Obra furtada de Picasso é recuperada quase uma década depois
29 de junho de 2021
Quadro "Cabeça de mulher" foi roubado em 2012 da Galeria Nacional de Atenas por suspeito que alegou ser amante da arte. Picasso havia doado pintura à Grécia em reconhecimento à resistência do país à Alemanha nazista.
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Um quadro de Pablo Picasso, que havia sido roubado na Grécia há quase uma década, conseguiu ser recuperado pelas autoridades do país. A obra intitulada Cabeça de mulher – e que havia sido doada pessoalmente pelo artista espanhol ao povo grego em 1949 – foi recuperada em Keratea, uma área rural a cerca de 45 quilômetros a sudeste de Atenas.
"Hoje é um dia especial, um dia de grande alegria e emoção", disse a ministra da Cultura da Grécia, Lina Mendoni, nesta terça-feira (29/06). "Esta pintura é de particular importância e valor sentimental para o povo grego, já que foi pessoalmente dedicada pelo grande pintor ao povo grego em sua luta contra as forças fascistas e nazistas."
O artista espanhol doou a pintura cubista ao Estado grego em reconhecimento à resistência do país à Alemanha nazista durante a ocupação dolorosa entre os anos de 1941 e 1944.
O quadro de Picasso havia sido roubado junto a outras duas obras num assalto audacioso à Galeria Nacional, em Atenas, em janeiro de 2012. A polícia grega comunicou que um homem de 49 anos confessou o crime.
O suspeito disse que inicialmente escondeu as obras em uma casa, mas que as ocultou recentemente numa vegetação densa num desfiladeiro. Segundo relatos da mídia grega, ao ser interrogado pela polícia ele alegou ser um amante da arte e que não tinha a intenção de vender as pinturas.
Fontes policiais citadas pela agência grega de notícias ANA afirmaram que, antes do furto, o ladrão confesso havia monitorado por seis meses as operações de segurança na Galeria Nacional de Atenas, onde está exposta a maior coleção de arte do Estado grego.
O roubo durou apenas sete minutos. Inicialmente, acreditava-se que dois homens haviam invadido a galeria e cortado as pinturas de suas molduras. Mas a polícia afirmou, posteriormente, que o suspeito provavelmente não teve cúmplices.
Uma segunda obra furtada por ele no mesmo dia também foi encontrada: Stammer windmill, do pintor holandês Piet Mondrian. A terceira obra roubada era um esboço do artista italiano Guglielmo Caccia, mais conhecido como Moncalvo, mas foi danificada durante o crime e descartada.
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Segurança falha do museu
Um relatório de investigação concluiu que a segurança da Galeria Nacional não era atualizada por mais de uma década antes do roubo. Várias áreas do museu estavam fora do alcance das câmeras de segurança, enquanto os alarmes estavam com defeitos e propensos a tocar gratuitamente. Além disso, a galeria contava com uma presença reduzida de guardas devido a uma greve de três dias de funcionários.
Na noite do assalto, o ladrão disparou um alarme ao manipular uma porta destrancada para enviar o único guarda para outro lugar do edifício. O guarda relatou à polícia que correu atrás do ladrão, que deixou cair uma quarta obra, uma pintura a óleo de Mondrian.
O roubo na Galeria Nacional ocorreu no auge da crise da dívida grega e foi seguido alguns meses depois por outro roubo de alta complexidade, no qual quase 80 artefatos arqueológicos de um museu dedicado aos Jogos Olímpicos da Antiguidade foram levados na cidade de Olímpia. Esses itens foram recuperados vários meses depois.
