Ocidente em alerta diante do Dia da Vitória na Rússia
5 de maio de 2022
Data marca a capitulação das forças nazistas perante as tropas soviéticas em 1945 e, anualmente, conta com tradicional parada militar em Moscou. Neste ano, guerra na Ucrânia deve ser foco das celebrações.
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O Ocidente está em alerta diante do Dia da Vitória na Rússia, comemorado em 9 de maio, que marca o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do regime nazista pela União Soviética. Há rumores de que Moscou pretende declarar oficialmente guerra à Ucrânia, apesar da negativa do Kremlin, e planeja uma parada militar em Mariupol.
As comemorações da data com uma parada militar na Praça Vermelha de Moscou assumem um simbolismo particular neste ano. Com a guerra na Ucrânia, menos tanques e equipamentos militares devem participar do evento tradicional. O fervor patriótico, porém, deve ser o mesmo de sempre. Em 2022, o Dia da Vitória não homenageará apenas o conflito que terminou há 77 anos. Muitos russos estarão pensando nas tropas que lutam no país vizinho, e a invasão da Ucrânia não deve passar em branco pelo governo russo.
Nas últimas semanas, os serviços secretos de vários países do Ocidente indicaram que o Kremlin gostaria de celebrar o 9 de maio com uma importante vitória na guerra na Ucrânia. Após uma tentativa fracassada de invadir Kiev e outras grandes cidades no norte ucraniano, o governo russo mudou o foco do conflito, deslocando as tropas para a região de Donbass, onde rebeldes separatistas pró-Rússia lutam contra militares da Ucrânia desde 2014 – conflito que eclodiu após a anexação da Crimeia por Moscou.
Contudo, nos últimos dias, as autoridades russas têm esvaziado as expectativas sobre um grande sucesso militar até o Dia da Vitória, embora não abdiquem de celebrar a data com a pompa e circunstância de outros anos – com a tradicional parada militar em Moscou para expor o poderio militar. Até mesmo durante a pandemia, os festejos não foram cancelados, apenas adiados.
O Kremlin tem se recusado a chamar a ofensiva na Ucrânia de guerra e usa o termo "operação militar especial", alegando que ela foi necessária para defender falantes de russo na região. Políticos ocidentais e observadores acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, usará a data para declarar oficialmente guerra ao país vizinho e reforçar o compromisso nacional da Rússia com a invasão.
Moscou negou nesta quarta-feira (04/05) essa intenção. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou ainda ser um absurdo as especulações sobre a decisão de uma mobilização nacional.
Dia da Vitória
O 9 de maio é um dos feriados mais importante da Rússia e comemora o enorme esforço soviético para derrotar a Alemanha nazista. Estima-se que 27 milhões de cidadãos soviéticos foram mortos na Segunda Guerra Mundial. O conflito devastou várias regiões da União Soviética, causou um grande sofrimento e deixou uma profunda cicatriz na psique nacional.
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Em 8 de maio de 1945, os Aliados derrotaram o regime nazista, marcando o final da Segunda Guerra Mundial. Nos países sob influência da antiga União Soviética, a partir de 1967, o Dia da Vitória começou a ser comemorado em 9 de maio, data da capitulação das forças nazistas ante as tropas soviéticas, e passou a ser considerado um feriado. A maior parte dos países europeus ocidentais celebra o Dia da Vitória em 8 de maio.
A celebração tem sido usada por políticos e pelo Kremlin para encorajar o orgulho patriótico e sublinhar o papel da Rússia como potência global. Em anos anteriores, Putin aproveitou a data para incitar o Ocidente e mostrar o poder de fogo das tropas russas. Tanques, jatos de combates e mísseis balísticos intercontinentais que carregam ogivas nucleares são exibidos na parada militar em Moscou.
Neste ano, Putin prometeu uma parada com mais de 10 mil soldados, 62 aviões de combate e 15 helicópteros de guerra. Durante a cerimônia, oito aviões de caça Mig-29 devem escrever no céu a letra Z, símbolo adotado pelos apoiadores da invasão russa da Ucrânia. Vários analistas afirmam que Putin deve ainda aproveitar a ocasião para reforçar a sua narrativa de líder que foi obrigado a se envolver numa guerra para proteger os interesses da população de língua russa.
Parada militar em Mariupol
O Dia da Vitória é celebrado pela maioria das repúblicas que pertenceram à União Soviética, bem como vários países que estiveram sob a sua influência. Neste ano, por causa da guerra na Ucrânia, vários países planejam celebrações mais modestas e discretas.
Uma parada militar russa estaria sendo organizada em Mariupol, segundo a Ucrânia. De acordo com o Serviço de Informações Militar ucraniano, o diretor-adjunto da administração presidencial russa Serguei Kirienko está na cidade para preparar o desfile.
Em comunicado, autoridades ucranianas afirmam que a cidade será um dos centros das celebrações. "As principais avenidas são urgentemente limpas, detritos e corpos dos mortos, bem como munições que não explodiram, serão removidos." Os espectadores russos verão relatos sobre a "alegria" dos residentes de Mariupol quando os russos chegaram à sua cidade, acrescenta o texto.
Segundo o serviço ucraniano, "está em curso uma campanha de propaganda em larga escala" entre a população da cidade, agora estimada pelas autoridades entre 100 mil e 120 mil habitantes, contra quase meio milhão antes da guerra.
Situada no mar de Azov, Mariupol é um dos principais objetivos dos russos no esforço para obter controle total da região de Donbass e formar um corredor terrestre, no leste da Ucrânia, a partir da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. A cidade está quase inteiramente sob o controle do exército russo. Só o enorme complexo metalúrgico Azovstal, onde estão entrincheirados os últimos combatentes ucranianos e alguns civis, ainda não foi completamente tomado pelas forças de Moscou.
cn/ek (AP, Reuters, Lusa)
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.