Ocidente age para evitar alastramento do conflito em Gaza
7 de janeiro de 2024
Secretário de Estado dos EUA e chefe da diplomacia da UE visitam países na região para tentar impedir que guerra se espalhe para outras partes do Oriente Médio, após agravamento das tensões no Líbano e Cisjordânia.
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Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) deram início a uma nova rodada de esforços diplomáticos para evitar que o conflito na Faixa de Gaza se espalhe pelo Oriente Médio, após o aumento das tensões no Líbano e Cisjordânia e os ataques dos rebeldes iemenitas houti – aliados do Irã – às rotas comerciais do Mar Vermelho.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, iniciou sua quarta viagem à região desde o início do conflito em Gaza que completou três meses neste domingo (07/01).
Depois de passar por Turquia e Grécia, onde conversou com autoridades dos dois governos, o americano se reuniu em Amã com o rei Abdullah da Jordânia. O roteiro de sua viagem inclui também Israel, Cisjordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito.
Blinken quer pressionar as nações da região para que estejam preparadas para ajudar nos esforços de reconstrução, governança e segurança em Gaza. O secretário expressou preocupação com o aumento das tensões entre Israel e o grupo islamista Hisbolá, no Líbano, em meio às agressões dos dois lados da fronteira. "Queremos fazer todo o possível para evitar uma escalação", afirmou.
No encontro com Blinken, o rei Abdullah da Jordânia pediu que Washington use sua influência para pressionar Israel a aceitar um cessar-fogo imediato, alertando sobre possíveis "repercussões catastróficas" da campanha militar israelense no território palestino.
A violência tem aumentado também na Cisjordânia, onde um ataque aéreo israelense matou seis palestinos na cidade de Jenin neste domingo. Um policial de fronteira israelense morreu após a explosão de uma bomba em uma estrada, e um civil israelense foi morto a tiros próximo a Ramallah.
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Diplomata europeu se reúne com Hisbolá
Josep Borrell esteve em Beirute neste sábado, onde conversou com membros do Hisbolá sobre as tensões com Israel. "Concordamos em trabalhar através dos meios diplomáticos para o alívio das tensões e pela estabilidade em longo prazo, que são do interesse de todos", afirmou.
O próximo destino do diplomata europeu será a Arábia Saudita, onde ele discutirá a criação de uma iniciativa conjunta árabe-europeia em busca da paz na região.
Apesar das preocupações globais com a morte e destruição na Faixa de Gaza e da forte pressão internacional por um cessar-fogo, a opinião pública em Israel se mantem favorável à operação militar no enclave palestino, ainda que o apoio ao premiê Benjamin Netanyahu tenha despencado.
Ele não assumiu responsabilidade pelas falhas de segurança no ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro do ano passado, quando mais de 1,2 mil pessoas foram mortas nos ataques terroristas do Hamas em solo israelense. Estima-se que cerca de cem reféns ainda estejam sob domínio dos extremistas.
"A guerra não vai terminar até que nós tenhamos atingido todos os nossos objetivos: a eliminação do Hamas, o retorno de todos os reféns e a garantia de que Gaza não representa mais ameaças a Israel", afirmou o premiê em reunião com seu gabinete neste domingo.
A ofensiva israelense em retaliação os ataques terroristas matou até este domingo 22.835 palestinos, segundo as autoridades de Saúde em Gaza.
rc (Reuters, AFP)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.