A Galeria Nacional de Atenas possui uma coleção proeminente de arte grega pós-bizantina, assim como uma pequena coleção de obras renascentistas e algumas pinturas do artista El Greco, nascido na Grécia, mas que desenvolveu a maior parte de sua carreira na Espanha.
pv/ek (AFP, ots)
Picasso e a Segunda Guerra Mundial
Mostra "Os Anos da Guerra 1930-1945" foca vida do pintor e relação entre a arte e o conflito mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Rothermel
Mórbida natureza morta
"Não pintei a guerra porque não sou o tipo de pintor que sai como um fotógrafo buscando algo para representar. Mas não tenho dúvidas de que a guerra está nestas pinturas que fiz", disse o espanhol Pablo Picasso após o fim da Segunda Guerra Mundial. Entre 1939 e 1945, Picasso pintou principalmente retratos, nus ou naturezas mortas, como "Três cabeças de ovelha" (1939), adotando tons sombrios.
Foto: Succession Picasso/VG Bild-Kunst, Bonn, 2019, Photographic Archives Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia
Arte degenerada e proibida
Em junho de 1940, os nazistas ocuparam Paris. Picasso, que adotou a cidade como lar em 1904, fugiu para o sul da França após o início da Guerra. Mas, em agosto, voltou para seu estúdio parisiense, apesar da ocupação. Os nazistas o classificaram como artista degenerado e proibiram que expusesse sua arte. Ainda assim, ao contrário de muitos outros, Picasso ficou na França até o fim da Guerra.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
Através do Atlântico
PIcasso requereu a cidadania francesa no início dos anos 1940, mas o pedido foi rejeitado por suas posições políticas: ele era próximo do comunismo. Sem poder exibir sua obra em Paris, o artista foi celebrado em 1939 e 1940 no MoMA, de Nova York, com uma retrospectiva de seus principais trabalhos, incluindo "Guernica", o doloroso tributo às vitimas da Guerra Civil espanhola (1936-1939).
Foto: Imago Images/Zuma/Keystone
Por uma causa
Antes da guerra, Picasso havia tomado um posicionamento político claro e até zombou do ditador Francisco Franco, o retratando como um triste Dom Quixote. Ele doou rendimentos de trabalhos publicados a organizações de ajuda aos refugiados espanhóis e os lucros de exposições ao Partido Republicano de seu país. Seu trabalho durante a 2ª Guerra, como esse pombo de 1942, parecia mais inofensivo.
"Porque você acha que eu dato tudo o que faço? Porque não basta conhecer o trabalho de um artista. Deve-se saber quando foi feito, por que, como, sob quais circunstâncias", explicou Picasso em 1943. "Natureza morta com caveira de boi" foi criada um ano antes. As caveiras, que simbolizam a fugacidade da vida, são motivo recorrente em seu trabalho nos anos da Segunda Guerra.
Foto: Succession Picasso/VG Bild-Kunst, Bonn, 2019, Foto: Walter Klein, Düsseldorf
Arte apolítica?
Os Aliados libertaram Paris em 1944, e Picasso foi celebrado como um sobrevivente. Ele aderiu ao Partido Comunista, mas foi acusado por alguns de seus companheiros de ser artisticamente apolítico. Ele reagiu dizendo que o artista "é um ser político, que vive constantemente alerta perante os dilacerantes, ardentes ou doces acontecimentos do mundo, moldando-se inteiramente às suas imagens".
Foto: picture-alliance/AP Photo/H. Harris
Em tempos de paz
Após a Guerra, Picasso, com frequência, viajava ao sul da França. Em 1945, ele reinventou novamente seu estilo com a reinterpretação de trabalhos de antigos mestres. O artista se manteve politicamente ativo, participando de congressos pela paz, entre outros eventos. Nessa época, ele criou a figura da pomba da paz, que até hoje é reconhecida como símbolo internacional.
Foto: UPI/dpa/picture alliance
Exposição sobre Picasso e a Guerra
"Pablo Picasso: Os anos da Guerra 1939-1945" exibe o homem e o artista num período de ameaças e destruição. A exposição ocorre de 15 de fevereiro a 14 de junho no espaço K20, em Düsselforf, e é uma cooperação da Kunstsammlung da Renânia do Norte-Westfália, do Museu de Grenoble e do Museu Picasso de Paris.