Oceano líquido descoberto sob a superfície de Marte
Matthew Ward Agius
13 de agosto de 2024
Análise de dados sísmicos coletados por sonda InSight da Nasa sugere a presença de um enorme depósito hídrico. Um indício de que há vida no Planeta Vermelho?
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Marte possui um gigantesco oceano de água líquida, segundo uma nova análise de dados da sonda InSight Lander, da agência espacial americana Nasa. Hoje aposentado, o dispositivo foi lançado em 2018 com a missão de registrar atividade sísmica no planeta, e logo detectou que ele continua "vivo".
A nova análise é mais um indício de que a água nem se vaporizou quando Marte perdeu sua atmosfera, bilhões de anos atrás, nem está confinada às calotas polares de gelo. Acessar essa água, porém, é praticamente impossível: em vez de estar num oceano de superfície, ela se distribui por camadas rochosas, a partir de, pelo menos, 11 quilômetros abaixo da crosta.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia San Diego e Berkeley calculam que há suficiente líquido para criar um oceano de dois quilômetros de profundidade por todo o planeta. Entretanto, como não existe na Terra uma furadeira capaz de penetrar tão fundo, é improvável que isso seja praticável no Planeta Vermelho.
Rochas, água e a velocidade do som
Na ausência de tecnologia para perfurar o manto marciano, para determinar a composição da crosta e o material contido nela os cientistas analisaram os dados sísmicos disponíveis, coletados pela sonda InSight nos quatro anos de sua missão, até dezembro de 2022.
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Entre esses dados, estavam registros de "martemotos" (marsquakes) e impactos de meteoros, causando movimentos de superfície, e a sonda documentou a velocidade com que as ondas sísmicas avançavam durante esses eventos. Foram utilizados modelos físicos de rochas para calcular as propriedades da crosta marciana quando essas ondas de alta velocidade a atravessavam.
"A meta é conectar o que está dentro da rocha à velocidade do som", explica o geofísico Vashan Wright, da Instituição Scripps de Oceanografia da Universidade de San Diego, que coordenou a análise. "Quanto mais densa a rocha, maior a velocidade a que viaja o som: se há água líquida, ela sobe, se há uma rachadura, ela cai."
Em vez de partir da expectativa de encontrar água abaixo da superfície, Wright e seus colegas adotaram uma abordagem "agnóstica" em sua investigação: eles contavam encontrar tudo, de 0% a 100% de água, ou mesmo líquido distribuído entre as camadas da crosta.
Os dados da InSight sugerem que, num passado remoto, toda a água de Marte se deslocou para o subsolo, formando um aquífero semelhante às águas subterrâneas da Terra. "Há questões profundas e de longa data em Marte que este estudo nos ajuda a responder. Ele nos dá pistas sobre um ciclo hídrico intocado pelos humanos", afirma Wright.
Onde há água, há vida?
O grupo de San Diego-Berkeley não é o primeiro a constatar o potencial de água líquida no Planeta Vermelho. Em 2022, pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) usaram a nave Mars Reconnaissance Orbiter para analisar os depósitos de sal na superfície marciana, a fim de calcular quanta água persistira até 2 bilhões de anos atrás.
Estudos da calota polar norte também sugeriram presença hídrica sob a superfície congelada. Contudo uma pesquisa recente descartou essas conclusões, como uma possível interpretação equivocada de dados de radar. Uma década atrás, porém, pesquisas da Nasa mostraram que água talvez flua ocasionalmente na superfície de Marte.
Tudo isso é estimulante para os cientistas que ainda buscam indícios de vida em Marte: assim como na Terra, água líquida é considerada um ingrediente indispensável para que a vida se desenvolva.
"Parece que a água é essencial à vida", observa Wright. "O que sabemos sobre a água em profundidade é que na Terra temos vida resistindo a condições bem mais extremas do que na superfície. Encontrar água nas profundezas não significa que haja vida, mas que a possibilidade existe."
Vinte anos de exploração de Marte
Em 1997, a sonda Pathfinder conseguiu transportar o rover Sojourner, primeiro veículo motorizado a passear sobre o planeta vermelho. Duas décadas depois, robôs modernos da Nasa exploram a superfície marciana.
