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Obras do polêmico gasoduto Nord Stream 2 são concluídas

10 de setembro de 2021

Controverso megaprojeto que liga Rússia à Alemanha ainda esbarra em entraves técnicos e burocráticos. Moscou deve dobrar exportações diretas de gás natural em detrimento da Ucrânia, que pode perder bilhões em receitas.

O navio russo Fortuna, que trabalhou na construção do gasoduto Nord Stream 2
O navio russo Fortuna, que trabalhou na construção do gasoduto Nord Stream 2Foto: Jens Büttner/dpa-Zentralbild/picture alliance

A estatal russa Gazprom informou nesta quinta-feira (09/09) que concluiu a construção do controverso gasoduto Nord Stream 2, que se estende diretamente da Rússia até a Alemanha, e permitirá a Moscou dobrar as exportações de gás natural através do Mar Báltico.

O consórcio Nord Stream 2 AG, baseado na Suíça, confirmou que completou a soldagem do gasoduto com ajuda de um navio russo, e disse que o objetivo é colocá-lo em operação até o final do ano, Mas, para tal, ainda há uma série de entraves técnicos e burocráticos a serem resolvidos.

O término da megaconstrução, contudo, já significa que a Rússia terá em breve as condições de aumentar o fluxo através dos gasodutos que partem do Mar Báltico, ao norte, e do Mar Negro, ao sul, onde os russos operam o gasoduto TurkStream.

O Nord Stream 2, junto com o primeiro Nord Stream, já em operação, deverá dobrar a capacidade anual de exportação para 110 bilhões de metros cúbicos, o que corresponde a metade das exportações russas de gás para toda a Europa em um ano.

O projeto de 11 bilhões de dólares sofreu atrasos no final de 2019 em razão de sanções impostas pelos Estados Unidos durante o governo do presidente Donald Trump. As obras somente puderam ser retomadas um ano mais tarde.

Washington se posicionou contra o projeto, por avaliar que o novo gasoduto apenas aumentará a dependência da Europa dos recursos energéticos russos. Os americanos, contudo, também tentavam impulsionar as exportações de seu gás natural liquefeito através do mar para a Europa.

A Gazprom é o maior fornecedor de gás para a Europa, e domina mais de um terço do mercado do continente. Com o projeto concluído, a Ucrânia está arrisca a perder bilhões de dólares em receitas, caso a Rússia deixe de transportar o gás através de seu território e cesse o pagamento das taxas de transporte.

Em julho deste ano, Os Estados Unidos e a Alemanha chegaram a um acordo sobre o gasoduto submarino. Ambos os países concordaram em apoiar a Ucrânia e sancionar Moscou se os russos voltarem a usar suprimentos de gás como mecanismo de pressão para obter influência geopolítica sobre a Ucrânia e outros países do Leste Europeu.

Como parte do acordo, a Alemanha concordou em fazer investimentos na Ucrânia e em atuar para que Moscou e Kiev prorroguem um acordo de trânsito de gás. Esse pacto, em torno do pagamento de taxas pelo transporte do gás no território ucraniano, termina em 2024. O presidente russo, Vladmir Putin, já disse que sua extensão vai depender de demonstrações de "boa vontade” por parte dos ucranianos.

Russos e ucranianos travam um duro conflito diplomático, após Moscou ter anexado a Península da Crimeia e apoiado a revolta armada de grupos separatistas ucranianos no leste do país.

Mas, por enquanto, o funcionamento do novo gasoduto ainda esbarra em uma série de questões. Antes de ser aprovado pela Agência Federal de Redes de Energia (Bundesnetzagentur), o órgão regulador da Alemanha, a obra ainda deve cumprir regulamentações europeias que estabelecem que os proprietários do gasoduto sejam diferentes dos fornecedores do gás, de modo a assegurar uma competição justa. 

As empresas parceiras da Gazprom no Ocidente são a Uniper e a Wintershall Dea, na Alemanha, a anglo-holandesa Shell, a OMV da Áustria e, na França, a energética Engie.

A Bundesnetzagentur afirmou que não há prazo previsto para a tomada de decisão, mas ressaltou que tem a prerrogativa de penalizar o consórcio Nord Stream 2 se as operações forem iniciadas sem autorização.

Uma gasoduto controverso

O Nord Stream 2 começou a ser construído em 2011. No início de 2020, antes da pandemia de coronavírus, a previsão era que o projeto fosse concluído até o início de 2021. Crucialmente, o projeto foi iniciado quando a Rússia ainda era membro do G8 (agora novamente G7) e antes da anexação da Crimeia e do conflito na Ucrânia.

Berlim é uma das principais promotoras e financiadoras do projeto, que prevê dobrar a capacidade de importação de gás russo pela nação europeia sem a necessidade de que o combustível passe por nações que mantêm relações tensas com Moscou, como a Ucrânia e a Polônia.

O projeto é na verdade uma ampliação da capacidade do sistema Nord Stream 1, que funciona desde 2011, e que liga a cidade russa Ust-Luga a Greifswald, no leste alemão. As obras do Nord Stream 2, lideradas pela estatal russa Gazprom, são avaliadas em 10,5 bilhões de dólares.

O projeto tem diversos críticos. Os EUA vinham se opondo firmemente à ampliação do gasoduto, argumentando que ele vai aumentar a dependência europeia em relação à Rússia e enfraquecer nações aliadas no leste da Europa, que dependem das taxas de trânsito sobre gás russo que passa por dutos instalados em seus territórios.

Há temor ainda de que com a ampliação da rede submersa Moscou tenha mais espaço para eventualmente pressionar mais facilmente nações que ficam na rota dos velhos gasodutos de superfície, podendo trancar os dutos sem que isso afete seu principal comprador, a Alemanha.

O Nord Stream 2,com 1.200 quilômetros de extensão, se tornou ainda mais estratégico para a Alemanha após Berlim estabelecer um abandono gradual da energia nuclear no país e estabelecer metas para a redução de emissões de CO2 e consumo de carvão. O gás natural produz 50% menos dióxido de carbono do que o carvão.

rc (Reuters) 

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