Histórico, destaca que os especialistas brasileiros e funcionários do museu também desejam começar o quanto antes esse trabalho, porém, o prédio segue interditado.

"As altas temperaturas e a grande umidade podem danificar objetos e, quanto mais se demora para tirá-los dos escombros, mais irreparáveis esses danos podem ficar", acrescenta.

Os dois especialistas alemães sabem do que estão falando, pois já tiveram que lidar com um desastre parecido. Em 2009, devido a uma inundação subterrânea no túnel de uma linha de metrô em construção, o Arquivo Histórico de Colônia desabou. Ambos trabalharam na restauração do local e, no Rio de Janeiro, puderam compartilhar a experiência que adquiriram neste trabalho.

Desde o incêndio em 2 de setembro, o que restou do Museu Nacional foi interditado pela Defesa Civil por risco de desabamento e, posteriormente, pela Polícia Federal (PF), à frente das investigações das causas da tragédia.

Ao ser questionada pela DW Brasil, a assessoria de imprensa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que administra o museu, informou que a interdição é coordenada pela PF e destacou que contratou na sexta-feira (21/09) uma empresa para realização de obras de emergência no local. Isso inclui o reforço das estruturas do edifício e instalação de uma cobertura.  A Polícia Federal, no entanto, não quis comentar a interdição e indicar se já há uma data para a liberação do local.

Devido à interdição, os integrantes da missão de emergência da Unesco, inclusive Fischer e Thiel, que retornaram à Alemanha na sexta-feira, não puderam entrar no museu, apenas observar os escombros das janelas e portas. Com base nesta observação, a equipe, junto com especialistas brasileiros, traçou os primeiros planos para o trabalho de busca nos escombros, que pode ter início assim que o edifício for liberado.

Esse trabalho é árduo e extremamente minucioso. A primeira etapa visa a separação do material entre restos do acervo e de estrutura do prédio.  Essas peças deverão ser guardadas em locais adequados para evitar deteriorações. A seguir, elas devem ser identificadas e documentadas para o início da restauração.

A recuperação do acervo deve ainda procurar objetos semelhantes aos que foram destruídos em outras coleções pelo mundo para firmar parcerias para empréstimos em futuras exposições.

Além da troca de experiência, os especialistas alemães tentaram ainda levar um pouco de conforto aos brasileiros. "Mesmo quando parece uma grande catástrofe, não podemos perder a esperança de encontrar os objetos nos escombros. Além disso, a ciência da restauração está muito avançada, é possível reconstruir muitas coisas", destaca Thiel.

Estima-se que 90% do acervo do Museu Nacional tenha sido perdido no incêndio. O local abrigava cerca de 20 milhões entre peças e documentos e possuía algumas das coleções mais importantes do continente em diversas áreas. Entre os objetos que se perderam estavam o mais antigo fóssil humano encontrado no país, batizado de Luzia, com cerca de 11 mil anos, artefatos pré-históricos latino-americanos, ossos de dinossauros brasileiros e objetos arqueológicos do Egito.

Os especialistas têm esperança de encontrar parte deste acervo entre os escombros. Fischer conta que os tetos dos andares superiores do prédio colidiram rapidamente devido ao incêndio, o que fez com que os objetos despencassem e isso pode ter contribuído para que o fogo não tenha atingido as camadas inferiores dos escombros, apenas a parte de cima.

"Em Colônia, depois do desabamento, tínhamos tinha certeza de que não conseguiríamos recuperar muita coisa e conseguimos encontrar 95% do material do arquivo. Não acho que no Rio encontrarão 95% do acervo, mas estou otimista que peças consideráveis poderão ser recuperadas", avalia Fischer.

Os próximos passos da cooperação alemã de apoio ao salvamento do que restou do Museu Nacional ainda estão em aberto. De acordo com os dois especialistas, eles manterão o contato com os brasileiros envolvidos nesta missão para ajudá-los, com a experiência adquirida no desastre de Colônia, no que for necessário para a restauração dos objetos.

Além do envio dos especialistas, a Alemanha prometeu liberar uma verba emergencial de até 1 milhão de euros para a reconstrução do Museu Nacional. A ajuda alemã vem também do corpo de bombeiros de Colônia, que pretende entrar em contato com a corporação do Rio para compartilhar conhecimentos obtidos no colapso do Arquivo Histórico.

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