Foto: NASA/JPL
Primeiro veículo em Marte
Em 4 de julho de 1997, chegou a hora: o rover da Nasa Mars Sojourner percorreu os primeiros centímetros sobre o planeta vermelho. Foi a primeira vez que um robô móvel se movimentou quase de forma autônoma sobre Marte. Ele estava equipado com câmeras ópticas e um espectrômetro de raios-X para análise química do solo.
Foto: NASA/JPL
Sempre perto da nave-mãe
Aqui se vê a sonda Pathfinder. Ela conseguiu assentar o Sojourner de forma segura na superfície de Marte – amortecido por airbags espalhados pelo solo. Depois do início da rolagem, o robô pôde até mesmo medir a abrasão de suas rodas. Isso foi importante para a preparação de outras missões com Mars Rovers, veículos exploradores de Marte.
Foto: NASA/JPL
Quase quatro meses em ação
O robô Sojourner permaneceu em atividade até 27 de setembro de 1997. Em seu tempo de vida, ele percorreu cerca de cem metros. Aqui é uma das últimas fotos que a sonda Pathfinder fez de seu acompanhante – nove dias antes de a comunicação ser interrompida. Provavelmente, a bateria não suportou as baixas temperaturas noturnas.
Foto: NASA/JPL
Um nanico e seus grandes sucessores
Esta foto mostra funcionários da NASA junto a maquetes de três gerações de Mars Rovers. O pequeno, à frente, é o Sojourner – com 10,6 kg, ele não era maior que um carro de brinquedo, sua velocidade: 1 cm/s. Já os 185 kg do Opportunity equivalem a mais que uma cadeira de rodas elétrica. Com 900 kg, o Curiosity corresponde ao peso de um carro pequeno. A velocidade dos dois maiores chega a 5 cm/s.
Foto: NASA/JPL-Caltech
Tecnologia pioneira
Sem a experiência com o rover Sojourner, as três missões seguintes de exploração de Marte teriam sido impensáveis. Em 2004, a Nasa enviou dois robôs idênticos: Spirit conseguiu durar sete anos e percorreu 7,7 quilômetros. O veículo superou montanhas, recolheu amostras do solo e sobreviveu ao inverno e a tempestades de areia. Opportunity está até hoje em atividade.
Foto: picture alliance/dpa
Aperfeiçoamentos técnicos
Já em 2015, o Opportunity conseguiu percorrer a distância de uma maratona: 42 km. O robô possui um braço mecânico que lhe permite recolher amostras do solo, além de três diferentes espectrômetros e câmeras 3D. Atualmente, ele se encontra no Perseverance Valley, ou Vale da Perseverança. Depois de mais de 13 anos, também o próprio robô tem provado ser muito persistente e perseverante.
Foto: picture-alliance/dpa
Robô gigante
Curiosity é o maior e mais moderno de todos os Mars Rovers. Ele pousou em 6 de agosto de 2012 no planeta vermelho. Desde então, percorreu 17 quilômetros e ainda continua em forma. Uma bateria de isótopo radioativo lhe garante a energia, que praticamente nunca vai se esgotar. Também chamado de "Laboratório de Ciência de Marte", o Curiosity é um laboratório científico sobre rodas.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa/Jpl-Caltech/Msss
Interior impressionante
O Curiosity possui espectrômetros especiais que, com o uso de laser, podem analisar amostras a distância. Uma estação meteorológica integrada mede, além da temperatura, também pressão atmosférica, umidade, radiação e velocidade do vento. Além disso, o robô possui uma unidade de análise para a determinação de compostos orgânicos – sempre em busca de vida extraterrestre.
Foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS
Além da superfície
O braço do Curiosity está equipado com uma verdadeira broca. Na foto, pode-se ver o robô recolhendo uma amostra na cratera Gale.
Foto: NASA/JPL-Caltech
No laboratório
A tecnologia sofisticada do Curiosity permitiu, pela primeira vez, armazenar as amostras recolhidas nos mais diversos aparelhos de análise científica. Primeiro, as partículas passam por um sistema de filtragem. Depois, por meio de vibração, elas são classificadas em diferentes tamanhos e redistribuídas.
Foto: picture alliance/AP Photo/NASA
Paisagens inspiradoras
Estas imagens vão ficar na memória da maioria das pessoas. Esta foto foi tirada pela câmera de mastro da Curiosity. De alguma forma, ela não parece tão incomum e lembra desertos do nosso planeta. Dá vontade de ir lá ou é melhor deixar Marte para os robôs?