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Observadores não conseguem deter guerra civil na Síria

27 de maio de 2012

Plano tecido por Kofi Annan para cessar conflitos na Síria ainda não conseguiu acabar com a violência no país. Observadores da ONU não podem fazer nada e não há alternativa realista ao plano de Annan.

Foto: AP

Tropas do governo sírio e combatentes da oposição continuam torturando, assassinando e abusando da violência no país. A cada dia são registrados tiroteios, bombardeios e atentados.

Um ataque com tanques de guerra a prédios residenciais em Hula, a noroeste de Horms, centro dos protestos, morreram mais de 90 pessoas entre sexta-feira (25/05) e sábado (26/05), entre elas 32 crianças. Segundo informações fornecidas por ativistas, tropas do regime Assad atacaram a localidade de Taldo com canhões e morteiros.

Mais de 90 mortos em consequência dos conflitos em HulaFoto: Reuters

A trégua, prevista pelo plano de Annan e teoricamente em vigor desde abril último, definitivamente só existe no papel. Cada vez mais combatentes da oposição estão se armando. Em uma declaração, o Exército Sírio Livre exigiu da ONU que acabe imediatamente com o conflito. Caso contrário, também não iria mais respeitar a trégua.

Uma comissão de inquérito da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas já temia, antes dos recentes acontecimentos, uma "militarização crescente" do conflito. Tendo em vista os terríveis massacres desde o início dos protestos no país, o major-general Robert Mood, coordenador da missão dos observadores da ONU na Síria, fala de uma "tragédia brutal".

300 observadores para todo o país

Em meados de maio, Mood havia se pronunciado com otimismo sobre a missão, prevendo um "apaziguamento imediato da situação" após a chegada dos observadores. Hoje, 260 já estão no país. A Alemanha também pretende participar da missão, com o envio de até 10 militares.

Robert Mood, coordenador da missão dos observadores da ONU na SíriaFoto: REUTERS

A tropa desarmada da ONU tem por função fiscalizar a implementação do Plano de Seis Pontos desenvolvido por Kofi Annan e pela Liga Árabe para a Síria. O plano prevê a retomada do diálogo político, o acesso ao país a ajuda humanitária, a libertação de presos políticos, a liberdade de ir e vir para jornalistas, bem como a liberdade de reunião e manifestação para a população em geral. Até agora, o regime não respeitou ainda de fato estas exigências, diz Corina Hauswedell, do Centro Internacional de Conversão, sediado em Bonn.

O presidente sírio, Bashar al Assad, queria, pelo que tudo indica, apenas ganhar tempo. Seu "sim" ao plano de Annan diminuiu, pelo menos a princípio, a pressão internacional sobre Damasco. Para pôr realmente um fim no conflito, Assad teria, contudo, que renunciar ou pelo menos entregar parte do poder à oposição.

Guerra civil assola o paísFoto: Reuters

"Mas isso certamente não está nos planos do regime", analisa Hauswedell. Em vez disso, as tropas do governo continuam atacando com intensa brutalidade oposicionistas e manifestantes, como pôde ser observado no massacre em Hula.

Maior pressão sobre o regime

Rolf Mützenich, porta-voz para questões de política externa da bancada do Partido Social Democrata (SPD), na Alemanha, também duvida da disposição de Assad em selar acordos. Por isso, diz ele, a pressão sobre o governo deveria aumentar: "Eu desejaria que o Conselho de Segurança da ONU optasse por uma resolução, a fim de exercer maior pressão sobre o regime", diz Mützenich. No entanto, o Conselho encontra-se dividido, pois a China e a Rússia, países com poder de veto, defenderam o regime de Assad nos últimos meses, impedindo desta forma uma postura mais rígida contra a Síria.

Diante das complexas relações de poder dentro do Conselho de Segurança da ONU, alguns oposicionistas sírios pleiteiam um ataque militar ao país sem a aprovação do grêmio. Mützenich, por sua vez, rejeita esta possibilidade: "Ações unilaterais, levadas a cabo sem a legitimação do Direito internacional, não vão de forma alguma solucionar a situação", diz o político. E o governo alemão defende uma postura semelhante. De qualquer forma, há, no momento, pouca disposição internacional no que diz respeito a uma intervenção militar na Síria.

"Não" ao fornecimento de armas para a oposição

A pesquisadora Hauswedell também rejeita o fornecimento de armas para a oposição. "Acreditamos que esta seja uma política kamikaze, também no sentido de uma regulamentação pacífica". Já agora países da região do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos apoiam a oposição financeiramente. Teoricamente, o dinheiro é destinado ao pagamento do soldo dos rebeldes. No entanto, não se pode afirmar com segurança que esses recursos não estejam sendo de forma alguma destinados à compra de armas.

ONU aponta saldo de 10 mil mortos desde início dos protestosFoto: Reuters

Corinna Hauswedell acha que ainda está muito cedo para abdicar do plano de Annan. "Não há, no momento, nenhum outro caminho viável", diz ela. Mützenich também acredita que é preciso manter os pés no chão. "Este é, no momento, o único plano no qual a comunidade internacional pelo menos tenta ir adiante. Infelizmente precisamos nos contentar com aquilo que está sendo viável no cenário internacional", completa Mützenich.

Segundo ele, é preciso esperar para ver como a situação se desenvolverá depois que a missão estiver completa, com seus 300 observadores no país.

Mas uma coisa está clara para o major-general Robert Mood, diretor da missão de observadores da ONU na Síria: "Se os lados envolvidos no conflito não quiserem dar de fato uma chance para o diálogo, nós observadores não teremos como acabar com a violência a longo prazo, não importa quantos sejamos", conclui.

Autor: Nils Naumann (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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