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Ocidente condena nova "ameaça nuclear" da Rússia

6 de maio de 2024

Kremlin anuncia exercícios militares com uso de armas nucleares táticas em reação a declarações de líderes ocidentais sobre fortalecer apoio à Ucrânia. EUA e UE condenam atitude "irresponsável" de Vladimir Putin.

Veículo lançador de mísseis táticos russos Iskander
Armas nucleares táticas são menos poderosas do que as ogivas de grande porte que armam os mísseis intercontinentais balísticosFoto: Globallookpresspicture alliance

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta segunda-feira (06/05) a realização de exercícios militares envolvendo, pela primeira vez, armas nucleares táticas, em reação ao que chamou de "declarações provocativas e ameaças vindas de certos líderes ocidentais em relação à Federação Russa".

O anúncio – às vésperas do início do novo mandato de Vladimir Putin na Presidência da Rússia – surgiu como um alerta do Kremlin aos aliados ocidentais da Ucrânia sobre um possível envolvimento militar na guerra travada por Moscou contra Kiev há mais de dois anos. 

Recentemente, alguns dos principais aliados da Ucrânia sinalizaram intenção de aumentar sua atuação no conflito, em meio a preocupações sobre um possível alastramento das tensões para além das fronteiras ucranianas, com um possível envolvimento da Otan.

O presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a afirmar na semana passada que não exclui a possibilidade de enviar tropas à Ucrânia. O ministro do Exterior do Reino Unido, David Cameron, declarou que as forças ucranianas poderão utilizar armamentos britânicos de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia. Outros países da Otan que também fornecem armamentos a Kiev disseram cogitar essa mesma hipótese.

O porta-voz do Kremlin, Dmirty Peskov, afirmou nesta segunda-feira que as declarações de Macron, assim como as de autoridades britânicas e americanas, incitaram Moscou a realizar as manobras militares com armas atômicas. Ele avalia que tais comentários são "uma nova etapa no agravamento" das tensões. "É algo sem precedentes, que exige atenção especial e medidas especiais."

O ex-presidente russo e atual vice-diretor do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, conhecido pelas declarações beligerantes, disse que as falas de Macron e Cameron arriscam deixar o mundo à beira de uma "catástrofe global".

Após o anúncio da Rússia, o Ocidente reagiu, condenando os exercícios nucleares. 

"Assegurar integridade e soberania da Rússia"

A declaração do Ministério da Defesa russo foi divulgada pouco antes do início do quinto mandato de Putin na Presidência e no início de uma semana de comemorações que culminarão com a celebração do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na próxima quinta-feira.

"Durante os exercícios, um conjunto de medidas será realizado para pôr em prática questões de preparação e o uso de armas nucleares não estratégicas", disse em nota o Ministério da Defesa, confirmando a participação da Força Aérea e da Marinha.

Segundo a pasta, as manobras têm como objetivo assegurar a integridade territorial e a soberania da Rússia. Foi a primeira vez que Moscou anunciou exercícios militares envolvendo armas nucleares, ainda que suas forças nucleares estratégicas realizem com regularidade seus próprios exercícios.

As armas nucleares táticas incluem bombas aéreas, ogivas para mísseis de curto alcance e munições de artilharia. Elas são voltadas para o uso nas frentes de batalha, sendo menos poderosas do que as ogivas de grande porte que armam os mísseis intercontinentais balísticos, estes, sim, capazes de destruir cidades inteiras.

O tamanho reduzido desses armamentos nucleares táticos permitem que sejam transportados de maneira discreta em caminhões ou aviões. Ao contrário das armas nucleares estratégicas, as armas táticas não estão sujeitas a tratados internacionais de controle. Não se tem conhecimento sobre quantas armas desse tipo a Rússia possui.

Retórica nuclear de Putin

Desde o início da guerra na Ucrânia, Putin vem enfatizando o potencial nuclear de seu país, em uma tentativa de desencorajar o apoio militar do Ocidente a Kiev.

Míssil nuclear tático russo durante exercício militar realizado em conjunto com BelarusFoto: Viktor Tolochko/Sputnik/dpa/picture alliance

"Acho que nenhuma pessoa em sã consciência e com memória clara poderia ter a ideia de utilizar armas nucleares contra a Rússia", afirmou Putin.

No ano passado, a Rússia enviou algumas de suas armas nucleares táticas para Belarus, país vizinho à Ucrânia e aos Estados-membros da Otan Polônia, Letônia e Lituânia. Putin e o líder belarusso, Alexander Lukashenko , disseram que a medida tem como objetivo impor uma contrapartida às ameaças ocidentais.

As armas nucleares russas em Belarus – cuja fronteira com a Ucrânia tem extensão de 1.084 quilômetros – poderiam permitir que o arsenal russo atinja potenciais alvos ocidentais com facilidade e em velocidades ainda maiores, além de aumentar a capacidade de alcançar vários países da Otan no leste e no centro da Europa.

Ocidente condena "irresponsabilidade" russa

Os Estados Unidos criticaram o fato de Putin ordenar exercícios nucleares próximos à Ucrânia. "Este é um exemplo do tipo de retórica irresponsável que víamos da Rússia no passado. É completamente inadequado, dada a atual situação de segurança", afirmou o porta-voz do Pentágono, o major-general Pat Ryder. "Não vimos nenhuma mudança na postura de sua força estratégica", disse, acrescentando que Washington continuará a monitorar a situação.

A União Europeia (UE) criticou os exercícios militares russos, dizendo se tratar de "bravatas" e da "continuação do comportamento irresponsável da Rússia". Em Bruxelas, um porta-voz do chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que a medida é "mais uma prova de que o Kremlin somente se interessa em uma nova escalada da situação, que foi causada por sua agressão ilegal à Ucrânia".  

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou após se reunir com Macron e o presidente da China, Xi Jinping, em Paris, que o líder chinês "desempenha papel importante no atenuamento das ameaças nucleares irresponsáveis da Rússia". "Tenho confiança de que o presidente Xi continuará a fazê-lo", acrescentou.

rc/le (Reuters, AFP, AP, DPA)

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